Uma cidadania decadente entre a falta de concretização legal dos direitos e o pesadelo informático para os tentar realizar


Perder uma password, encontrar um caminho menos óbvio para resolver nos sítios públicos, ou privados, uma pretensão, pesquisar longamente quais os sítios adequados e capazes de nos darem respostas úteis e eficientes, transformou-se num pesadelo quotidiano para muitos portugueses, mesmo, por vezes, para alguns mais esclarecidos.


Ouvimos, hoje, um discurso insistente – melhor, um conjunto de discursos díspares – sobre direitos e mais direitos.

Muitos desses discursos versam mais sobre os meios imaginários para os conseguir materializar do que sobre o seu conteúdo efetivo; portanto, sobre o real alcance que possam ter de transformador na vida dos cidadãos.

Maioritariamente, incidem sobre os sítios e plataformas digitais existentes, ou a criar, para que os cidadãos os consigam concretizar.

Todos os discursos – ou quase – sobre a saúde, a educação, a justiça, o fisco, a segurança social e o acesso à habitação apontam para a necessidade de mais e mais meios informáticos, capazes de, supostamente, resolverem os problemas dos que querem fazer valer os seus direitos.

Tudo parece ir resolver-se, afinal, através desse toque de magia da informática.

São discursos tecnocráticos, rebuscados, mas pouco cultos e verdadeiros.

Entretanto, todos os dias, desaparecem muitos dos serviços físicos e pessoais que, nas cidades costeiras, ou no interior do país, apoiavam os cidadãos.

Desparecem as escolas, as repartições de finanças, os correios, os tribunais e até as caixas multibanco começam a rarear.

Parece que todos os cidadãos possuem computadores, ou a eles têm fácil acesso, o que, como se demonstrou nas escolas, durante a pandemia, não é pura e simplesmente verdade.

Os mais velhos não conseguem, de facto, aceder aos ditos meios digitais que iriam, miraculosamente, resolver os problemas mais comuns de gestão da sua vida cívica.

Os mais novos, que os poderiam ajudar, por terem competências para tanto, não são chamados a exercer, a nível local, uma função pública de apoio aos infoexcluídos.

Muitos destes, permanecem, entretanto, desempregados.

Perder uma password, encontrar um caminho menos óbvio para resolver nos sítios públicos, ou privados, uma pretensão, pesquisar longamente quais os sítios adequados e capazes de nos darem respostas úteis e eficientes, transformou-se num pesadelo quotidiano para muitos portugueses, mesmo, por vezes, para alguns mais esclarecidos.

Perdem-se horas, entre as tentativas de solução informática das questões que antes se resolviam facilmente com um atendimento pessoal simples e rápido.

Perdem-se horas, esperando pela resposta telefónica de algum auxiliar, que mal sabe falar português, e que trabalha numa base no estrangeiro.

Perde-se a paciência, perdem-se os cabelos, perde-se a confiança nos serviços públicos, e nos privados que aqueles contratam para, supostamente, melhor os ajudarem a atender os cidadãos.

Perde-se, enfim, a fé na democracia.

De tudo, resulta uma crescente indiferença e desalento dos cidadãos.

Muitos dos direitos mais básicos consagrados na Constituição e na lei acabam, assim, por não ser exercitados, por não terem existência real.

Assiste-se, entretanto e já sem espanto, ao empolgar de soluções e repostas demagógicas e populistas que, na verdade, nada pretendem alterar, apenas procurando aproveitar a indignação ou o cansaço da cidadania.

Umas, mais brutais e diretas, reivindicam o fim da democracia como a conhecemos; outros, porventura mais perigosos, desviam-nos a atenção da necessidade de concretizar os direitos básicos, para mini direitos sobre mini questões.

A informatização dos serviços à cidadania pode constituir, de facto, uma preciosa ajuda; não tenhamos disso dúvidas.

Mas não sejamos demagógicos: ela não resolve tudo e, nesta fase, para muita gente, constitui-se mesmo num pesadelo.

Não se deve, por isso, prescindir dos apoios pessoais que tenham por finalidade ajudar toda uma população infoexcluída e que não consegue ultrapassar as dificuldades dos sítios e plataformas informáticas mal concebidas.

Num país em que sobram desempregados jovens, com licenciaturas e mestrados, não se entende como ainda não se criou, ao nível das freguesias, um serviço de apoio em rede, capaz de ajudar os cidadãos e os orientar nos meandros da informática e, assim, na solução dos problemas da vida quotidiana que mais os angustiam.

Num momento em que tanto se fala de descentralização, de desertificação de freguesias urbanas centrais e de fuga dos meios rurais, talvez fosse bom o Estado e as autarquias ensaiarem soluções realistas para ajudarem os cidadãos a viver e realizar os seus direitos nos lugares que escolheram para viver e constituir família. 

