A 90ª edição das 24 Horas Le Mans teve duas tecnologias em confronto: a Toyota apostou na solução híbrida, a Alpine e a Glickenhaus mantiveram-se fiéis aos tradicionais V8 a gasolina.
Às 15 horas de sábado, 62 carros lançaram-se furiosamente pelo traçado de 13,6 km, com 38 curvas, onde os pilotos ultrapassam seis vezes os 300 km/h em cada volta, e deram 380 voltas! Para vencer em Le Mans são precisos meios técnicos, financeiros e humanos adequados à exigência da prova. Toyota, Alpine e a americana Glickenhaus apresentaram os seus Hypercars otimizados a nível da aerodinâmica, chassis e motor. A introdução do novo combustível renovável obrigou a fazer ajustes na cartografia dos motores para obter um rendimento otimizado, algo que foi bem aceite pelas equipas “este novo combustível é um passo importante para obter a neutralidade carbónica, pelo que somos a favor de tal inovação” referiu Pascal Vasselon, diretor desportivo da Toyota. Uma vez mais, a grande competição automóvel é simultaneamente um laboratório tecnológico.
A partida em Le Mans é sempre um momento espetacular e as primeiras horas foram feitas a fundo, mais parecia uma sessão de qualificação. Rapidamente se percebeu que a Toyota tinha o melhor package para a longa maratona, ou seja, o carro mais rápido e pilotos mais consistentes. Os dois carros japoneses entregaram-se a uma luta que durou 18 horas, e só um problema elétrico de um dos Toyota terminou com essa luta. Mesmo assim a marca japonesa conseguiu a quinta vitória consecutiva em Le Mans. Como em tudo na vida, para se ganhar é preciso um pouco de sorte e foi isso que aconteceu a Buemi/Hartley/Hirakawa, a equipa que menos tempo perdeu nas boxes e por isso venceu. “É um sentimento incrível ganhar a prova. A equipa realizou um trabalho fantástico a preparar a corrida e os meus colegas fizeram tudo bem feito em pista. A partida foi perfeita, não cometemos erros e estávamos muito determinados a vencer.
Foi difícil lutar com o outro carro da equipa, eles andaram muito bem. O momento-chave aconteceu de madrugada quando tiveram problemas técnicos, a partir daí a corrida foi mais tranquila”, referiu Sebastien Buemi, que venceu Le Mans pela quarta vez.
Concretizou-se o sonho americano de Jim Glickenhaus com o terceiro lugar de Briscoe/Westbrook/Mailleux. Sem conseguir acompanhar os tecnologicamente avançados Hypercars japoneses, a equipa teve o mérito de levar os dois carros até final. “A corrida desenrolou-se de forma satisfatória e o terceiro lugar foi muito importante. Tivemos de fazer algumas reparações, mas nada de especial. O sentimento de conseguir um pódio é fantástico”, disse o excêntrico dono da equipa, conhecido realizador e produtor de Hollywood.
A Alpine foi ao tapete com uma facilidade surpreendente. Ao fim de duas horas já estava fora da luta pela vitória e pior ficou quando um problema mecânico fez a equipa perder uma eternidade de tempo, terminando a 18 voltas do vencedor.
Portugueses em destaque Le Mans sempre foi ponto de encontro dos melhores pilotos nacionais. A edição deste ano foi perfeita para António Félix da Costa (Oreca 07), que terminou no quinto lugar da geral e venceu a categoria LMP2. Pilotos muito rápidos e com forte mentalidade ganhadora só podia dar bom resultado. “Foi um sonho cruzar a linha de meta. Há muitos anos que andava à procura desta vitória, esta vai para Portugal!”, naturalmente satisfeito, explicou: “Toda a equipa fez um trabalho espantoso e de forma perfeita desde o primeiro dia. Para obter um bom resultado é impossível relaxar e temos de respeitar o circuito. No início da corrida ganhamos uma boa vantagem sobre os rivais e isso ajudou-nos nas últimas duas horas onde tivemos um desgaste prematuro dos pneus dianteiros, que nos obrigou alterar a estratégia de corrida” Félix da Costa concluiu em tom de brincadeira: “não ganhamos antes porque estávamos à espera de termos público para festejar em condições.”
Henrique Chaves (Aston Martin Vantage) fez o que quase ninguém faz que é chegar, ver e vencer. O piloto estreou-se em Le Mans com a vitória na categoria GTE AM (34.º da geral). “Foi excelente. Fiz uma boa preparação em simulador e estava confiante para a corrida. Tinhamos uma boa estratégia e a adaptação foi boa. Procurei conhecer a pista e o limite do carro, nem foi tudo perfeito pois tive algumas ligeiras saídas, mas, no final, correu bem.”
Ao invés, Filipe Albuquerque (Oreca 07) teve uma prova madrasta, terminando no 14.º lugar. “Foi uma prova para esquecer. Correu tudo mal, com 100 metros de uma corrida outro piloto bateu no nosso carro e saímos de pista. O andamento é muito equilibrado e com esse atraso percebi que não havia qualquer hipótese de ganhar. É um bom exemplo de que mesmo com as coisas bem preparadas é Le Mans que escolhe os vencedores”, disse o piloto, que tinha sido o mais rápido na qualificação.
Classificação final: 1.º Buemi/Hartley/Hirakawa (Toyota GR010 Hybrid) 380 voltas, 2.º Conway/Kobayashi/Lopez (Toyota GR010 Hybrid), a 2m.01,222, 3.º Briscoe/Westbrook /Mailleux (Glickenhaus 007), a 5 voltas; 4.º Pla/Dumas/Derani (Glickenhaus 007), a 10 voltas; 5.º Félix da Costa/Stevens/Gonzalez (Oreca 07), a 11 voltas.
Hidrogénio em 2024 A Red Bull Advanced Technologies anunciou que vai desenvolver protótipos a hidrogénio para participar na edição de 2024. A empresa austríaca vai trabalhar em conjunto com o construtor Oreca, que será responsável pela conceção do chassis e colocação das baterias e dos depósitos de armazenamento do hidrogénio. Esses modelos serão entregues às equipas que pretendam alinhar na categoria Hidrogénio.
Nos próximos dois anos, o mundial de Endurance vai ser um supercampeonato com a presença da Porsche, Ferrari, Peugeot, Alpine e Cadillac, a que se juntará a Lamborghini e Acura (marca de luxo da Honda para os mercados norte-americano e asiático). Existe a possibilidade de Félix da Costa ser piloto Porsche e Filipe Albuquerque integrar a Acura.