Por que razão intervém Cavaco?


São fáceis de entender as razões, a meu ver, por que Aníbal Cavaco Silva decidiu sobressaltar as almas instaladas. Que nunca lhe doa a mão.


Por estes dias veio ao de cima uma certa intolerância cultural, um módico censório que ainda habita a alma portuguesa, cheia de preconceitos e intenções de exclusão do convívio coletivo,  talvez sinais de uma paranoia sociologicamente cultivada e presente desde logo onde se ensina e forma e onde se transmite informação.

Esta comunidade nacional onde se geram apelos ao silêncio na relação com uma personalidade que esteve vinte anos no topo da política portuguesa, uma comunidade que, na prática quer excluir, quando por todo o lado se diz inclusiva a titulo menor e maior, disto e daquilo.

De facto os slogans que entraram no dicionário dos repetidores de ideias “progressistas”, são de um obsoletismo evidente e um dos paradoxos da democracia portuguesa praticada ao mais alto nível vai no seguinte sentido: um retirado da política ativa não deve pronunciar-se naquilo que considera o interesse nacional, na definição do seu próprio tempo de intervenção e na avaliação dos  poderes fácticos do regime.

Esta regra, de aplicação não geral e abstrata seria uma espécie de “argumentum ad hominem”, um moderno “luso-putinismo” aplicado a Anibal Cavaco Silva, catedrático de Economia e Finanças Públicas, ex-diretor do gabinete de Estudos do Banco de Portugal, ex-ministro, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República.

Com exceções. Com Ramalho Eanes em Belém, coincidiu o trabalho preparatório de um partido politico que foi a eleições quando saiu de Belém, o PRD e que teve 18% nas eleições, mas isso já lá vai.

Mário Soares, como Presidente da Republica patrocinou a subversão das maiorias absolutas de Cavaco Silva, foi à Aula Magna vender as ideias que ajudaram Guterres a chegar ao poder e em abril 2014, em plena luta para libertar o país da troika, aliás, chamada pelo partido de Soares, foi à Universidade Nova declarar que “Portugal tem um governo populista e nunca foi tão destruído como é hoje. É preciso mudar o regime para resolver os problemas nacionais que são imensos” e rematava a preclara pronúncia dizendo que “Sem que este Governo desapareça (PM Pedro Passos Coelho) e sem que o Presidente da República desapareça também (PR Aníbal Cavaco Silva), nunca isto vai ao sítio ou vai dificilmente e isso é gravíssimo”, afirmou perante uma sala cheia, principalmente de alunos. Cá fora nada se passou e as virgens ofendidas destes dias ficaram à época pletóricas de orgulho pátrio, pela “coragem” do declarante.

Jorge Sampaio, demitiu um governo com maioria absoluta no parlamento, que colocou um PM do seu partido no poder e, por via de Timor e do relevo do tema nas Nações Unidas, foi para uma Comissão qualquer da ONU e o orgulho pátrio agitou-se.

Cavaco Silva que suportou como pode seis anos de desbragada aventura governativa de Sócrates, rumo à troika em 2011, esse é que não poderá intervir, discutir e ser livre na participação que entender como cidadão livre, exercer o direito de resposta à enormidade pronunciada no momento da tomada de posse do atual primeiro-ministro, que recordou a memória da sua geração dessa “maioria absoluta que se confundiu com poder absoluto”, referindo-se obviamente a Cavaco Silva.

Mas teria sido apenas por este remoque inusitado e em lugar impróprio, a razão porque Cavaco interveio, faz oito dias e com um artigo num jornal online, repôs o que pensava deixando o primeiro-ministro perturbado?

Achamos escasso motivo e é mais provável que a situação do país tenha sido o mote.

A observação dos governos deste primeiro-ministro, permite distinguir linhas mestras que trouxeram o país à situação muito difícil em que se encontra – salários cada vez com menor poder de compra, carga fiscal já de extorsão averiguado, emigração crescente de jovens para a Europa, incapacidade de por o país a crescer, sequer de utilização plena dos fundos comunitários, escolas sem professores, hospitais sem capacidade para operar uma simples hérnia ventral remetendo para calendários inadmissíveis, turistas que ficam horas nos balcões do aeroporto de Lisboa, quadro geral de estagnação no investimento, reformas que queimam popularidade adiadas “sine die” …

A última descoberta deste Governo e do seu primeiro-ministro é a de que o Estado, num quadro inflacionista acelerado, pode garantir aos seus funcionários aumentos de tostões, isto é, perda de poder de compra, que vai arruinar os que trabalham para o mesmo Estado; já para os privados, assumindo o rosto duro da “maioria absoluta” Costa exige das empresas que subam 20 % o salário nos próximos quatro anos, não dizendo se o vai impor por decreto-lei ou através da ameaça sancionatória, bem sabendo que o quadro envolvente de custos nas empresas é altamente variável.

Deste modo, o que Aníbal Cavaco Silva escreveu, com a autoridade que faz mossa pela simples razão de ser portador de credibilidade ausente do palco da política, poderia ser dito pela oposição ou até pelo Presidente da Republica.

Mas o problema é que Portugal se encontra em estado de anemia política e não é com rodriguinhos que levaram o país para o fundo da tabela na União Europeia, que daqui sairemos.

Por isso são fáceis de entender as razões, a meu ver, porque Aníbal Cavaco Silva decidiu sobressaltar as almas instaladas.

Que nunca lhe doa a mão.

