Governantes consumidos, governação não consumada


Por cá, e passados 6 séculos, temos que reconhecer que o nosso 1.º Ministro não poupa esforços para simular governantes capazes de consumar em pleno a função que livremente aceitaram, valendo-se de medicinas preventivas com base em critérios legislativamente transparentes e liofilizados, apoiados em rigorosos questionários e declarações de compromisso.


Ao longo da história abundam os estratagemas de invocação do interesse público para a conquista ou manutenção do poder pessoal. Alguns constituem uma verdadeira metáfora do que se vai passando no nosso país. 

Francisco II, filho primogénito de Henrique II de França e de Catarina de Médicis, nasceu em 1544, muitos anos após o casamento, período em que o rei foi dotando o país com filhos de amantes que infernizavam a vida da rainha. Francisco nasceu frágil e visíveis eram as debilidades físicas que dificultariam o ofício de reinar.

Alianças com a Escócia que incluíam o apoio da França à luta contra os protestantes escoceses tinham previsto o casamento entre os herdeiros do trono de ambos os países. Maria Stuart, a herdeira da Escócia, emigrou em menina para a corte francesa, porventura como penhor do acordo.   

Para Catarina era imperioso que Francisco viesse a ser o Rei, por razões pessoais que a tornariam na efectiva soberana face às fragilidades do filho, mas também pela perspectiva de melhor retaliar contra as nobres amantes do marido. Nesse sentido Catarina tudo manobrou para apressar o casamento de Francisco, aos 14 anos, forma de mostrar que o próprio Reino da Escócia ratificava a plena capacidade do filho para reinar. 

Não tinha Catarina a certeza de que Francisco pudesse consumar o casamento, que assim corria o risco de ser anulado, favorecendo a sua deposição, nomeadamente face às reivindicações de outros filhos à coroa. Na circunstância, tratou de convencer a noiva que deveria fingir, custasse o que custasse, que o casamento era consumado, pois, caso contrário, fragilizaria a sua posição como rainha de França e sobretudo poderia fazer soçobrar a aliança entre os dois reinos, com graves inconvenientes para a católica coroa escocesa de que seria titular.  

Como precaução, dotou-a de um macio invólucro com uma substância que, depois do acto, real ou fingido, teria que espalhar nos lençóis e certificar-se de que era vista pelas testemunhas, já que sangue nos lençóis era a prova da consumação. Tal testemunho era, à época, a forma de impedir a possibilidade da anulação matrimonial, sendo frequentemente utilizados truques inovadores para iludir dificuldades ou impotências de uma ou outra parte. 

O estratagema funcionou e Catarina transformou a não consumação do casamento em acto plenamente atingido, oficial e testemunhalmente verificado. 

Por cá, e passados 6 séculos, temos que reconhecer que o nosso 1.º Ministro não poupa esforços para simular governantes capazes de consumar em pleno a função que livremente aceitaram, valendo-se de medicinas preventivas com base em critérios legislativamente transparentes e liofilizados, apoiados em rigorosos questionários e declarações de compromisso. Tão contrafeitos, todavia, se têm revelado os fármacos que muitos dos escolhidos deram em consumir-se em trapalhadas e embustes, tarefas circunjacentes ao seu nível de competência, incapazes de consumar as funções que juraram, colocando em risco a validade do contrato da governação. 

Falhada a medicina, lembrou-se então o 1.º Ministro do estratagema de Catarina para prevenir o desastre real, e lançou mão de poderosos truques que fingissem a plena consumação das funções governativas, fornecendo o leito governamental de pacotes de estratagemas travestidos de nomes imponentes, nova geração de políticas, de saúde, educação, habitação ou segurança social ou de aumentos de reformas nunca visto. E, convocando o povo para testemunhar a maravilha, foi-lhe desviando a atenção da consumação da situação caótica dos hospitais e centros de saúde, de anos perdidos no ensino público, de um programa de habitação sem tento nem senso, dos zigue-zagues na segurança social, em ruptura ou total solidez, conforme os momentos ou dos lastimáveis programas económicos que apenas vêm consumando o tombo para a cauda da Europa. E sem esperança de melhoria no futuro, já que as melhores projecções não nos atribuem mais que crescimentos decepcionantes.     

Catarina logrou ser a Regente, após a entronização do filho, aos 15 anos. Maria Stuart, vítima do estratagema de Catarina, não teve uma vida feliz: casamento não consumado, reinado deposto na Escócia, pescoço cortado na Inglaterra. Por cá, não chegámos tão longe; as vítimas, embora asfixiadas, ainda sentem o pescoço preso ao corpo. Os governantes, ética republicana obriga, esses vão seguindo de pescoço bem liberto, contentinhos do poder. Até…

Governantes consumidos, governação não consumada


Por cá, e passados 6 séculos, temos que reconhecer que o nosso 1.º Ministro não poupa esforços para simular governantes capazes de consumar em pleno a função que livremente aceitaram, valendo-se de medicinas preventivas com base em critérios legislativamente transparentes e liofilizados, apoiados em rigorosos questionários e declarações de compromisso.


