República socialista lusitana


O Governo da República – tragicamente gerido por esta turma de meninos e meninas incompetentes, arrogantes e mal comportados – não pode ser um mero ringue onde se disputam, publicamente, batalhas sucessórias internas do partido incumbente, usando para tal os recursos do Estado sustentado pelo dinheiro dos contribuintes portugueses.


O que ontem se passou com aquela pseudo-crise política, mais ou menos encenada como alguns querem acreditar, com o argumento de essa encenação servir os propósitos de desviar atenções dos variadíssimos e graves problemas de que o país enferma e para os quais o Governo se tem mostrado totalmente incapaz de resolver, como é o caso, por exemplo, do escândalo que se vive na saúde ou, diferentemente, mais ou menos real como eu acredito, foi um espectáculo degradante mas muito revelador de um estado de grande inquietude que se vive no seio da cúpula directiva do partido socialista porque algo de substancialmente modificador da realidade actual estará para acontecer, creio que nos próximos dois anos, e eles sabem-no bem.

Seja como for, aquilo a que ontem assistimos foi absolutamente miserável porque traduz bem a forma como os actuais políticos socialistas com responsabilidades governativas usam o nosso país, instrumentalizando as instituições democráticas e transformando a sua própria actuação política, enquanto titulares de cargos dessas mesmas instituições democráticas, em armas de arremesso de lutas internas partidárias, como se uma e outra coisa fossem exactamente o mesmo, aliás, à boa maneira dos ensinamentos da velha enciclopédia soviética.

O Governo da República – tragicamente gerido por esta turma de meninos e meninas incompetentes, arrogantes e mal comportados – não pode ser um mero ringue onde se disputam, publicamente, batalhas sucessórias internas do partido incumbente, usando para tal os recursos do Estado sustentado pelo dinheiro dos contribuintes portugueses.

Foi exactamente isso aquilo a que, impávidos, assistimos na noite de quarta-feira e durante todo o dia seguinte.

É cada vez mais claro que o Primeiro-Ministro está, obviamente, a muito curto prazo no exercício da função. É por demais evidente que António Costa está de saída para outro cargo internacional qualquer e, por isso mesmo, levou para o seu derradeiro Governo todos os seus putativos sucessores, incluindo o seu maior delfim e, de entre todos os demais, preferido Fernando Medida a quem, de forma surpreendente, atribuiu a pasta das finanças. Estão lá todos. Medina, Mendes, Vieira da Silva, Santos e, até a anedoticamente lançada pelo próprio Costa no último conclave socialista, Temido… 

Escusando-me, por ora, a tecer considerações sobre todos os putativos sucessores, há um deles que, pelos vistos, vai crescendo fortemente nas simpatias das bases e controlando as estruturas locais e federativas regionais e que é, precisamente, Pedro Nuno Santos que não esconde ter, há anos, essa ambição legítima, diga-se, de ser “candidato” à sucessão de António Costa, tendo, de entre todos os outros, como seu principal opositor interno Fernando Medida.

Pedro Nuno Santos tem pressa, muita, em se livrar de António Costa na liderança do PS e revela bastante ansiedade pela oportunidade que espreita de alcançar, ele próprio, essa liderança do partido. Sobre isso creio que os socialistas e os portugueses em geral deveriam recordar-se mais do passado recente e com ele aprender qualquer coisinha e assim evitarem dar poder a quem não o deve exercer por ser muito perigoso tê-lo na mão, pois se o fizessem, saberiam encontrar o óbvio paralelismo entre esta figura e uma outra personagem conhecida, ambos do mesmo partido socialista, muito idêntica no estilo arrogante, intolerante e intimidador, bem como assim, na pressa de chegar ao poder que, creio sem grande esforço, o leitor saberá de quem falo…

De resto, a este propósito, recordo-me sempre daquela cara incrédula e nada festiva, imortalizada em fotografia, com que Pedro Nuno Santos ficou no momento em que se soube que o PS tinha obtido a maioria absoluta, com apenas 41% dos votos dos eleitores, nas últimas eleições legislativas de Janeiro passado ao mesmo tempo que António Costa, sentado ao seu lado direito, esbracejava de felicidade juntamente com Ana Catarina Mendes a si agarrada aos abraços e beijinhos… Essa imagem que guardo religiosamente nos meus arquivos fotográficos diz tudo sobre o estado de alma do Ministro das Infra-estruturas e ajuda a compreender melhor o que ontem se passou.

