Nuno Melo promove pazes entre Monteiro e Portas

Nuno Melo promove pazes entre Monteiro e Portas


Terça-feira apertam a mão em público, mas já  selaram as pazes à mesa com o patrocínio de Nuno Melo. Os dois estão ativamente empenhados em salvar o CDS.


Por Raquel Abecasis

É já na próxima terça-feira que o entendimento se tornará publico, quando Paulo Portas apertar a mão ao seu anfitrião à porta do Instituto Amaro da Costa (IDL), agora presidido por Manuel Monteiro. O Público deu conta do evento: «Paulo Portas é convidado de Manuel Monteiro em conferência no Instituto Adelino Amaro da Costa».

Mas o encontro público foi precedido de um outro, em privado, em que pela primeira vez desde o Congresso de Braga (há 25 anos) em que Paulo Portas assumiu a liderança do CDS, os dois homens que cortaram relações aceitaram entender-se. Desde 1998, que Monteiro e Portas não se sentavam à mesma mesa. Agora, em nome da sobrevivência do CDS, Nuno Melo terá conseguido o que muitos julgavam impossível: contar com o apoio e a ajuda dos dois, lado a lado.

Ao que apurou o Nascer do SOL, o cachimbo da paz já foi fumado há algum tempo. Fonte que acompanhou o processo garante que Nuno Melo juntou à mesma mesa, para um almoço, os dois ex-líderes que, no Congresso em que foi eleito, lhe manifestaram apoio. O atual líder do CDS convenceu os seus antecessores a porem de lado as divergências passadas em nome da sobrevivência do partido. Tendo em conta a situação difícil que os centristas enfrentam, Portas e Monteiro aceitaram o repto.

Segundo a mesma fonte, os resultados deste entendimento já se começam a fazer sentir. Portas tem participado informalmente em alguns encontros estratégicos do partido e tem usado a sua influência política para conseguir apoios de peso na área política do CDS de militantes e também para agilizar pontes com o PSD. 

Manuel Monteiro assumiu a direção do IDL, o think tank que desde as origens do partido produz para as bases as principais propostas dos centristas e que é financiado pela fundação alemã Konrad Adenauer.

E o que ganham os dois com este empenho num CDS em risco de sobrevivência? 

Na leitura dos mais próximos, os dois têm interesses diferentes. Manuel Monteiro «está claramente interessado em ganhar um espaço no lado mais doutrinário e o IDL permite-lhe isso. Ele quer relançar o IDL como plataforma de conhecimento em colaboração estreita com a direção do partido». 

Já Paulo Portas quer alargar a sua hipotética base eleitoral para o que der e vier, dependendo dos timings. Portas «é um eixo em que passam muitos caminhos». E se o caminho ditar uma candidatura presidencial Portas sabe que o eleitorado tradicional do CDS é um bem precioso a manter.

Enquanto preparam estratégias para enfrentar os próximos atos eleitorais, os centristas mantêm um olhar atento ao que vai fazendo a direção do PSD. Uma alteração de calendário eleitoral pode ditar opções diferentes em relação ao que estava previamente decidido, mas, aconteça o que acontecer, o CDS espera que o líder do PSD mantenha a sua posição de afastar o Chega das contas de uma possível coligação à direita. «Montenegro dizer que não faz nada com o Chega valoriza o voto no CDS», diz-nos um elemento da direção centrista, garantindo que este é um ponto fundamental para que o CDS possa recuperar o seu lugar na cena política nacional. «As pessoas voltam a olhar para o CDS como um partido-charneira para que sejam possíveis entendimentos à direita».

 A entrevista de Luís Montenegro, esta semana, à RTP levantou preocupação no Largo do Caldas. Fonte centrista diz ao Nascer do SOL que, embora acreditem que o que o líder do PSD disse quando, em entrevista à CNN, garantiu não fazer entendimentos com «políticas e partidos xenófobos» é o que vale, não é bom reabrir dúvidas outra vez com falta de clareza nas respostas. Para já, os centristas mantêm-se atentos e apostados em montar uma estratégia que prove ao eleitorado que o CDS faz falta no Parlamento. 

Ao que o Nascer do SOL apurou, o cenário em que os centristas estão a trabalhar é o de se prepararem para irem sozinhos a votos. Pode ser que as circunstâncias ditem outra opção, mas o partido dirigido por Nuno Melo sabe que, mais tarde ou mais cedo, vai ter que fazer prova de vida. E isso só acontece se e quando o partido se apresentar isoladamente às urnas. É por isso que a incerteza que neste momento existe sobre qual o calendário eleitoral que se aproxima dificulta muito os planos que se constroem à mesa da direção dos centristas. «Temos que estar preparados para enfrentar todos os cenários possíveis», asseguram.

Por isso, é ainda mais importante que personalidades com o peso histórico de Paulo Portas e de  Manuel Monteiro estejam alinhados e empenhados em ajudar o partido na luta pela sobrevivência.