Até ao final de novembro nova variante seria residual. E agora?

Até ao final de novembro nova variante seria residual. E agora?


Análise de amostras semanais é publicada com uma semana de desfasamento pelo INSA. Cientistas identificam duas linhagens da Omicron, uma mais difícil de vigiar.


Pelo menos até 28 de novembro a circulação da nova variante Omicron em Portugal, a existir já sem ligação a pessoas com estadia recente no estrangeiro, seria “residual”. A avaliação foi esta terça-feira publicada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que divulgou como é habitual às terças-feiras o resultado da avaliação da sequenciação genómica da última amostra semanal de casos, ao todo 308 casos na semana que se iniciou a 22 de novembro e terminou a 28. Representam 1,4% dos cerca de 20 500 casos registados no país naquela semana, menos do que na semana anterior. Desde então, na última semana, o país registou mais quase 25 mil novos casos de covid-19 e a amostra semanal desse período ainda está a ser feita, indicou o INSA. Há assim um período de mais de uma semana sem dados além dos casos que são estudados por terem ligação a países onde a variante circula, que pela informação que começa a chegar de outros países europeu onde já foi confirmada circulação comunitária podem fazer diferença. Na Dinamarca estão confirmados já mais de 380 casos, com as autoridades a admitirem ontem que perante o ritmo de disseminação do vírus já não é proporcional usar recursos extra para tentar “eliminar” esta variante, disse Soren Brostrom, da autoridade de Saúde, sendo esperado esta quarta-feira o anúncio de medidas para conter o seu aumento. No Reino Unido, o Governo indicou ontem que os dados preliminares da circulação da variante no país, onde estão confirmados agora 437 casos, uma duplicação nos últimos dois dias, sugerem que será mais transmissível do que a delta, até aqui dominante, o que está a levar a rever medidas também no mesmo sentido: conter o aumento. O reforço do teletrabalho até meio de janeiro é uma das medidas que está a ser recomendada.

Nova linhagem vem dificultar monitorização Com os olhos da comunidade científica postos na nova variante, há agora um revés numa das técnicas que estava a ser usada para despistar a variante em tempo real a partir dos resultados de testes PCR, que permitem detetar uma falha no gene S, associada inicialmente como característica da nova variante como já tinha acontecido com a variante inglesa no Natal passado – e que permitia ter dados mais atempados sobre a sua propagação sem esperar pelas análises genómicas, mais morosas e que são feitas numa percentagem menor dos casos na maioria dos países. Como o Nascer do SOL noticiou, esta técnica já em uso na África no Sul e no Reino Unido para sinalizar casos suspeitos da nova variante tem estado a ser preparada pelo INSA em conjunto com a Unilabs. Ontem no Reino Unido veio a público um elemento adicional que vem complicar estes planos de monitorização em tempo real: Foram detetadas já duas linhagens diferentes da variante Omicron, classificadas como BA.1 e BA.2, e a segunda pode não ser despistada nos testes PCR, explicou François Balloux, diretor do Instituto de Genética do Colégio Universitário de Londres (UCL na sigla inglesa), ao The Guardian, indicando que 6% das amostras de Omicron submetidas internacionalmente eram desta linhagem BA.2.

Entre o otimismo e a incerteza Entretanto, da África do Sul continuam a chegar sinais de que a variante tem causado doença menos severa, numa altura em que a Europa, mais vacinada mas também mais envelhecida, tenta ainda perceber que impacto terá. As projeções sobre a evolução da pandemia continuam a apontar para um aumento de casos de covid-19 nas próximas semanas, mas não incorporam ainda a nova variante. A Universidade de Washington suspendeu durante uma semana a atualização das projeções para reunir mais informação.

Já as projeções do ECDC para Portugal, atualizadas ontem, mostram um elevado intervalo de incerteza. Atualmente projetam que Portugal poderia entrar em 2022 com cerca de 40 mil novos casos semanais, uma média de 5700 casos por dia, mas há modelos a prever mais de 80 mil casos semanais e outros 20 mil. A mortalidade mantém também nas projeções para Portugal uma tendência crescente, projetando-se mais de 200 mortes associadas à covid-19 por semana no final do ano – muito menos do que no ano passado, mas um agravamento face à situação atual.

Em novembro foram reportadas em Portugal 296 mortes por covid-19, quando em novembro de 2020 foram mais de 2 mil. Os meses com mais mortes seriam janeiro e fevereiro, quando morreram em Portugal perto de 10 mil pessoas com diagnóstico de covid-19, metade das mortes desde o início da pandemia, num período coincidente com recordes de infeções, sobrecarga nos hospitais e uma vaga de frio e em que a vacinação dos idosos dava ainda os primeiros passos. Atualmente a pressão nos hospitais devido à covid-19 mantém-se muito abaixo do ano passado, com 936 pessoas hospitalizadas com covid-19, 133 em UCI, 52% da capacidade definida este ano pelos peritos que dão apoio ao Governo como linha vermelha para não afetar a resposta a outros doentes.