Ora aqui chegados, parece evidente que Pedro Nuno Santos não tem qualquer interesse em manter-se muito mais tempo neste Governo, pois sabe melhor do que nós que o mesmo não irá durar para lá de 2024 após a saída deste Primeiro-Ministro e que, nessas circunstâncias, será muito difícil que o Presidente da República não dissolva o Parlamento (apesar da existência da actual maioria absoluta de 41%) e convoque eleições antecipadas – como, de resto, fez questão de avisar no discurso de tomada de posse deste XXII Governo Constitucional – e que, até lá, o Governo terá pela frente forte contestação, a economia a afundar, com a inflação a galopar descontroladamente, o poder de compra a diminuir, os problemas na saúde a aumentar e sem aparente solução, a justiça pelas ruas da amargura, a educação com tudo por tratar e resolver e por aí adiante. Pelo que, ser-lhe-ia, neste momento, muito mais vantajoso e condicente aos seus objectivos de carreira política, estar fora desta órbita de desgraça e literalmente à solta no aparelho partidário a arregimentar apoios para se entronizar como o próximo senhor que se segue no Largo do Rato.

Por isso mesmo criou um artefacto para provocar a sua saída forçada e de forma estrondosa. Mas o velho ancião é mais astuto que o aprendiz e o tiro saiu-lhe pela culatra!

Estamos, pois, enquanto país, perante uma autêntica luta de galos socialistas que enxovalham a dignidade das instituições o que, de per si, merecia a intervenção de um Presidente da República que garantisse, pelos seus poderes constitucionais, um rigoroso normal funcionamento das instituições democráticas e, obviamente, forçasse a demissão imediata daquele Ministro não por causa do problema interno gerado entre si e o PM, ou entre o putativo candidato a líder e líder actual do PS, mas sim por força do desrespeito inaceitável que aquele Ministro ostentara para consigo – Presidente da República – em directo nos canais de notícias das televisões portuguesas.

Mas não foi isso o que pudemos, enfim, verificar da actuação do Senhor Presidente da República, porque, na verdade, Marcelo Rebelo de Sousa tem uma ridícula impotência em lidar com este Governo do qual aliás ficará na história como seu co-responsável!

 

Post Scriptum

1 – Quero expressar a minha profunda solidariedade para com o "meu" jornal i, que na quarta-feira passada sofreu um ataque canalha de gente binária sem rosto, inimiga da liberdade e da democracia, mas que como é evidente não manda abaixo a sua redacção de jornalistas que diariamente, fazem jornalismo a sério, jornalismo independente, jornalismo de investigação, jornalismo inconveniente e, por isso mesmo, um jornalismo inevitável de se ler.

2 – Uma palavra também de parabéns ao SOL que meia hora antes da reunião entre Ministro e Primeiro-Ministro ter começado, deu a notícia da manutenção do primeiro no Governo do segundo, isto enquanto outros jornais e sobretudo televisões discutiam tretas e faziam entretenimento político inconsequente.

 

Jurista,
Escreve de acordo com a antiga ortografia
    

República socialista lusitana


O Governo da República – tragicamente gerido por esta turma de meninos e meninas incompetentes, arrogantes e mal comportados – não pode ser um mero ringue onde se disputam, publicamente, batalhas sucessórias internas do partido incumbente, usando para tal os recursos do Estado sustentado pelo dinheiro dos contribuintes portugueses.


O que ontem se passou com aquela pseudo-crise política, mais ou menos encenada como alguns querem acreditar, com o argumento de essa encenação servir os propósitos de desviar atenções dos variadíssimos e graves problemas de que o país enferma e para os quais o Governo se tem mostrado totalmente incapaz de resolver, como é o caso, por exemplo, do escândalo que se vive na saúde ou, diferentemente, mais ou menos real como eu acredito, foi um espectáculo degradante mas muito revelador de um estado de grande inquietude que se vive no seio da cúpula directiva do partido socialista porque algo de substancialmente modificador da realidade actual estará para acontecer, creio que nos próximos dois anos, e eles sabem-no bem.

Seja como for, aquilo a que ontem assistimos foi absolutamente miserável porque traduz bem a forma como os actuais políticos socialistas com responsabilidades governativas usam o nosso país, instrumentalizando as instituições democráticas e transformando a sua própria actuação política, enquanto titulares de cargos dessas mesmas instituições democráticas, em armas de arremesso de lutas internas partidárias, como se uma e outra coisa fossem exactamente o mesmo, aliás, à boa maneira dos ensinamentos da velha enciclopédia soviética.

O Governo da República – tragicamente gerido por esta turma de meninos e meninas incompetentes, arrogantes e mal comportados – não pode ser um mero ringue onde se disputam, publicamente, batalhas sucessórias internas do partido incumbente, usando para tal os recursos do Estado sustentado pelo dinheiro dos contribuintes portugueses.

Foi exactamente isso aquilo a que, impávidos, assistimos na noite de quarta-feira e durante todo o dia seguinte.

É cada vez mais claro que o Primeiro-Ministro está, obviamente, a muito curto prazo no exercício da função. É por demais evidente que António Costa está de saída para outro cargo internacional qualquer e, por isso mesmo, levou para o seu derradeiro Governo todos os seus putativos sucessores, incluindo o seu maior delfim e, de entre todos os demais, preferido Fernando Medida a quem, de forma surpreendente, atribuiu a pasta das finanças. Estão lá todos. Medina, Mendes, Vieira da Silva, Santos e, até a anedoticamente lançada pelo próprio Costa no último conclave socialista, Temido… 

Escusando-me, por ora, a tecer considerações sobre todos os putativos sucessores, há um deles que, pelos vistos, vai crescendo fortemente nas simpatias das bases e controlando as estruturas locais e federativas regionais e que é, precisamente, Pedro Nuno Santos que não esconde ter, há anos, essa ambição legítima, diga-se, de ser “candidato” à sucessão de António Costa, tendo, de entre todos os outros, como seu principal opositor interno Fernando Medida.

