Por Eduardo Baptista Correia
As eleições presidenciais brasileiras são bem elucidativas dos desafios que as evoluções das democracias contemporâneas enfrentam, nomeadamente naquilo que respeita à interpretação dos diferentes atores relativamente ao resultado do ato eleitoral e correspondente atitude – a dos candidatos derrotados e a dos vencedores.
Na sequência do resultado eleitoral das presidenciais do Brasil, a forma como o candidato derrotado se comportou, fazendo lembrar Donald Trump, é bem demonstrativa da ausência de respeito pela democracia constituindo, por si só, motivo de gáudio para o facto de não ter sido eleito. A bipolarização tão radicalizada que presenciámos em termos de resultados eleitorais e de projeto político de suporte, constitui indubitavelmente o desafio maior que o futuro próximo da política brasileira enfrenta, de modo a conseguir a pacificação necessária ao desejado desenvolvimento e evolução da economia e sociedade brasileira.
O desafio de unir um país desunido pela metade não será, em face do observado nos últimos meses, uma tarefa simples.
Apenas o respeito pela condição do resultado do adversário constitui garante de pacificação. Se o respeito pela democracia obriga o candidato derrotado a reconhecer a vitória do adversário, também ao vencedor compete entender que a sua vitória para além de marginal não pode deixar de incorporar na forma como vier a governar as preocupações do eleitorado que votou no candidato marginalmente derrotado. Apesar da maior parte dessas reservas dizerem essencialmente respeito à credibilidade da pessoa agora eleita é absolutamente imprescindível que o presidente eleito entenda na essência quais as ações que obrigatoriamente deve tomar de forma a consegui um grau de aceitação maior junto desse mesmo eleitorado. O desenvolvimento de um país com as características tão díspares e diversas que o Brasil em si carrega são, historicamente, a fonte de maior desafio à condução de políticas que são aceites por uns e rejeitadas por outros. Teremos porventura atingido o expoente máximo histórico desse desequilíbrio já que a eleição se disputou ao nível das margens mínimas.
Resolver os temas da habitação, educação e emprego constitui a fonte de resolução do problema maior que assola este país irmão: a insegurança.
Apenas um Brasil que combata as favelas através de construção massificada de habitação pública, que encaminhe os filhos das famílias pobres para o patamar de igualdade de oportunidades através do elevador social que a escola pode proporcionar, e distribua a riqueza de uma forma mais harmoniosa, apenas esse Brasil será capaz da pacificação necessária ao desenvolvimento.
As reflexões que as democracias ocidentais, ditas mais avançadas, devem promover em face destes acontecimentos, já anteriormente vistos em Washington DC, são evidentemente relevantes no que respeita, por um lado, à evolução dos modelos eleitorais e o funcionamento democrático e inclusivo, entre as diferentes forças políticas intervenientes no sistema político e, por outro, os diferentes poderes de modo a garantirmos a evolução qualitativa da democracia cívica.
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”