Salernitana. Paulo Sousa rei da grande festa dos cavalos-marinhos

Salernitana. Paulo Sousa rei da grande festa dos cavalos-marinhos


A equipa de Salerno fez história com o treinador português: batendo a Udinese em casa (3-2) na penúltima jornada da Série A consegue pela primeira vez manter-se entre  os primeiros por dois anos consecutivos.


por Afonso de Melo, em Salerno

Faz um tempo de trópicos na Campânia. Um calor abafado vai formando no céu azul claro um novelo de nuvens que não tardarão a transformar-se numa chuva rápida. Vou cedo para o estádio Arechi, pelo meio dos adeptos, o jogo entre a Salernitana e a Udinese tem início marcado para as 14h00, aqui em Itália têm o mau hábito de agendarem partidas a partir do meio-dia. Será tarde de festa. Os 39 pontos conquistados pela Salernitana até esta jornada garantem-lhe uma manutenção tranquila na Série A e a equipa vai despedir-se dos seus adeptos frente à Udinese para jogar, no próximo fim de semana, a ronda derradeira no campo da Cremonese. Paulo Sousa pegou na equipa no dia 19 de Fevereiro, numa derrota face à Lázio (0-2) e, até agora, em doze jogos só voltou a perder outro há três semanas no campo do Empoli (1-2). Contra os primeiros classificados do campeonato manteve-se irredutível: empates com Nápoles, Inter e Milan (todos por 1-1). A Salernitana joga um futebol divertido, o público está feliz, basta visitar o centro de treinos onde ao fim de cada sessão de trabalho se juntam os tifosi que querem um autógrafo ou uma fotografia com aquele rapaz que certo dia chegou à Juventus para tomar conta de um meio-campo que levou à conquista da Taça dos Campeões.

 

Grande Paulo!

“Divertente! Strepitoso!”: assim sublinhou a sempre tão exigente imprensa italiana o jogo de fecho de época da Salernitana no seu estádio que comportou 30 mil pessoas felizes por mais um ano de permanência – convém não esquecer que das duas vezes anteriores que disputou a Série A a “squadra granata” desceu. E assim foi. Um orgulho imenso nas camisolas do cavalo-marinho que não se deixou abater pelo 2-0 com que a Udinese já ganhava à meia hora, com golos de Zeegelaar (25m) e Nesterovski (30m). Um pontapé fulminante de Kastanos (43m) fez com que o intervalo chegasse com tudo em aberto.

Poucos campos de futebol continentais ficarão tão próximos do mar como o Stadio Arechi e a brisa marítima enche-nos as narinas numa tarde tropical que já trouxe um calor bruto e uma chuva diluviana. Ninguém quis saber. O sonho do presidente Iorvolino de fazer da Selernitana uma equipa de Série A encontrou um comandante em Paulo Sousa e basta estar atento às infinitas manifestações de carinho de que este é alvo para se perceber que este entrou de vez no coração dos adeptos da Costa Amalfitana. O segundo tempo do jogo de sábado à tarde foi, como se diz por aqui, “scatenato”. Os de Salerno caíram sobre um adversário que percebeu o que o esperava sem ser capaz de fazer fosse o que fosse para contrariá-lo. Os hipocampos lançaram-se impiedosos sobre os opositores, fizeram o empate por Candreva (57m) e o golo da vitória no sexto e último minuto do período de compensação por Troost-Ekong e depois de já terem visto Zeegelaar ser expulso. Haveria final mais perfeito? Na! Foi como nos filmes! As famílias dos jogadores e dos técnicos entraram no relvado – a filha do Paulo também – ficaram ali numa confraternização satisfeita de cumprimento do dever e de alegria que sabiam merecida ao som de “Da quando non ci sei… non è più domenica!”, uma canção com letra de Cesare Cremonini e que colou à pele de um “tifoseria” considerada das mais ferrenhas de toda a Itália.

Com mais um ano de contrato com a Salernitana, Paulo Sousa ouviu no meio dos gritos as palavras elogiosas de Danilo Iervolino, o presidente, que não relativizou o seu importantíssimo papel na manutenção dos “granata”. A pouco e pouco, a multidão foi-se espalhando pela marginal que as devolveu ao centro da cidade. A festa estava para durar e não apenas no grupo restrito dos amigos do Paulo mas sim por toda a cidade nas “trattorias” onde a cerveja correu à larga. Jogadores e técnicos voltam hoje, terça-feira, à labuta habitual num sítio que leva o nome de Mary Rosy e serve de centro de treinos com expectativa de crescimento até porque uma das apostas desta direção é desenvolver o tudo o que puder ser feito para proteger as camadas jovens e tornar-se num interessante clube vendedor. Mas haverá tempo para se falar nisso. Itália está muito longe de ser como Portugal no campo da “tifoseria”. Os milhares de adeptos da Salernitana estão profundamente felizes e não o escondem. As camisolas rubras estão por toda a parte, não há quem não queira um autógrafo ou tirar uma fotografia com “mister” Paulo Sousa. Este final de época tocou-lhes fundo, no fundo da alma. Estar na Série A, manter-se na Série A, ser uma equipa da Série A e reconhecida como tal, vale todos os sacrifícios. Os salernitanos estão convencido que o destino da sua “granata” mudou para sempre. E houve um português que conseguiu convencê-los disso. Um treinador que tem corrido o mundo todo mas está agora de volta ao futebol que mais ama e no qual se sente mais à vontade: o italiano. Paulo será sempre um homem do “cálcio”…