Paredes de Coura. Detetados casos de gripe A e infeções pulmonares

Paredes de Coura. Detetados casos de gripe A e infeções pulmonares


João Pedro e Eva foram diagnosticados com gripe A, enquanto Diogo e Mariana sofrem de infeções pulmonares. O epidemiologista Ricardo Mexia reflete acerca deste problema.


“Tive gripe, dores de garganta (mal consigo falar), muita tosse, dores musculares, nariz entupido e algumas náuseas. Já tive covid-19 e senti que este caso foi muito pior”, começa por explicar João Pedro (nome fictício), jovem de 25 anos que esteve no festival Vodafone Paredes de Coura e foi diagnosticado com gripe A. “Comecei por tomar medicação como Ben-u-ron e Brufen, mas como não me estava a sentir melhor e fui alertado por uma amiga que tinha testado positivo para a gripe A, decidi ir ao hospital para ser testado”, avança. “Agora estou em casa, foi-me receitado Ben-u-ron e um medicamento para aliviar o nariz entupido, e vou estar em isolamento cinco dias”, esclarece.

Eva Sousa, de 24 anos, vive uma situação em tudo idêntica. “Tive a minha primeira sensação de estar febril no domingo à noite, ou seja, logo no dia em que regressei a casa. Fiquei em casa nos dias 22 e 23, mas na terça-feira, ao final do dia, já não aguentava mais e tive mesmo de ir ao hospital”, adianta. “Fizeram-me exames, tanto para despistar covid-19 como influenza, mas também lhes disse logo que suspeitava de gripe A e foram diretos ao assunto”, declara. Tal como João Pedro, está a tomar medicação e ficará cinco dias em isolamento.

“Agora estou muito melhor, mas na terça estive mesmo mal… Com febres constantes de 39 graus que não baixavam tomando Ben-u-ron. Que eu saiba, nunca tinha tido covid-19 nem gripe A”, sublinha, admitindo que tem conhecimento de “imensa gente” que se encontra numa situação como a sua. “Já no Paredes de Coura eu via muitas pessoas doentes. No meu acampamento, dois rapazes já estavam extremamente em baixo e cheios de febre durante o festival”, frisa. “Umas pessoas foram diagnosticadas com gripe A, outras com infeção pulmonar”.

É a última que Diogo (nome fictício), de 20 anos, está a experienciar. “Os sintomas começaram no sábado à tarde. Era uma tosse estranha, como se tivesse de coçar a garganta”, recorda. “No domingo, a tosse estava muito pior e tive alguma febre. A partir de segunda a situação agravou-se e fiquei com dores no corpo, febres altas, tosse forte e fui ao hospital na quarta-feira de manhã”, conta, explicando que testou negativo à gripe A e recebeu o diagnóstico de infeção pulmonar.

“Continuo igual, mas como já tenho a medicação que devo tomar… Devo ficar bem em pouco tempo. Tive covid-19 uma vez e foi há um mês e pouco, mas nunca tive gripe A”, narra Diogo, concordando que os sintomas do novo coronavírus são distintos dos da doença que, ainda em março deste ano, infetava mais de 60 jovens, na região de Leiria, e estava a ser investigado pelas autoridades de saúde da região Centro. 

“Já estava um pouco constipada quando fui para Paredes de Coura, mas fiquei com mais sintomas a partir de quinta-feira. Tudo ligeiro. No domingo, comecei a piorar: tinha muita tosse e dores nos pulmões”, descreve Mariana (nome fictício), de 24 anos. “Fiz um teste à covid-19, no domingo, e deu negativo. Comecei a tomar anti-inflamatórios e anti-histamínicos para tentar melhorar. Na terça, sentia-me a piorar, e como ouvi dizer que muita gente estava a ser diagnosticada com gripe A, depois de voltar de Coura, achei melhor ir ao hospital”.

