Rui Rio: desprovido ou agente infiltrado?

Rui Rio: desprovido ou agente infiltrado?


Artigo escrito a 7 de julho de 2021 e apenas agora publicado.


Este artigo foi escrito a 7 de Julho de 2021, e apenas será publicado após as eleições autárquicas, para que em circunstância alguma pudesse constituir um elemento de desmobilização do voto nos candidatos autárquicos do PSD que, por este país fora, regra geral, demonstram uma enorme vontade em melhorar as condições de vida das populações nas regiões às quais se candidatam e a quem, em várias localizações, tenho expresso e entregue o meu apoio.

Considero o cargo de liderança do PSD uma das funções mais importantes no que respeita ao contributo para um Portugal mais inovador, moderno, justo, inclusivo e economicamente robusto. Modernidade, equilíbrio social e adequada distribuição da riqueza constituem a base da matriz original do pensamento social democrata; foi na defesa desses princípios de sociedade que o partido se alicerçou e, por isso, ganhou a simpatia de uma proporção muito significativa, várias vezes maioritária, da população portuguesa. Um bom desempenho do líder do PSD é acima de tudo um contributo para o bem-estar de todos. O mau desempenho do líder do PSD, que é sempre um candidato natural a primeiro ministro, a todos prejudica.

Falei com o Dr. Rui Rio, atual presidente do PSD, então candidato à presidência do partido em campanha eleitoral uma única vez no final de 2017. Foi uma breve conversa onde lhe apresentei três propostas inovadoras, contemporâneas e, na minha perspetiva, de alto valor para o partido e para o país. Apenas aqui revelo a parte da conversa por mim pronunciada, escusando-me, por respeito ao direito à privacidade do meu interlocutor, de revelar a resposta obtida. Refiro ainda que a resposta dada me remeteu a uma posição de enorme descrença quanto às capacidades de liderança e inovação do então candidato a presidente do PSD. Propus, para o partido, a possibilidade de aproximar a Juventude Social Democrata de um conjunto de ações de solidariedade e responsabilidade social, modernizando, inovando e atualizando a prática de intervenção política dos jovens sociais democratas a contributos contemporâneos de promoção de uma sociedade mais equilibrada e solidária. Propus, para o país, a criação de um órgão de governação executiva, que fizesse o encontro entre todos os presidentes de câmara e o governo, promovendo desse modo um conjunto de implementações estandardizadas em todo o país, que trariam maior eficiência ao funcionamento das câmaras municipais assim como poupanças muito significativas num conjunto muito vasto de investimentos, contribuindo para um Portugal mais desenvolvido e equilibrado.

Por fim, ao abrigo do facto do nosso país deter uma zona económica marítima exclusiva das maiores do mundo, propus que Portugal defenda a criação da força militar conjunta europeia para que possa, através dessa importante medida para a paz mundial, angariar uma posição relevante na competência da armada e segurança oceânica, criando assim uma robusta economia oceânica e aeroespacial, com o consequente impacto positivo e sustentável na economia e emprego qualificado à disposição dos portugueses.

Passados quase quatro anos sobre a conversa, não só concluo quanto à acuidade da perceção que aí tive, como também ficou, para mim, fortemente reforçada a consciência da inabilidade para o desempenho de tão nobre e importante função. O presidente do PSD foi ao longo deste tempo um aliado de peso do desastre da governação socialista. As suas ações provocaram, de um modo sistemático, uma apatia no eleitorado e uma descrença no PSD, prejudicando a atratividade dos candidatos que o PSD apresentou. Assisti, ao longo destes anos, a um incompreensível falta de organização, estratégia, visão e liderança minimamente atrativas, sem as quais o valor das candidaturas às eleições autárquicas aparece, naturalmente, diminuído. Questiono-me se não será mesmo um agente infiltrado ao serviço do governo socialista, porque revelou, pelas suas ações, estar muito mais próximo dessa função do que da de líder da inovação e modernidade para Portugal que o presidente do PSD deve representar. Ou será apenas desprovido do imprescindível talento e criatividade necessários a tão nobre função? Qualquer que seja a origem de tão frágil performance a consequência é a mesma. A ausência de um contributo indiscutível ao valor da proposta política que o PSD deve, na sociedade portuguesa, representar.

Não me lembro de um governo tão mau, tão fraco. De uma gestão socialista e geringonçária tão débil nas principais capitais de distrito e nos principais centros urbanos. Só por essa razão deveria ser relativamente simples ganhar as eleições. O PSD só não ganhará as eleições porque o seu presidente, no lugar de acrescentar valor às candidaturas, retira valor; muito valor. O PSD tinha a oportunidade e a obrigação de apresentar um programa autárquico para as eleições de 2021, com elementos claros de política de intervenção local que constituíssem a base das propostas e compromissos sociais democratas no que a garantias de políticas de limpeza, civismo, segurança, apoio social, apoio às creches e escolas, dinâmicas empresariais e elevador social respeitam. Essas, ou outras, deveriam constituir a bandeira comum que os candidatos autarcas deveriam pelo país todo, de um modo uníssono, defender e assumir como compromisso de governação local.

O PSD desperdiçou uma importante oportunidade de apresentar uma alternativa credível, clara e ambiciosa para a forma como Portugal necessita ser governado – desta vez ao nível do influente poder local. Veja-se o que aconteceu nas últimas décadas na forma como o município de Oeiras foi governado. Foi através da intervenção do poder local que Oeiras atingiu os melhores índices de qualidade de vida, formação, rendimento e riqueza, inovação e segurança do país. Esse modelo deve servir de inspiração ao modo como se planeia a intervenção das políticas ao serviço de uma visão que alicerce a criação de riqueza e o desenvolvimento de melhores condições de vida.

Ao PSD exige-se mais. Exige-se que seja liderado por quem tenha visão e tenha provas dadas. O PSD devidamente liderado constitui um contributo incontornável à qualidade de vida das pessoas. O país necessita de mudar muito e rápido. Para que tal aconteça precisamos de um PSD inovador, credível, arrojado e ambicioso, e porque esse requisito não é cumprido pela atual liderança, é chegada a hora de uma profunda regeneração.

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”