Seca. No país onde nada se decide há uma eternidade


Mas estamos em Portugal, e neste caso, como em tantos outros, parece que a discussão anda à volta de um jogo de futebol, onde o fanatismo se impõe. Como disse, atendendo ao que li e estudei sobre a falta de água, parece que será inevitável a reutilização da água de consumo doméstico, além da dessalinização


Não sendo especialista em seca, de nenhuma espécie, diga-se, tenho algumas ideias genéricas, até pelos diferentes trabalhos que fui lendo ao longo dos anos e pelas inúmeras reportagens televisivas que vi sobre exemplos como Israel, Holanda ou Singapura.

Mas estamos em Portugal, e neste caso, como em tantos outros, parece que a discussão anda à volta de um jogo de futebol, onde o fanatismo se impõe. Como disse, atendendo ao que li e estudei sobre a falta de água, parece que será inevitável a reutilização da água de consumo doméstico, além da dessalinização. Estes dois dados são consensuais, penso… Já tudo o resto é uma enorme confusão, o que leva Luís Mira, secretário-geral da Confederação de Agricultores de Portugal, a dizer que o problema da seca é semelhante ao do aeroporto. “[A seca] é como se fosse uma espécie de aeroporto da água, em que nunca se toma decisões”, diz em entrevista ao i. Devem ou não ser construídas mais barragens? Deve ou não apostar-se numa política de transvases, transportando a água onde há em abundância para os locais onde há pouca? Aqui as vozes exaltam-se e os defensores são atropelados pelos opositores. Deve ou não apostar-se em aproveitar as águas das chuvas, fazendo charcas, por exemplo? Também aqui as opiniões divergem muito. Deve ou não aproveitar-se melhor a água que está no subsolo? A resposta é idêntica.

Mas para que tudo não fique na mesma é preciso tomar uma decisão, pois o que for decidido ainda levará alguns anos a ser concretizado.

Depois há a questão do uso da água. Deve apostar-se em campos de golfe ou na agricultura? Deve ou não proibir-se a construção de piscinas, como parece que está ser feito em França? Reúnam-se os melhores técnicos na matéria e tomem-se as decisões que são inadiáveis.

P. S. Há uns anos fui cozinhar a casa de um amigo que vivia num condomínio de luxo em Luanda, leia-se contentor, e ele ficou maluco com a água que eu estava a gastar para lavar os ingredientes. A minha perceção sobre o uso da água mudou radicalmente desde que estive em África e hoje não lavo os dentes ou faço a barba com a água a correr. E no banho, seja em casa ou num hotel, aprendi a não deixar a torneira sempre aberta. Seja qual for a decisão que o Governo tome para ‘contrariar’ a seca, deve apostar em grandes campanhas de sensibilização para as pessoas não se esquecerem que a água potável tem um fim.

Seca. No país onde nada se decide há uma eternidade


Mas estamos em Portugal, e neste caso, como em tantos outros, parece que a discussão anda à volta de um jogo de futebol, onde o fanatismo se impõe. Como disse, atendendo ao que li e estudei sobre a falta de água, parece que será inevitável a reutilização da água de consumo doméstico, além da dessalinização


Não sendo especialista em seca, de nenhuma espécie, diga-se, tenho algumas ideias genéricas, até pelos diferentes trabalhos que fui lendo ao longo dos anos e pelas inúmeras reportagens televisivas que vi sobre exemplos como Israel, Holanda ou Singapura.

Mas estamos em Portugal, e neste caso, como em tantos outros, parece que a discussão anda à volta de um jogo de futebol, onde o fanatismo se impõe. Como disse, atendendo ao que li e estudei sobre a falta de água, parece que será inevitável a reutilização da água de consumo doméstico, além da dessalinização. Estes dois dados são consensuais, penso… Já tudo o resto é uma enorme confusão, o que leva Luís Mira, secretário-geral da Confederação de Agricultores de Portugal, a dizer que o problema da seca é semelhante ao do aeroporto. “[A seca] é como se fosse uma espécie de aeroporto da água, em que nunca se toma decisões”, diz em entrevista ao i. Devem ou não ser construídas mais barragens? Deve ou não apostar-se numa política de transvases, transportando a água onde há em abundância para os locais onde há pouca? Aqui as vozes exaltam-se e os defensores são atropelados pelos opositores. Deve ou não apostar-se em aproveitar as águas das chuvas, fazendo charcas, por exemplo? Também aqui as opiniões divergem muito. Deve ou não aproveitar-se melhor a água que está no subsolo? A resposta é idêntica.

Mas para que tudo não fique na mesma é preciso tomar uma decisão, pois o que for decidido ainda levará alguns anos a ser concretizado.

Depois há a questão do uso da água. Deve apostar-se em campos de golfe ou na agricultura? Deve ou não proibir-se a construção de piscinas, como parece que está ser feito em França? Reúnam-se os melhores técnicos na matéria e tomem-se as decisões que são inadiáveis.

P. S. Há uns anos fui cozinhar a casa de um amigo que vivia num condomínio de luxo em Luanda, leia-se contentor, e ele ficou maluco com a água que eu estava a gastar para lavar os ingredientes. A minha perceção sobre o uso da água mudou radicalmente desde que estive em África e hoje não lavo os dentes ou faço a barba com a água a correr. E no banho, seja em casa ou num hotel, aprendi a não deixar a torneira sempre aberta. Seja qual for a decisão que o Governo tome para ‘contrariar’ a seca, deve apostar em grandes campanhas de sensibilização para as pessoas não se esquecerem que a água potável tem um fim.