Presidente Marcelo pressiona remodelação até julho


A convocação do Conselho de Estado é um convite indireto a Costa para mudar a sua equipa, a tempo de mexer no Orçamento de Estado.


1. O Presidente Marcelo fez muito bem em convocar um Conselho de Estado para depois do encerramento da sessão legislativa, ou seja, em julho, e com a CPI/TAP concluída. Primeiro haverá um conselho para analisar Portugal e a Europa. O seguinte abordará a política interna e os seus efeitos. Há quem entenda a iniciativa como uma pressão inteligente para que, até lá, António Costa proceda a uma ampla remodelação, considerada essencial para o Governo completar o mandato ou, no mínimo, sobreviver às eleições europeias. Se mexesse no Governo e arranjasse gente credível, António Costa poderia evitar o desgaste sistemático que tem sofrido. Teria de pensar bem a manobra e livrar-se de ministros emplastros, que acumulam erros e tontarias. Evitaria dar espaço a um recente discurso de Marcelo, lembrando o axioma de que é mais fácil mudar as instituições do que o povo, no que foi mais uma clara advertência do que pode vir a caminho. A realização do Conselho de Estado coincide com uma altura em que já está em pré-elaboração o Orçamento de Estado, o instrumento político mais importante da governação. O plenário do conselho é um passo essencial para avaliar a opinião das personalidades que integram o órgão de consulta presidencial, após meses de um desnorte na governação e apenas um ano e meio depois de eleições legislativas, elas próprias antecipadas. Há que notar que, prudentemente, o Presidente não inscreveu esse ponto na convocatória, o que põe de lado o cenário dissolução antes de agosto ou setembro. Tal significa apenas que a sua intenção primeira é continuar a queimar Costa em lume brando, se este não mudar de rumo e de equipa. Além do Conselho de Estado, o PR irá ouvir os partidos sobre a situação política. Estes procedimentos confirmam que o Presidente passou a atuar como fiscal, deixando de ser arauto do Governo. Fica-lhe bem. Foi para isso que os portugueses constituíram regularmente duas maiorias absolutas. Uma presidencial e outra governamental. Sábio povo que percebe melhor do que muitos políticos o papel de cada um.

 

2. A divulgação pela TVI de parte significativa da investigação do chamado caso Tutti-Frutti põe em causa três dos pilares da democracia: a justiça, a política e o jornalismo, quando praticado de certa forma. A justiça porque é inaceitável que ao fim de seis anos, de milhares de folhas, de dezenas de horas de escutas e de vigilâncias não haja uma acusação ou um arquivamento. É uma técnica persecutória e indigna sobretudo quando, depois, tudo se sabe. Foi o caso na gigantesca passagem de informação para um mensageiro mediático que arrasta outros. A quem interessa e quem ganha ou se vinga com a publicidade da operação? Se houvesse hipótese constitucional de se criar uma espécie de CPI ao que rodeia este tipo de investigações seria o bom e o bonito. Alguém lembrava há dias que recentemente a justiça seguiu os passos de jornalistas de investigação ao que parece para averiguar situações de fugas de informação, o que é gravíssimo. Estamos novamente perante uma questão essencial da sociedade portuguesa: quem investiga o investigador? Este inquérito é mais um prego no caixão da democracia portuguesa. Expõe sub-reptícios arranjos e interesses em movimento, mas fica-se sem certezas de que o combinado aconteceu mesmo. Não é por se dizer uma coisa ao telefone que ela se efetiva. E não é por alguém ser citado por um terceiro que é culpado. Há, porém, uma certeza: as conversas ilustram o nível mercantilista da política e a teia de interesses que envolve as maiores autarquias do país. Uma tristeza! Os arranjos mostram que há autarquias com dinheiro em abundância para tachos, Não admira visto que as suas infraestruturas estão feitas há muito. Há dias, um especialista em autarquias explicava que só se travam situações destas com a implantação de orçamentos de base zero, em que toda a despesa tem de ser explicada detalhadamente, abandonando-se a técnica de acrescentar dinheiro ano após ano. A circunstância da investigação ter sido escarrapachada na TVI/CNN não ajuda a credibilizar a comunicação social, desde logo por tudo já tinha sido publicado, há anos, em jornais como o Nascer do SOL e o Correio da Manhã. Sente-se ali pouca investigação própria. O trabalho é mesmo assim meritório porque visa também o inconcebível procedimento do Ministério Público. Há, porém, um trabalho bem feito de edição e realização com base nos elementos recolhidos. Mas há um uso recorrente de tempos verbais como “terá” ou “poderá” e de “alegadamente”. Ora o que se espera no jornalismo são sobretudo expressões objetivas.

