Por João Sena
A Fórmula 1 está de volta para a temporada mais longa de sempre. São 23 grandes prémios em pouco mais de nove meses – começa a 5 de março e termina a 26 de novembro -, que incluem seis corridas Sprint de 100 km. É um verdadeiro desafio à logística e à resistência de quem acompanha a modalidade.
Depois da revolução técnica de 2022, que foi o regresso dos carros com efeito de solo, as modificacões são ínfimas este ano e incidem na aerodinâmica e na segurança. Importa referir que cada equipa tem de cumprir o teto orçamental de 127 milhões de euros na presente temporada.
Tudo isto acontece numa altura em que existe uma guerra latente entre os americanos da Liberty Media, detentores dos direitos comerciais da Fórmula 1, e Mohammed Ben Sulayem, presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA), à qual não serão alheios os rumores de que os sauditas se preparam para comprar a Fórmula 1.
As grelhas de partida vão ter alguns rookies este ano. Oscar Piastri é reforço da McLaren e apresenta-se com os títulos de Fórmula 3 (2020) e Fórmula 2 (2021). O americano Logan Sargeant vai correr na Williams, depois de ter ficado em 4.º lugar na Fórmula 2 no ano passado. É mais um sinal da expansão dos EUA, que já têm três corridas no calendário. Nick De Vryes é o atual campeão do mundo de Fórmula E, e convenceu a AlphaTauri a dar-lhe uma oportunidade a tempo inteiro na Fórmula 1. Disputou no ano passado o Grande Prémio de Itália com a Williams e mostrou ter andamento para subir de escalão.
Outra novidade é a possibilidade de os pilotos usarem o DRS (Drag Reduction System) em mais zonas dos circuitos. Este sistema hidráulico é acionado pelo piloto e permite ganhar velocidade. Quando o plano superior da asa traseira se eleva a resistência aerodinâmica reduz-se e a velocidade de ponta aumenta, será sempre superior a 330 km/h. Os tempos por volta vão cair em 2023, mas mais importante é facilitar as ultrapassagens e acabar com corridas monótonas.
A FIA introduziu verdadeiras linhas vermelhas na comunicação. Para não violar o princípio da neutralidade, os pilotos estão proibidos de fazerem declarações políticas, religiosas ou pessoais no decurso de qualquer cerimónia sem o consentimento expresso do organismo. Ou seja, nenhum piloto pode, por exemplo, apoiar movimentos como o ‘Black Lives Matter’ e LGTBIQ+ ou fazer afirmações sobre as alterações climáticas. As sanções podem ir de uma multa até à exclusão de um grande prémio. Lewis Hamilton já respondeu à FIA. «Nada me vai parar. O desporto tem a responsabilidade de falar de assuntos importantes e de despertar consciências», afirmou o heptacampeão do mundo, no que foi acompanhado por Max Verstappen, que considerou a medida «desnecessária».
As equipas fizeram horas extraodinárias nas fábricas para interpretar os dados recolhidos nos testes e procurar as melhores afinações para a corrida de domingo. Os testes nem sempre são representativos do potencial das equipas e há quem faça bluff, mas não parece ser o caso da Red Bull. A penalização imposta pela FIA por ter ultrapassado o teto orçamental em 2021 (redução em 10% dos testes em túnel de vento) não se fizeram sentir no desenvolvimento do carro deste ano. O Red Bull foi impressionante em velocidade e muito consistente nas longas séries de voltas que permitem ter uma ideia do potencial do carro em condições de corrida, isso só é possível quando o chassis e os pneus funcionam na perfeição.
Red Bull impressiona
No traçado de Sakhir, Max Verstappen e Sergio Perez foram sempre os mais velozes, alguns especialistas passaram a ideia de que têm um andamento diferente dos restantes, e há o receio de que se mantenha a diferença verificada no final de 2022 ou, pior, tenha aumentado. O responsável da Red Bull está satisfeito com a reação dos pilotos. «A equipa trabalhou bastante para ter o melhor carro possível. Mantivemos a mesma filosofia, o RB19 é uma evolução que aproveita os aspetos positivos do carro anterior», disse Christian Horner.
A Ferrari trabalhou bastante o acerto aerodinâmico do SF-23 para se aproximar dos tempos da Red Bull. «Foram dias de intenso trabalho para rever alguns elementos do carro. O objetivo principal foi rodar o mais possível e nunca nos preocupámos com os tempos», afirmou o diretor desportivo da Ferrari, Frédéric Vasseur.
A época passada foi um completo desastre para a Mercedes e o primeiro registo de 2023 não foi muito animador, pois foi claramente batida pela Red Bull e Ferrari. Vai ter de trabalhar muitos se quiser lutar pelos títulos mundiais de pilotos e construtores. Há também enorme expectativa em torno da Alpine e da McLaren, duas equipas que procuram a ascensão na Fórmula 1 e entrar no Top 3 . Depois de um ano falhado, a Aston Martin tem em Fernando Alonso um joker que pode valer bons resultados.