 

Uma cidadania decadente entre a falta de concretização legal dos direitos e o pesadelo informático para os tentar realizar


Perder uma password, encontrar um caminho menos óbvio para resolver nos sítios públicos, ou privados, uma pretensão, pesquisar longamente quais os sítios adequados e capazes de nos darem respostas úteis e eficientes, transformou-se num pesadelo quotidiano para muitos portugueses, mesmo, por vezes, para alguns mais esclarecidos.


Ouvimos, hoje, um discurso insistente – melhor, um conjunto de discursos díspares – sobre direitos e mais direitos.

Muitos desses discursos versam mais sobre os meios imaginários para os conseguir materializar do que sobre o seu conteúdo efetivo; portanto, sobre o real alcance que possam ter de transformador na vida dos cidadãos.

Maioritariamente, incidem sobre os sítios e plataformas digitais existentes, ou a criar, para que os cidadãos os consigam concretizar.

Todos os discursos – ou quase – sobre a saúde, a educação, a justiça, o fisco, a segurança social e o acesso à habitação apontam para a necessidade de mais e mais meios informáticos, capazes de, supostamente, resolverem os problemas dos que querem fazer valer os seus direitos.

Tudo parece ir resolver-se, afinal, através desse toque de magia da informática.

São discursos tecnocráticos, rebuscados, mas pouco cultos e verdadeiros.

Entretanto, todos os dias, desaparecem muitos dos serviços físicos e pessoais que, nas cidades costeiras, ou no interior do país, apoiavam os cidadãos.

Desparecem as escolas, as repartições de finanças, os correios, os tribunais e até as caixas multibanco começam a rarear.

Parece que todos os cidadãos possuem computadores, ou a eles têm fácil acesso, o que, como se demonstrou nas escolas, durante a pandemia, não é pura e simplesmente verdade.

Os mais velhos não conseguem, de facto, aceder aos ditos meios digitais que iriam, miraculosamente, resolver os problemas mais comuns de gestão da sua vida cívica.

Os mais novos, que os poderiam ajudar, por terem competências para tanto, não são chamados a exercer, a nível local, uma função pública de apoio aos infoexcluídos.

Muitos destes, permanecem, entretanto, desempregados.

Perder uma password, encontrar um caminho menos óbvio para resolver nos sítios públicos, ou privados, uma pretensão, pesquisar longamente quais os sítios adequados e capazes de nos darem respostas úteis e eficientes, transformou-se num pesadelo quotidiano para muitos portugueses, mesmo, por vezes, para alguns mais esclarecidos.

Perdem-se horas, entre as tentativas de solução informática das questões que antes se resolviam facilmente com um atendimento pessoal simples e rápido.

Perdem-se horas, esperando pela resposta telefónica de algum auxiliar, que mal sabe falar português, e que trabalha numa base no estrangeiro.

Perde-se a paciência, perdem-se os cabelos, perde-se a confiança nos serviços públicos, e nos privados que aqueles contratam para, supostamente, melhor os ajudarem a atender os cidadãos.

Perde-se, enfim, a fé na democracia.

De tudo, resulta uma crescente indiferença e desalento dos cidadãos.

Muitos dos direitos mais básicos consagrados na Constituição e na lei acabam, assim, por não ser exercitados, por não terem existência real.

Assiste-se, entretanto e já sem espanto, ao empolgar de soluções e repostas demagógicas e populistas que, na verdade, nada pretendem alterar, apenas procurando aproveitar a indignação ou o cansaço da cidadania.

Umas, mais brutais e diretas, reivindicam o fim da democracia como a conhecemos; outros, porventura mais perigosos, desviam-nos a atenção da necessidade de concretizar os direitos básicos, para mini direitos sobre mini questões.

A informatização dos serviços à cidadania pode constituir, de facto, uma preciosa ajuda; não tenhamos disso dúvidas.

Mas não sejamos demagógicos: ela não resolve tudo e, nesta fase, para muita gente, constitui-se mesmo num pesadelo.

Não se deve, por isso, prescindir dos apoios pessoais que tenham por finalidade ajudar toda uma população infoexcluída e que não consegue ultrapassar as dificuldades dos sítios e plataformas informáticas mal concebidas.

Num país em que sobram desempregados jovens, com licenciaturas e mestrados, não se entende como ainda não se criou, ao nível das freguesias, um serviço de apoio em rede, capaz de ajudar os cidadãos e os orientar nos meandros da informática e, assim, na solução dos problemas da vida quotidiana que mais os angustiam.

Num momento em que tanto se fala de descentralização, de desertificação de freguesias urbanas centrais e de fuga dos meios rurais, talvez fosse bom o Estado e as autarquias ensaiarem soluções realistas para ajudarem os cidadãos a viver e realizar os seus direitos nos lugares que escolheram para viver e constituir família.