E assim o fez. Na manhã de ontem, Mariana realizou um raio-x aos pulmões e os médicos disseram-lhe “logo” que não está a sofrer de gripe A, mas sim de uma infeção pulmonar. Foi medicada com antibiótico. “Não falaram em terem visto mais pessoas na mesma situação, mas disseram que era normal tendo em conta que estamos todos com as defesas em baixo e também porque o clima lá não era muito favorável. Isto é, calor durante o dia e frio durante a noite”, salienta, lastimando a tosse que a acomete e o “peso” que sente nos pulmões.

“Já tive gripe A há uns anos e foi horrível. E isto não fica nada atrás! Os médicos avisaram-me que devia ir controlando tudo, tomar a medicação certinha, para que isto não evolua para uma pneumonia. Aí, sim, seria muito chato!”, constata a rapariga. “Mas admito que isto também tem bastante a ver com a minha irresponsabilidade porque andava muito constipada e fui ‘enfiar-me’ num festival e apanhar frio”.

Epidemiologista acredita não haver razões para alarme “Tem havido gripe A há muitos anos. Não percebo esta súbita preocupação, mas é essencial esclarecermos isto”, afirma o epidemiologista Ricardo Mexia. “O isolamento de cinco dias é uma boa recomendação. Mas, formalmente, os delegados de saúde é que determinam o isolamento. O diagnóstico, seja da gripe A ou da covid, é laboratorial, não nos esqueçamos disto”, defende. No site oficial do SNS24, podemos ler que “a distinção entre gripe A (influenza A) ou gripe B (influenza B) só é possível através de exames laboratoriais, nomeadamente através de teste com zaragatoa nasofaríngea, semelhante à colhida para o teste covid-19”.

“As pessoas têm manifestações clínicas e isso é o síndrome gripal, mas tem de haver um exame. Normalmente, esse diagnóstico era apenas feito nos casos mais graves, que necessitavam de internamento e/ou outros cuidados mais específicos. É evidente que, num contexto de maior concentração de pessoas, há maior risco de transmissão”, reconhece o médico de Saúde Pública e epidemiologista que integra atualmente o Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

“As pessoas estão próximas, convivem durante muito tempo, partilham tendas, comem juntas, etc. Fizemos vigilância epidemiológica de vários eventos durante este verão e aquilo que é diferente é que há um aumento das queixas respiratórias relativamente aos de 2019. Alguns dos participantes com com covid, gripe e outras patologias respiratórias”, revela o profissional de saúde que esteve envolvido na investigação e controlo de diversos surtos, como o de sarampo de 2016 e o da Doença dos Legionários no Hospital de São Francisco Xavier, em 2017.

“As máscaras têm aqui um papel importante, mas a higienização das mãos, estar em lugares arejados, ser testado, tudo aquilo que fomos sabendo ao longo destes últimos dois anos são as medidas fundamentais. A gripe A é evitável pela vacinação e, portanto, quem puder deve ser vacinado”, sugere, lembrando que a vacina contra a gripe é aplicável a várias estirpes. “As recomendações são muito análogas. É uma situação que deve ser identificada e deve haver recomendações para que as pessoas se protejam. Nos festivais, a esmagadora maioria dos participantes são pessoas jovens e não são particularmente vulneráveis”. 

“O facto de ser no exterior também nos dá vantagens. Agora, alguém que tenha uma doença de base, imunosupressão, deve pensar se deve ir ou adotar equipamento de proteção individual. É sempre uma decisão de cada um”, finaliza Ricardo Mexia, que desempenhou funções enquanto responsável da vigilância epidemiológica em diversos eventos de massas, como o Festival BOOM, Festival Andanças, Centenário da Peregrinação a Fátima, Eurovision Song Contest, entre outros.

O i contactou a Administração Regional de Saúde do Norte e a Ritmos – responsável pela organização do Vodafone Paredes de Coura – mas, até à hora de fecho desta edição, não obteve qualquer resposta.