Não sei se alguma vez aconteceu algo semelhante, mas, confesso, teve a sua graça. O Presidente da República ficou furioso por saber a composição do novo Governo pela comunicação social – e aqui, por mais voltas que queiram dar, foi o Nascer do SOL e o i que mais ministros anunciaram e se confirmaram, até a história de João Cravinho inicialmente apontado para a recondução na Defesa estava certa – e decidiu dar um murro na mesa e recusou receber o primeiro-ministro que lhe ia entregar um Governo novo, apenas com uma surpresa: o omnipresente Pedro Adão e Silva. Isto tudo em direto para as televisões. Melhor era impossível. Calculo que lá fora, se existirem bons correspondentes em Portugal, a notícia tenha merecido um sorriso em muitas caras.
Marcelo quis dizer a António Costa que não aceita o papel de “palhaço” e anunciou alto e bom som que é preciso contar com o Presidente da República. Está assim dado o mote para um mandato governamental que não contará com um Presidente corta fitas. Apesar da maioria absoluta, Marcelo vai afastar-se da imagem de amigo do Governo e quererá conquistar o seu espaço, talvez mais distante do que no primeiro e no segundo Governos de António Costa.
Não deixa de ser irónico que um dos atores políticos que mais notícias espalhou pela comunicação social se queixe do veneno que lhe foi servido.
Os mais puristas nas questões institucionais recordam os Governos de Cavaco Silva onde praticamente nenhum nome era conhecido até a lista dar entrada em Belém. Consta mesmo que Cavaco ameaçava os convidados que os desconvidaria se o nome deles aparecesse na comunicação social antes da lista ser entregue ao Presidente da República. Afinal, parece que Cavaco e Marcelo têm mais em comum do que se poderia pensar, embora Marcelo não possa desconvidar um governo inteiro.
As próximas reuniões entre o primeiro-ministro e o Presidente da República serão, seguramente, muito apimentadas.