Portugal tem gradualmente visto a sua imagem internacional melhorar. Este feito resulta de uma multiplicidade de fatores a que não são alheios os nomes associados ao desporto, às artes, à arquitetura, à literatura e até à política, que nas últimas décadas mostraram ao mundo um Portugal de gente capaz, inovadora e de referência mundial. Há também contributos muito relevantes em termos de inovação científica e tecnológica que associados a um melhor ordenamento do território e evoluções extremamente significativas em índices de civismo, contribuíram para tornar Portugal num país com muito boa imagem internacional.
Porém, como país supostamente desenvolvido e com tantas referências positivas, são pouco aceitáveis as disparidades que existem no que à qualidade de vida das populações diz respeito em territórios urbanos tão próximos – essa disparidade é própria de países menos desenvolvidos, onde a extrema pobreza convive paredes meias com a riqueza multimilionária.
No próximo domingo 26, teremos eleições autárquicas. Estou absolutamente convicto da necessidade das populações pararem para pensar, decidindo-se por mudanças profundas nos protagonistas políticos associados à governança dos municípios de áreas onde os indicadores de qualidade de vida se encontram muito aquém das melhores práticas em territórios mesmo ao lado.
No que à área metropolitana de Lisboa (AML) diz respeito, há todo um conjunto de municípios cujos níveis de desenvolvimento estão excessivamente abaixo da média e, mais grave, encontram-se excessivamente abaixo do seu potencial. Esse é o resultado de má governação continuada. Uma observação simples, e acessível a todos, mostra bem a origem política de quem tem, ao longo das últimas décadas, governado esses municípios. Poderíamos falar do Seixal, da Moita, do caso gritante de Almada e de muitos outros, tanto na margem sul como na margem norte do rio Tejo. Vamos apenas aqui focar, de uma forma muito objetiva, em dois municípios vizinhos da capital do país: Amadora e Odivelas. Estes são, logo à partida, os dois municípios mais densamente povoados, o que de si denota uma má gestão ao nível do ordenamento territorial. São os dois municípios com maior taxa de reprovação e desistência escolar entre o 10º e o 12º ano, e apresentam a clássica e indesejável correlação com índices de poder de compra substancialmente abaixo da média da região. Em simultâneo apresentam as mais altas taxas de mortalidade de empresas da região metropolitana o que reflete bem a convivência entre uma enorme vontade em empreender e a enorme dificuldade de sobrevivência do ecossistema socio económico.
Em Odivelas, o ganho mensal médio dos trabalhadores por conta de outrem é 20% mais baixo que a média Nacional; em simultâneo o preço médio na compra de casa é 30% superior à média do país. Esta pequena relação (entre os que as pessoas ganham e quanto precisam para pagar casa em Odivelas) é já bem demonstrativa das dificuldades financeiras que os cidadãos enfrentam. Os dados mostram que em termos de bem-estar material, as pessoas de Odivelas se encontram na cauda da AML; pior só a Moita, outro admirável exemplo das magnificas políticas da geringonça. A Amadora e Odivelas, em conjunto com Sintra e a Moita, têm o mais baixo consumo elétrico por habitante (de longe) da AML – podemos facilmente entender porquê. O fraco rendimento disponível obriga as pessoas a poupar na eletricidade que é um bem de primeira necessidade. Podemos facilmente concluir quanto às consequências na qualidade e conforto na vida das pessoas…. Bom seria que esse baixo consumo de eletricidade resultasse de uma sociedade altamente avançada e inovadora do ponto de vista energético. Não é o caso. O baixo consumo é resultado de pobreza.
Amadora, Odivelas, Vila Franca e Loures apresentam as mais baixas taxas de lixo recolhido de forma seletiva na AML. É espantoso como PS, Bloco e PCP reclamam para si a responsabilidade do civismo energético e ambiental, demonstrando nos seus bastiões de governação urbana uma total incapacidade de execução. Odivelas e a Amadora têm, de longe, na AML, a mais baixa taxa de despesa da autarquia em ambiente, e a mais baixa taxa de utilização de água canalizada. Vive-se na Amadora e em Odivelas com realidades, muitas vezes escondidas, próprias do 3º mundo de regimes pouco democráticos. Em Portugal é resultado de incompetência ao nível do poder local na gestão do bem comum. Apesar do resultado da governação nestes municípios quando comparados com a Área Metropolitana ser idêntico ao resultado da governação socialista no país, quando o comparamos com o espaço europeu, não nos impede de concluir quanto ao desrespeito pela dignidade do cidadão, nomeadamente dos mais desfavorecidos. Estamos cada vez mais na cauda da Europa. As pessoas vivem com baixos rendimentos; os trabalhadores são mal pagos, a carga fiscal é uma exorbitância; os jovens não têm acesso a rotas de independência e são obrigados a viver em casa dos pais até cada vez mais tarde.
Os cidadãos da Amadora e de Odivelas têm no dia 26 a oportunidade de escolher novos atores, melhor preparados, com uma visão mais inovadora, e com uma enorme vontade de trabalharem ao serviço da comunidade. Os candidatos Suzana Garcia e Marco Pina representam uma nova geração de atores políticos, descomprometidos e cheios de energia e conhecimento. Vale a pena olhar para o trajeto de vida de cada um deles; vale a pena olhar para as propostas de cada um deles; vale a pena ver a garra, a juventude e a excelente energia que cada um deles trouxe à vida política local. Vale a pena dar-lhes a oportunidade de trabalharem para melhor qualidade de vida nas regiões às quais se candidatam.
Mais riqueza, maior qualidade de vida, melhores regiões, necessitam de novas políticas e novos atores.
Eduardo Baptista Correia
CEO do Taguspark e professor da Escola de Gestão do ISCTE