Pedro Nuno Santos tem pressa, muita, em se livrar de António Costa na liderança do PS e revela bastante ansiedade pela oportunidade que espreita de alcançar, ele próprio, essa liderança do partido. Sobre isso creio que os socialistas e os portugueses em geral deveriam recordar-se mais do passado recente e com ele aprender qualquer coisinha e assim evitarem dar poder a quem não o deve exercer por ser muito perigoso tê-lo na mão, pois se o fizessem, saberiam encontrar o óbvio paralelismo entre esta figura e uma outra personagem conhecida, ambos do mesmo partido socialista, muito idêntica no estilo arrogante, intolerante e intimidador, bem como assim, na pressa de chegar ao poder que, creio sem grande esforço, o leitor saberá de quem falo…

De resto, a este propósito, recordo-me sempre daquela cara incrédula e nada festiva, imortalizada em fotografia, com que Pedro Nuno Santos ficou no momento em que se soube que o PS tinha obtido a maioria absoluta, com apenas 41% dos votos dos eleitores, nas últimas eleições legislativas de Janeiro passado ao mesmo tempo que António Costa, sentado ao seu lado direito, esbracejava de felicidade juntamente com Ana Catarina Mendes a si agarrada aos abraços e beijinhos… Essa imagem que guardo religiosamente nos meus arquivos fotográficos diz tudo sobre o estado de alma do Ministro das Infra-estruturas e ajuda a compreender melhor o que ontem se passou.

Ora aqui chegados, parece evidente que Pedro Nuno Santos não tem qualquer interesse em manter-se muito mais tempo neste Governo, pois sabe melhor do que nós que o mesmo não irá durar para lá de 2024 após a saída deste Primeiro-Ministro e que, nessas circunstâncias, será muito difícil que o Presidente da República não dissolva o Parlamento (apesar da existência da actual maioria absoluta de 41%) e convoque eleições antecipadas – como, de resto, fez questão de avisar no discurso de tomada de posse deste XXII Governo Constitucional – e que, até lá, o Governo terá pela frente forte contestação, a economia a afundar, com a inflação a galopar descontroladamente, o poder de compra a diminuir, os problemas na saúde a aumentar e sem aparente solução, a justiça pelas ruas da amargura, a educação com tudo por tratar e resolver e por aí adiante. Pelo que, ser-lhe-ia, neste momento, muito mais vantajoso e condicente aos seus objectivos de carreira política, estar fora desta órbita de desgraça e literalmente à solta no aparelho partidário a arregimentar apoios para se entronizar como o próximo senhor que se segue no Largo do Rato.

Por isso mesmo criou um artefacto para provocar a sua saída forçada e de forma estrondosa. Mas o velho ancião é mais astuto que o aprendiz e o tiro saiu-lhe pela culatra!

Estamos, pois, enquanto país, perante uma autêntica luta de galos socialistas que enxovalham a dignidade das instituições o que, de per si, merecia a intervenção de um Presidente da República que garantisse, pelos seus poderes constitucionais, um rigoroso normal funcionamento das instituições democráticas e, obviamente, forçasse a demissão imediata daquele Ministro não por causa do problema interno gerado entre si e o PM, ou entre o putativo candidato a líder e líder actual do PS, mas sim por força do desrespeito inaceitável que aquele Ministro ostentara para consigo – Presidente da República – em directo nos canais de notícias das televisões portuguesas.

Mas não foi isso o que pudemos, enfim, verificar da actuação do Senhor Presidente da República, porque, na verdade, Marcelo Rebelo de Sousa tem uma ridícula impotência em lidar com este Governo do qual aliás ficará na história como seu co-responsável!

 

Post Scriptum

1 – Quero expressar a minha profunda solidariedade para com o "meu" jornal i, que na quarta-feira passada sofreu um ataque canalha de gente binária sem rosto, inimiga da liberdade e da democracia, mas que como é evidente não manda abaixo a sua redacção de jornalistas que diariamente, fazem jornalismo a sério, jornalismo independente, jornalismo de investigação, jornalismo inconveniente e, por isso mesmo, um jornalismo inevitável de se ler.

2 – Uma palavra também de parabéns ao SOL que meia hora antes da reunião entre Ministro e Primeiro-Ministro ter começado, deu a notícia da manutenção do primeiro no Governo do segundo, isto enquanto outros jornais e sobretudo televisões discutiam tretas e faziam entretenimento político inconsequente.

 

Jurista,
Escreve de acordo com a antiga ortografia