Jurista

Por que razão intervém Cavaco?


São fáceis de entender as razões, a meu ver, por que Aníbal Cavaco Silva decidiu sobressaltar as almas instaladas. Que nunca lhe doa a mão.


Por estes dias veio ao de cima uma certa intolerância cultural, um módico censório que ainda habita a alma portuguesa, cheia de preconceitos e intenções de exclusão do convívio coletivo,  talvez sinais de uma paranoia sociologicamente cultivada e presente desde logo onde se ensina e forma e onde se transmite informação.

Esta comunidade nacional onde se geram apelos ao silêncio na relação com uma personalidade que esteve vinte anos no topo da política portuguesa, uma comunidade que, na prática quer excluir, quando por todo o lado se diz inclusiva a titulo menor e maior, disto e daquilo.

De facto os slogans que entraram no dicionário dos repetidores de ideias “progressistas”, são de um obsoletismo evidente e um dos paradoxos da democracia portuguesa praticada ao mais alto nível vai no seguinte sentido: um retirado da política ativa não deve pronunciar-se naquilo que considera o interesse nacional, na definição do seu próprio tempo de intervenção e na avaliação dos  poderes fácticos do regime.

Esta regra, de aplicação não geral e abstrata seria uma espécie de “argumentum ad hominem”, um moderno “luso-putinismo” aplicado a Anibal Cavaco Silva, catedrático de Economia e Finanças Públicas, ex-diretor do gabinete de Estudos do Banco de Portugal, ex-ministro, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República.

Com exceções. Com Ramalho Eanes em Belém, coincidiu o trabalho preparatório de um partido politico que foi a eleições quando saiu de Belém, o PRD e que teve 18% nas eleições, mas isso já lá vai.

Mário Soares, como Presidente da Republica patrocinou a subversão das maiorias absolutas de Cavaco Silva, foi à Aula Magna vender as ideias que ajudaram Guterres a chegar ao poder e em abril 2014, em plena luta para libertar o país da troika, aliás, chamada pelo partido de Soares, foi à Universidade Nova declarar que “Portugal tem um governo populista e nunca foi tão destruído como é hoje. É preciso mudar o regime para resolver os problemas nacionais que são imensos” e rematava a preclara pronúncia dizendo que “Sem que este Governo desapareça (PM Pedro Passos Coelho) e sem que o Presidente da República desapareça também (PR Aníbal Cavaco Silva), nunca isto vai ao sítio ou vai dificilmente e isso é gravíssimo”, afirmou perante uma sala cheia, principalmente de alunos. Cá fora nada se passou e as virgens ofendidas destes dias ficaram à época pletóricas de orgulho pátrio, pela “coragem” do declarante.

Jorge Sampaio, demitiu um governo com maioria absoluta no parlamento, que colocou um PM do seu partido no poder e, por via de Timor e do relevo do tema nas Nações Unidas, foi para uma Comissão qualquer da ONU e o orgulho pátrio agitou-se.

Cavaco Silva que suportou como pode seis anos de desbragada aventura governativa de Sócrates, rumo à troika em 2011, esse é que não poderá intervir, discutir e ser livre na participação que entender como cidadão livre, exercer o direito de resposta à enormidade pronunciada no momento da tomada de posse do atual primeiro-ministro, que recordou a memória da sua geração dessa “maioria absoluta que se confundiu com poder absoluto”, referindo-se obviamente a Cavaco Silva.

Mas teria sido apenas por este remoque inusitado e em lugar impróprio, a razão porque Cavaco interveio, faz oito dias e com um artigo num jornal online, repôs o que pensava deixando o primeiro-ministro perturbado?

Achamos escasso motivo e é mais provável que a situação do país tenha sido o mote.

A observação dos governos deste primeiro-ministro, permite distinguir linhas mestras que trouxeram o país à situação muito difícil em que se encontra – salários cada vez com menor poder de compra, carga fiscal já de extorsão averiguado, emigração crescente de jovens para a Europa, incapacidade de por o país a crescer, sequer de utilização plena dos fundos comunitários, escolas sem professores, hospitais sem capacidade para operar uma simples hérnia ventral remetendo para calendários inadmissíveis, turistas que ficam horas nos balcões do aeroporto de Lisboa, quadro geral de estagnação no investimento, reformas que queimam popularidade adiadas “sine die” …

A última descoberta deste Governo e do seu primeiro-ministro é a de que o Estado, num quadro inflacionista acelerado, pode garantir aos seus funcionários aumentos de tostões, isto é, perda de poder de compra, que vai arruinar os que trabalham para o mesmo Estado; já para os privados, assumindo o rosto duro da “maioria absoluta” Costa exige das empresas que subam 20 % o salário nos próximos quatro anos, não dizendo se o vai impor por decreto-lei ou através da ameaça sancionatória, bem sabendo que o quadro envolvente de custos nas empresas é altamente variável.

Deste modo, o que Aníbal Cavaco Silva escreveu, com a autoridade que faz mossa pela simples razão de ser portador de credibilidade ausente do palco da política, poderia ser dito pela oposição ou até pelo Presidente da Republica.

Mas o problema é que Portugal se encontra em estado de anemia política e não é com rodriguinhos que levaram o país para o fundo da tabela na União Europeia, que daqui sairemos.

Por isso são fáceis de entender as razões, a meu ver, porque Aníbal Cavaco Silva decidiu sobressaltar as almas instaladas.

Que nunca lhe doa a mão.

Jurista