Portugal tem gradualmente descido na sua posição competitiva na Europa e no Mundo. O país está gradualmente mais atrasado e simultaneamente mais endividado. Esta indesejável situação de perigo e fragilidade é consequência da falta de competência e esclarecimento dos sucessivos governos provenientes de um sistema político excessivamente fechado. O sistema político português, assente em partidos, é essencialmente ocupado por cidadãos interessados numa carreira política na qual se assiste com frequência a uma forte correlação com a falta de experiência profissional e técnica além de um conjunto de funções estritamente políticas onde, em grande medida, aspetos de gestão social e financeira estão pouco presentes. Considero que parte significativa do nó górdio em que a economia portuguesa se encontra, reside precisamente no organigrama, processos e modelo de acesso a cargos eleitos e de nomeação.
A reforma do sistema político no que a processos de trabalho, organigrama e modelo eleitoral, com particular destaque para a eleição de deputados, funcionamento dos partidos políticos, e relação entre órgãos legislativos, executivos, e de controlo tornando-os mais ágeis, abertos, democráticos e exigentes constitui o passo sem o qual dificilmente os outros caminhos necessários à inovação e desenvolvimento poderão ser percorridos. Esta condicionante levanta problemas sérios à forma como a nação é gerida e a respectiva regeneração e mudança, nos termos da constituição, passa pela vontade do próprio sistema constituído pelos políticos cidadãos e partidos que o ocupam, o regenerarem. À luz da natureza humana e da história as mudanças dificilmente se fazem em sede própria, razão pela qual, a história política e social está carregada de períodos de contestação e revoluções – nem sempre pacíficas.
Os portugueses demonstraram ao longo da história uma enorme abertura e capacidade de mudança. A revolução de 25 de Abril de 1974 é a última demonstração dessa vontade e capacidade de mudança. Também nessa fase da história o sistema era ocupado por aqueles que teimosamente resistiram à democracia, à modernidade e à inovação social. A incapacidade para modernizar e regenerar constituiu o catalisador da revolução. Passados quase 50 anos é absolutamente evidente que o modelo atualmente em funcionamento está muito necessitado de regeneração. Os resultados que proporcionam ao povo português, à economia portuguesa e à qualidade de Portugal são substancialmente inferiores ao potencial que o país apresenta.
Há caminhos novos para percorrer no sistema político, na criação de riqueza, nas ciências do trabalho e da empresa, no modelo de sustentabilidade social, no modelo cívico e educacional, na justiça, na capacidade energética, na segurança nacional e das pessoas, no papel de Portugal na Europa e no Mundo para serem percorridos. Há um potencial no território, na zona marítima e no talento e capacidade de trabalho dos portugueses que se encontra desaproveitado.
Fazem falta estadistas que pensem o longo prazo e tenham a capacidade de contaminar o povo português nesse desígnio de desenvolvimento e inovação socioeconómica. A nota dominante nas últimas décadas tem sido a perca de competitividade e qualidade de vida de Portugal e dos portugueses. Faço votos para que as oportunidades e os desígnios de mudança encontrem os protagonistas no local e no tempo necessário.
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”