De tempos a tempos, ao ver os protestos dos jovens contra o aquecimento global, não posso deixar de sentir-me um pouco culpado. Depois, oiço os lamentos de António Guterres e o peso da culpa torna-se ainda maior. E, se por acaso vejo as notícias dos glaciares que derretem, fico a sentir-me pouco menos do que um terrorista ou um criminoso.
Com o mercúrio dos termómetros em níveis altíssimos para esta época do ano, pergunto-me qual o contributo das emissões do meu velho carro a diesel para as temperaturas inusitadas… E cada segundo a mais no duche sei que é meio litro de água que roubo às florestas.
Às vezes penso que só nos resta retirarmo-nos para cabanas e alimentarmo-nos de raízes, bagas e ervas comestíveis.
Mas felizmente, segundo Guterres e outros, parece que chegou uma geração messiânica que vai salvar a humanidade e redimir-nos dos nossos pecados. A geração dos nossos filhos.
Desde a mais tenra idade que aprendem a proteger a natureza, a não gastar água, a reciclar, a cuidar do planeta.
Felizmente não gostam de jogos de computador, detestam tablets e telemóveis de último modelo. Aliás, não ligam nenhuma à tecnologia. Não usam ténis nem roupas de marca, não gostam de guloseimas nem de hambúrgueres.
Não são minimamente consumistas, nunca pedem para lhes comprarmos nada, detestam centros comerciais. Não gastam uma gota de água mal gasta, nunca deixam uma torneira a correr nem uma lâmpada acesa. Estimam o material escolar, que lhes dura anos e anos. São poupadíssimos! – não desperdiçam um cêntimo, mas desprezam o dinheiro e os sinais exteriores de riqueza (não fazem ideia do que é um Lamborghini ou um Bugatti). Só brincam com brinquedos amigos do ambiente, nunca as suas mãos tocaram numa garrafa de plástico ou noutro objeto descartável.
Ainda bem que eles vieram para nos salvar, enquanto nós, na nossa inconsciência, vamos destruindo o planeta.