 

3. Ao contrário da maioria das suas congéneres europeias e do mundo democrático, a Universidade de Coimbra (UC) tem mantido em funcionamento o Centro de Estudos Russos. Isto, mesmo depois da bárbara invasão da Ucrânia pelas tropas de Putin. Foi uma atitude sensata para não se confundir a cultura russa com o regime sanguinário de Moscovo. No entanto, os responsáveis da UC tomaram duas medidas cautelares, logo na altura. Uma delas fez cessar, no momento da invasão, o protocolo com a Fundação Russkyi Mir, um conhecido instrumento de propaganda russa, controlado pelo oligarca putinista Nikonov, ele próprio alvo de sanções dos países democráticos. A outra medida, para além de manter o centro de estudos em atividade, teve a ver com a autorização excecional para que o professor Pliassov, um conhecido ativista pró-Putin, se mantivesse em funções até fazer 70 anos e ter obrigatoriamente de se jubilar, em agosto deste ano. De notar que, por exemplo, a Universidade do Minho optou, na altura, por fechar a sua unidade russa, cortando o mal pela raiz. O mesmo, aliás, fez a União Europeia ao impor o barramento do canal propagandístico RT na distribuição por cabo. Estes são factos. Ora, recentemente, os responsáveis da reitoria da UC foram surpreendidos com duas situações desconhecidas deles: Pliassov continuava a dirigir o centro e a fazer propaganda, por via de uma autorização excecional que permite que alguém com mais de 70 anos se mantenha a lecionar, desde que graciosamente. Perante a dupla situação e uma denúncia feita no Jornal de Proença por perseguidos e exilados ucranianos, a UC decidiu cessar esse vínculo excecional. Foi o suficiente para, logo, algumas coisas estranhas acontecerem. Uma delas foi um inédito acidente informático que está a ser investigado por ter danificado o sistema da UC, concretamente o do centro de estudos russos, eventualmente para fazer desaparecer as provas da propaganda genocida russa. Paralelamente, gerou-se um movimento que pretende fazer crer que o professor Pliassov foi expulso sem ser ouvido, o que é falso e é demonstrado pelo facto de o próprio não ter contestado a decisão na justiça. Como sempre acontece quando se está perante estratégias que vivem da conspiração à direita ou à esquerda, começaram movimentações para transformar em vítima o professor putinista (fazem lembrar a lavagem de imagem de Boaventura Sousa Santos). Para além das forças ativistas habituais, estranham-se algumas adesões à tese do coitadinho. A mais inusitada veio da direção do Público através de um editorial que representa obviamente uma posição formal do jornal, esperando-se que não do grupo a que pertence. Há que distinguir um escrito de uma colaboradora (por exemplo Carmo Afonso) com simpatias por Moscovo de uma posição de um diretor, que tem um peso institucional num jornal de referência, mesmo que esteja de saída dessa função de liderança. Neste tempo de sombras, de fake news, de manipulação, de ataques à liberdade, de ofensivas genocidas a nações e povos, há que ter discernimento para não se deixar instrumentalizar. O caso Pliassov serve às mil maravilhas para baralhar os mais ingénuos, os menos esclarecidos, em benefício da causa invasora. Há que distinguir as coisas. É fundamental saber escolher, agora como há meio século, entre os extremistas do Estado Novo ou do PREC e os que lutaram, antes e depois do 25 de Abril, pela democracia. Toda esta matéria é digna de um debate. Por exemplo entre José Milhazes e o diretor cessante do Público. Talvez num programa moderado por Fátima Campos Ferreira ou Clara de Sousa. Não nos podemos esquecer que foi em Portugal que russos com ligação a Putin recebiam, sacavam e transmitiam informação sobre refugiados ucranianos debilitados acabados de chegar. Mesmo assim foram eles que denunciaram corajosamente a golpada. Agora foi a mesma coisa. Rigorosamente!

