Por Henrique A. Matos, Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico e Investigador do CERENA
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou cerca de 100 ppm (concentração em partes por milhão) nos últimos 60 anos, sendo um dos principais responsáveis do atual aquecimento global, com evidentes consequências nas vidas de todos e muito em particular dos povos mais desprotegidos, de zonas muito depauperadas financeiramente, como alguns países africanos junto ao Oceano Índico e do sudoeste do continente asiático.
Sendo inevitável a sua emissão para conforto da população em geral e para manter a economia ativa, imprescindível para a sobrevivência humana, surge a dicotomia existencial entre evitar ou capturar.
Sendo que toda a atividade humana gera a emissão desse gás CO2 para a atmosfera, simplesmente pela respiração dos seres vivos que liberta esse produto de reação da “queima” dos alimentos ingeridos. No entanto, mais relevantes são as outras atividades relacionadas com o transporte de pessoas e a produção de bens ou produtos tangíveis que de forma direta ou indireta, através do consumo de qualquer forma de energia fóssil, levam à emissão de gases de efeito de estufa, em particular o dióxido de carbono.
Esta produção de bens tangíveis é motivada pela procura dos consumidores e sob risco de podermos “arrefecer” um pouco a economia, nos dias de hoje não podemos esquecer a estratégia dos Rs. Conhecida sob diferentes formas e podendo ter contabilizados em número de 16, habitualmente são referidos os principais 5 Rs, a saber:
Reduzir – diminuir a quantidade de resíduos produzidos, desperdiçando menos e consumindo só o necessário;
Reutilizar – guardar materiais aos quais se possa dar uma nova utilidade;
Reciclar – transformar os materiais usados em novos produtos ou matérias primas de forma a diminuir a quantidade de resíduos eliminados e produtos consumidos;
Recuperar – concertar materiais degradados e reaproveitá-los para a mesma função;
Renovar – reparar os materiais e reinventar novos produtos.
Há ainda um longo percurso a efetuar para aplicação desta estratégia dos 5Rs, sendo que uma forte aposta nos três primeiros Rs pode ter consequências práticas imediatas de grande impacto. Basta pensar na quantidade de garrafas de plástico para água ou refrigerantes que são desperdiçadas ou nas embalagens de cartão que envolvem outras embalagens onde os produtos efetivamente estão guardados (ex: dentífricos, cereais, medicamentos, etc…).
Esta é claramente uma via para evitar a emissão, sempre que na fonte se usarem menos materiais processados será gasta menos energia na sua produção ou em toda a cadeia logística produção/abastecimento, desde que se extraem os recursos (materiais ou combustíveis) até que os produtos são eliminados em fim de linha.
Não fugindo à necessidade de utilização de energia elétrica para toda a atividade humana, será oportuno referir o esforço meritório que o país tem feito em substituir na sua produção as fontes fósseis de energia primária por fontes renováveis como o vento e o sol.
No entanto, estas não são constantes ao longo do ciclo diário e a sua potência útil não é controlável pela mão humana nos valores necessários. Assim, há uma necessidade urgente de se utilizar uma fonte renovável cuja potência seja controlável pelo ser humano, isto é, a biomassa que abunda pelo país de forma imensa devido à desertificação humana das regiões do interior, que deixaram para trás longas extensões de floresta abandonada.
Infelizmente esta biomassa está a ser desaproveitada nos consecutivos concelhos do país onde o flagelo dos incêndios acontece em cada verão, associados às graves consequências económicas, ambientais e sociais para essas nossas regiões. A queima de biomassa produz dióxido de carbono, mas este não deverá ser contabilizado, por ser biogénico – ciclo de produção curto, comparado com o obtido a partir das reservas fósseis. Assim, o seu aproveitamento em centrais de biomassa para produção de eletricidade seria uma forma explicita de evitar as emissões de CO2 provenientes de fontes de energia primária de origem fóssil (ex: gás natural).
Se evitar pode ser um processo complexo, em parte pela necessária transformação de comportamentos/mentalidades da sociedade, a possível resposta tecnológica poderá ser capturar o dióxido de carbono. Depois de capturado teremos sempre dois caminhos: o seu armazenamento (CCS- carbon capture and storage) ou a sua utilização como matéria-prima para a produção de produtos ou novos combustíveis “verdes” (CCU- carbon capture and utilization).
Os processos de captura têm vindo a ser estudados pela comunidade científica, nomeadamente através da absorção do gás com solventes líquidos (ex: aminas), mostrando estes um consumo energético muito elevado na regeneração do solvente.
Neste sentido, um grupo de investigadores do CERENA – Centro de Recursos Naturais e Ambiente (https://cerena.pt/) tem estado a desenvolver estudos para averiguar da viabilidade de utilização de processos de adsorção com calcário de pedreira, resíduos de mármore ou outros materiais de forma a ter um processo energeticamente mais favorável que torne competitiva a captura de dióxido de carbono face ao atual (ou futuro) custo das taxas de emissão.