“Vamos dançar”, perguntou Jae Matthews de Boy Harsher, durante o concerto do duo no palco Vodafone.FM, uma pergunta que ecoou durante todo o quarto dia do festival, que esteve repleto de ecléticos nomes da música eletrónica que transformaram o Paredes de Coura numa discoteca a céu aberto.
Enquanto cabeças de cartaz, os The Blaze tiveram a responsabilidade de atuar para, de longe, a maior enchente do dia. Os franceses aliaram a sua eletrónica dançável e simpática para o ouvido com uma bela produção visual, com cinco ecrãs espalhados pelo palco a transmitirem imagens que completavam o seu house.
O cancelamento do grupo australiano, os King Gizzard & the Lizard Wizard, fez com que os organizadores do festival fossem obrigados a fazer alterações no cartaz, mudando os BadBadNotGood para o segundo dia e Kelly Lee Owens para um horário mais simpático (originalmente a artista iria atuar às 19h15, tendo acabado por atuar por volta das 21h45).
Mesmo que o horário fizesse mais sentido para a produtora galesa, esta tinha era sido perfeita no after do festival, onde o seu potente techno tinha produzido um efeito mais impactante nos amantes de música eletrónica.
Mas a sensação de que estávamos na cave do Lux não ficou por aí, também os acima citados Boy Harsher reuniram uma audiência respeitável, no palco Vodafone.FM, onde tiveram oportunidade de partilhar as suas músicas mais sombrias e com melodias e ritmos assentes no darkwave, mas também soltar umas músicas mais pulsantes que permitiram o público ter uma expressão mais física durante a atuação.
A contrariar a tendência das pessoas que estavam com vontade de bater o seu pezinho, estava Ty Segall e a sua The Freedom Band que subiram ao palco principal e decidiram tocar as suas linhas de guitarra mais pesadas.
Contrariando a tendência dos seus últimos concertos em sala fechada, onde a primeira parte era inteiramente em acústico, de forma a fazer justiça ao seu último disco, Hello, Hi, composto quase na íntegra em guitarra acústica, o músico subiu ao palco acompanhado pelos seus parceiros e por uma assanhada distorção que o acompanhou até ao final do concerto.
Ao longo do espetáculo foi percetível que já não estávamos perante o mesmo músico que criou o disco Melted com a energética Finger (apesar de ter tocado, o californiano fez questão de preparar um arranjo quase irreconhecível da canção). Estamos longe dos dias das energéticas e efusivas malhas baseadas no garagem rock, agora, Segall apresenta um som mais musculada e mais próximo de Neil Young do que de uns The Sonics.
Não há problema nenhum em envelhecer ou em não conhecer mais de metade das músicas que o artista apresentou em palco, depois de dois anos de pandemia e de estarmos fechados em casa é normal termo-nos afastados um pouco desta expressão artística mais visceral. Mas porra. Foi muito bom podermos ter assistido a este regresso em grande forma do californiano. Foi tão satisfatório que até deu para esquecer que estávamos todos a “comer” o pó do recinto que estava a ser levantado pelos fãs que faziam mosh maniacamente.
Mas o mosh não aconteceu apenas no palco principal, também no palco Vodafone.FM os portugueses Baleia Baleia Baleia, que tiveram a responsabilidade de substituir os King Gizzard, deram tudo para que o início da tarde dos festivaleiros fosse marcado por um espetáculo repleto de suor, sangue e punk à moda antiga.
Depois dos portugueses, a nova coqueluche da música britânica, Arlo Parks, esteve no Palco Vodafone a encantar o final de tarde com a sua bela voz enquanto os seus talentosos músicos mostravam sons da soul, R&B e indie pop.
Para além destes artistas, Sylvie Kreusch esteve também no palco Vodafone, enquanto o palco secundário foi ainda ocupado por Márcia e Arp Frique & Family. O after ficará à responsabilidade de Ata Kak e Mall Grab.
Amanhã, sábado, vai ser o derradeiro e último dia do festival, com artistas como La Femme, Slowthai e Pixies a assinalarem a despedida do festival minhoto.