Presidente Marcelo pressiona remodelação até julho


A convocação do Conselho de Estado é um convite indireto a Costa para mudar a sua equipa, a tempo de mexer no Orçamento de Estado.


1. O Presidente Marcelo fez muito bem em convocar um Conselho de Estado para depois do encerramento da sessão legislativa, ou seja, em julho, e com a CPI/TAP concluída. Primeiro haverá um conselho para analisar Portugal e a Europa. O seguinte abordará a política interna e os seus efeitos. Há quem entenda a iniciativa como uma pressão inteligente para que, até lá, António Costa proceda a uma ampla remodelação, considerada essencial para o Governo completar o mandato ou, no mínimo, sobreviver às eleições europeias. Se mexesse no Governo e arranjasse gente credível, António Costa poderia evitar o desgaste sistemático que tem sofrido. Teria de pensar bem a manobra e livrar-se de ministros emplastros, que acumulam erros e tontarias. Evitaria dar espaço a um recente discurso de Marcelo, lembrando o axioma de que é mais fácil mudar as instituições do que o povo, no que foi mais uma clara advertência do que pode vir a caminho. A realização do Conselho de Estado coincide com uma altura em que já está em pré-elaboração o Orçamento de Estado, o instrumento político mais importante da governação. O plenário do conselho é um passo essencial para avaliar a opinião das personalidades que integram o órgão de consulta presidencial, após meses de um desnorte na governação e apenas um ano e meio depois de eleições legislativas, elas próprias antecipadas. Há que notar que, prudentemente, o Presidente não inscreveu esse ponto na convocatória, o que põe de lado o cenário dissolução antes de agosto ou setembro. Tal significa apenas que a sua intenção primeira é continuar a queimar Costa em lume brando, se este não mudar de rumo e de equipa. Além do Conselho de Estado, o PR irá ouvir os partidos sobre a situação política. Estes procedimentos confirmam que o Presidente passou a atuar como fiscal, deixando de ser arauto do Governo. Fica-lhe bem. Foi para isso que os portugueses constituíram regularmente duas maiorias absolutas. Uma presidencial e outra governamental. Sábio povo que percebe melhor do que muitos políticos o papel de cada um.

 

2. A divulgação pela TVI de parte significativa da investigação do chamado caso Tutti-Frutti põe em causa três dos pilares da democracia: a justiça, a política e o jornalismo, quando praticado de certa forma. A justiça porque é inaceitável que ao fim de seis anos, de milhares de folhas, de dezenas de horas de escutas e de vigilâncias não haja uma acusação ou um arquivamento. É uma técnica persecutória e indigna sobretudo quando, depois, tudo se sabe. Foi o caso na gigantesca passagem de informação para um mensageiro mediático que arrasta outros. A quem interessa e quem ganha ou se vinga com a publicidade da operação? Se houvesse hipótese constitucional de se criar uma espécie de CPI ao que rodeia este tipo de investigações seria o bom e o bonito. Alguém lembrava há dias que recentemente a justiça seguiu os passos de jornalistas de investigação ao que parece para averiguar situações de fugas de informação, o que é gravíssimo. Estamos novamente perante uma questão essencial da sociedade portuguesa: quem investiga o investigador? Este inquérito é mais um prego no caixão da democracia portuguesa. Expõe sub-reptícios arranjos e interesses em movimento, mas fica-se sem certezas de que o combinado aconteceu mesmo. Não é por se dizer uma coisa ao telefone que ela se efetiva. E não é por alguém ser citado por um terceiro que é culpado. Há, porém, uma certeza: as conversas ilustram o nível mercantilista da política e a teia de interesses que envolve as maiores autarquias do país. Uma tristeza! Os arranjos mostram que há autarquias com dinheiro em abundância para tachos, Não admira visto que as suas infraestruturas estão feitas há muito. Há dias, um especialista em autarquias explicava que só se travam situações destas com a implantação de orçamentos de base zero, em que toda a despesa tem de ser explicada detalhadamente, abandonando-se a técnica de acrescentar dinheiro ano após ano. A circunstância da investigação ter sido escarrapachada na TVI/CNN não ajuda a credibilizar a comunicação social, desde logo por tudo já tinha sido publicado, há anos, em jornais como o Nascer do SOL e o Correio da Manhã. Sente-se ali pouca investigação própria. O trabalho é mesmo assim meritório porque visa também o inconcebível procedimento do Ministério Público. Há, porém, um trabalho bem feito de edição e realização com base nos elementos recolhidos. Mas há um uso recorrente de tempos verbais como “terá” ou “poderá” e de “alegadamente”. Ora o que se espera no jornalismo são sobretudo expressões objetivas.