Ao longo da história abundam os estratagemas de invocação do interesse público para a conquista ou manutenção do poder pessoal. Alguns constituem uma verdadeira metáfora do que se vai passando no nosso país. 

Francisco II, filho primogénito de Henrique II de França e de Catarina de Médicis, nasceu em 1544, muitos anos após o casamento, período em que o rei foi dotando o país com filhos de amantes que infernizavam a vida da rainha. Francisco nasceu frágil e visíveis eram as debilidades físicas que dificultariam o ofício de reinar.

Alianças com a Escócia que incluíam o apoio da França à luta contra os protestantes escoceses tinham previsto o casamento entre os herdeiros do trono de ambos os países. Maria Stuart, a herdeira da Escócia, emigrou em menina para a corte francesa, porventura como penhor do acordo.   

Para Catarina era imperioso que Francisco viesse a ser o Rei, por razões pessoais que a tornariam na efectiva soberana face às fragilidades do filho, mas também pela perspectiva de melhor retaliar contra as nobres amantes do marido. Nesse sentido Catarina tudo manobrou para apressar o casamento de Francisco, aos 14 anos, forma de mostrar que o próprio Reino da Escócia ratificava a plena capacidade do filho para reinar. 

Não tinha Catarina a certeza de que Francisco pudesse consumar o casamento, que assim corria o risco de ser anulado, favorecendo a sua deposição, nomeadamente face às reivindicações de outros filhos à coroa. Na circunstância, tratou de convencer a noiva que deveria fingir, custasse o que custasse, que o casamento era consumado, pois, caso contrário, fragilizaria a sua posição como rainha de França e sobretudo poderia fazer soçobrar a aliança entre os dois reinos, com graves inconvenientes para a católica coroa escocesa de que seria titular.  

Como precaução, dotou-a de um macio invólucro com uma substância que, depois do acto, real ou fingido, teria que espalhar nos lençóis e certificar-se de que era vista pelas testemunhas, já que sangue nos lençóis era a prova da consumação. Tal testemunho era, à época, a forma de impedir a possibilidade da anulação matrimonial, sendo frequentemente utilizados truques inovadores para iludir dificuldades ou impotências de uma ou outra parte. 

O estratagema funcionou e Catarina transformou a não consumação do casamento em acto plenamente atingido, oficial e testemunhalmente verificado. 

Por cá, e passados 6 séculos, temos que reconhecer que o nosso 1.º Ministro não poupa esforços para simular governantes capazes de consumar em pleno a função que livremente aceitaram, valendo-se de medicinas preventivas com base em critérios legislativamente transparentes e liofilizados, apoiados em rigorosos questionários e declarações de compromisso. Tão contrafeitos, todavia, se têm revelado os fármacos que muitos dos escolhidos deram em consumir-se em trapalhadas e embustes, tarefas circunjacentes ao seu nível de competência, incapazes de consumar as funções que juraram, colocando em risco a validade do contrato da governação. 

Falhada a medicina, lembrou-se então o 1.º Ministro do estratagema de Catarina para prevenir o desastre real, e lançou mão de poderosos truques que fingissem a plena consumação das funções governativas, fornecendo o leito governamental de pacotes de estratagemas travestidos de nomes imponentes, nova geração de políticas, de saúde, educação, habitação ou segurança social ou de aumentos de reformas nunca visto. E, convocando o povo para testemunhar a maravilha, foi-lhe desviando a atenção da consumação da situação caótica dos hospitais e centros de saúde, de anos perdidos no ensino público, de um programa de habitação sem tento nem senso, dos zigue-zagues na segurança social, em ruptura ou total solidez, conforme os momentos ou dos lastimáveis programas económicos que apenas vêm consumando o tombo para a cauda da Europa. E sem esperança de melhoria no futuro, já que as melhores projecções não nos atribuem mais que crescimentos decepcionantes.     

Catarina logrou ser a Regente, após a entronização do filho, aos 15 anos. Maria Stuart, vítima do estratagema de Catarina, não teve uma vida feliz: casamento não consumado, reinado deposto na Escócia, pescoço cortado na Inglaterra. Por cá, não chegámos tão longe; as vítimas, embora asfixiadas, ainda sentem o pescoço preso ao corpo. Os governantes, ética republicana obriga, esses vão seguindo de pescoço bem liberto, contentinhos do poder. Até…