A ausência dos melhores na governação dos destinos coletivos tem tido, no caso português, um conjunto de consequências muito prejudiciais à qualidade de vida e à robustez da economia.
O atual sistema político está significativamente melhor preparado para evitar que os maus governantes fiquem para sempre, que focado em garantir que sejam eleitos os melhores.
Camões identificou, noutra época, problema semelhante: “O fraco rei faz fraca a forte gente” foi escrito n’Os Lusíadas numa clara advertência às nefastas consequências da fraqueza da liderança nos destinos coletivos.
Esta constatação identifica a natureza da origem do problema que enfrentamos em décadas de sistema democrático e está na base do continuado adiamento das reformas necessárias ao desenvolvimento económico e social do país.
A validação de um percurso meritocrático que um sistema interessado em garantir os melhores na governação deveria conter, não faz parte do sistema vigente, e constitui, em minha opinião, um dos principais entraves ao desenvolvimento da sociedade portuguesa.
O sistema vigente assenta no controlo nocivo e exagerado por parte das máquinas partidárias no acesso às candidaturas, com particular destaque nas candidaturas ao parlamento. No que ao poder local diz respeito houve evoluções significativas e consequentemente tem-se assistido, com resultados particularmente interessantes na qualidade da governação, ao crescimento de candidaturas independentes em eleições autárquicas.
O sistema vigente fomenta a carreira política de militantes em detrimento de características e conquistas curriculares. A caracterização curricular e meritocrática dos candidatos, deveria, numa perspetiva de qualidade da representação e governação, constituir elemento necessário no acesso a candidaturas. Desse modo ter-se-iam evitado vários desastres na nossa história recente no que à qualidade da governação diz respeito. Muitos dos nomes da história recente seriam certamente anónimos remetidos a níveis de decisão e competência substancialmente mais limitados. O resultado da governação desses, é o excesso de endividamento e a fraca posição da economia portuguesa em contexto internacional.
O ambicionado desenvolvimento exige uma democracia de qualidade. Uma democracia de qualidade deve exigir critérios de meritocracia no que ao acesso ao poder diz respeito. A governação dos destinos coletivos é demasiado séria para se aceitar que os partidos políticos se tenham transformado em central de distribuição de lugares. Precisamos de qualidade na governação. Como em qualquer outra atividade, não é possível atingir níveis de excelência e inovação sem lideranças altamente preparadas e qualificadas.
As próximas eleições legislativas, poderão evitar a continuação de maus governantes. Tenho sérias dúvidas que venham a eleger os melhores, porque me parece evidente, que os melhores não são, ainda, candidatos.
É a mudança do sistema político numa evolução da democracia que poderá garantir que alteramos o modelo de acesso às candidaturas ao parlamento. Até lá assistiremos ao resultado de um sistema que não promove, de forma meritocrática, os melhores preparados para governar.
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”