 

3. Ao contrário da maioria das suas congéneres europeias e do mundo democrático, a Universidade de Coimbra (UC) tem mantido em funcionamento o Centro de Estudos Russos. Isto, mesmo depois da bárbara invasão da Ucrânia pelas tropas de Putin. Foi uma atitude sensata para não se confundir a cultura russa com o regime sanguinário de Moscovo. No entanto, os responsáveis da UC tomaram duas medidas cautelares, logo na altura. Uma delas fez cessar, no momento da invasão, o protocolo com a Fundação Russkyi Mir, um conhecido instrumento de propaganda russa, controlado pelo oligarca putinista Nikonov, ele próprio alvo de sanções dos países democráticos. A outra medida, para além de manter o centro de estudos em atividade, teve a ver com a autorização excecional para que o professor Pliassov, um conhecido ativista pró-Putin, se mantivesse em funções até fazer 70 anos e ter obrigatoriamente de se jubilar, em agosto deste ano. De notar que, por exemplo, a Universidade do Minho optou, na altura, por fechar a sua unidade russa, cortando o mal pela raiz. O mesmo, aliás, fez a União Europeia ao impor o barramento do canal propagandístico RT na distribuição por cabo. Estes são factos. Ora, recentemente, os responsáveis da reitoria da UC foram surpreendidos com duas situações desconhecidas deles: Pliassov continuava a dirigir o centro e a fazer propaganda, por via de uma autorização excecional que permite que alguém com mais de 70 anos se mantenha a lecionar, desde que graciosamente. Perante a dupla situação e uma denúncia feita no Jornal de Proença por perseguidos e exilados ucranianos, a UC decidiu cessar esse vínculo excecional. Foi o suficiente para, logo, algumas coisas estranhas acontecerem. Uma delas foi um inédito acidente informático que está a ser investigado por ter danificado o sistema da UC, concretamente o do centro de estudos russos, eventualmente para fazer desaparecer as provas da propaganda genocida russa. Paralelamente, gerou-se um movimento que pretende fazer crer que o professor Pliassov foi expulso sem ser ouvido, o que é falso e é demonstrado pelo facto de o próprio não ter contestado a decisão na justiça. Como sempre acontece quando se está perante estratégias que vivem da conspiração à direita ou à esquerda, começaram movimentações para transformar em vítima o professor putinista (fazem lembrar a lavagem de imagem de Boaventura Sousa Santos). Para além das forças ativistas habituais, estranham-se algumas adesões à tese do coitadinho. A mais inusitada veio da direção do Público através de um editorial que representa obviamente uma posição formal do jornal, esperando-se que não do grupo a que pertence. Há que distinguir um escrito de uma colaboradora (por exemplo Carmo Afonso) com simpatias por Moscovo de uma posição de um diretor, que tem um peso institucional num jornal de referência, mesmo que esteja de saída dessa função de liderança. Neste tempo de sombras, de fake news, de manipulação, de ataques à liberdade, de ofensivas genocidas a nações e povos, há que ter discernimento para não se deixar instrumentalizar. O caso Pliassov serve às mil maravilhas para baralhar os mais ingénuos, os menos esclarecidos, em benefício da causa invasora. Há que distinguir as coisas. É fundamental saber escolher, agora como há meio século, entre os extremistas do Estado Novo ou do PREC e os que lutaram, antes e depois do 25 de Abril, pela democracia. Toda esta matéria é digna de um debate. Por exemplo entre José Milhazes e o diretor cessante do Público. Talvez num programa moderado por Fátima Campos Ferreira ou Clara de Sousa. Não nos podemos esquecer que foi em Portugal que russos com ligação a Putin recebiam, sacavam e transmitiam informação sobre refugiados ucranianos debilitados acabados de chegar. Mesmo assim foram eles que denunciaram corajosamente a golpada. Agora foi a mesma coisa. Rigorosamente!