Aprenda a criar o seu próprio negócio

Aprenda a criar o seu próprio negócio


A par da ideia e do modelo de negócio, o financiamento é uma das principais preocupações. Recorrer ao crédito bancário é a solução mais óbvia, mas há alternativas. Há negócios para todos os gostos. Uma nova geração de atividades requer investimentos baixos.


Não depender de terceiros ou a simples ideia de realizar um sonho são dos motivos que poderão levá-lo a criar o seu próprio negócio. Uma solução que poderá ganhar um novo fôlego tendo em conta esta fase de pandemia, em que muitos poderão ter tido mais tempo para pensar no que pretendem fazer em termos profissionais em numa altura, em que a taxa de poupança bateu níveis recorde. Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, no final de julho, havia perto de 170 mil milhões de euros em depósitos, com o valor aplicado nestes produtos a engordar 1,4 mil milhões de euros face ao mês anterior.

Mas se a tarefa pode parecer, à primeira vista, complicada, é bastante mais simples do que parece. Ter uma boa ideia – embora não seja tudo – é o requisito inicial para constituir uma empresa. A partir daí é necessário recolher informação e desenvolver o conceito (ver coluna ao lado).

Segue-se a angariação de capital. E é aí que poderão começar os problemas. O ideal seria financiar o seu negócio com capitais próprios, mas a percentagem de empreendedores que conseguem criar uma empresa sem recorrer a financiadores externos é residual. Por isso, deve estar preparado para defender o seu projeto junto da banca, de investidores privados ou de empresas de capital de risco.

O recurso às instituições financeiras é uma das formas mais óbvias e comuns de os empreendedores conseguirem obter financiamento, mas o certo é que o acesso ao crédito continua restrito. Ao contrário da habitação e do consumo, o crédito a empresas continua a abrandar. De acordo com os últimos dados do Banco de Portugal, o novo crédito às empresas totalizou os 2668 milhões de euros.

Microcrédito Outra hipótese passa por recorrer ao microcrédito. Geralmente, é a solução para todos aqueles que não têm acesso ao crédito bancário normal e desejam realizar um pequeno investimento. Para isso, os empreendedores não podem ter registo de incidentes não justificados no sistema bancário. Por norma, o valor do empréstimo tem alguns limites e varia dos mil aos 15 mil euros. A ideia é apoiar projetos que têm condições de sucesso, mas conte também com entraves. A explicação é simples: muitos dos potenciais microempresários têm incidentes bancários ativos ou por outros motivos ligados ao negócio ou às suas condições pessoais.

Existe ainda outra modalidade, o Microinvest, que permite um financiamento máximo de 20 mil euros, mas as condições de acesso são restritas: desempregados involuntários inscritos no centro de emprego, desempregados voluntários inscritos no centro de emprego há mais de nove meses, jovens à procura do primeiro emprego e trabalhadores independentes com rendimento médio mensal inferior ao salário mínimo no último ano. E nem todos os projetos são aprovados. De acordo com a associação, a maioria dos pedidos que chegam à entidade são recusados porque, em muitos casos, o projeto não tem viabilidade.

Já a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) – que também gere um programa nacional de microcrédito – financia a concretização de projetos, mas com um limite máximo de financiamento que ronda os 20 mil euros. “Este microcrédito destina-se a todos aqueles que, demonstrando um perfil empreendedor, sentem dificuldades em ingressar no mercado de trabalho e estão, por isso, em risco de exclusão social. São igualmente destinatárias do programa as cooperativas e microentidades que apresentem projetos viáveis com criação líquida de postos de trabalho”, diz.

Capital de risco Apostar no capital de risco é outra via para quem quer lançar o seu negócio mas não tem o capital necessário. Esta opção é aplicável a projetos de arranque, expansão, modernização e inovação empresarial. O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) é o principal financiador público de fundos de capital de risco. As participações no capital social das empresas concretizam-se pela realização de aumentos de capital que podem ser complementados por suprimentos, prestações suplementares de capital ou outros instrumentos financeiros análogos por parte de um operador especializado nesta área.

Geralmente, as participações são temporárias e, na generalidade dos casos, minoritárias. O operador de capital de risco intervém na empresa com o objetivo de criar valor, alienando a sua participação num prazo médio de três a sete anos.

 

Guia SOS para o microcrédito 

O que é o microcrédito? É um pequeno empréstimo bancário destinado a apoiar pessoas que não têm acesso ao crédito bancário mas querem desenvolver uma atividade por conta própria. 

Qual o montante máximo que pode ser pedido? O montante máximo depende da entidade a que recorrer, mas varia entre os 15 mil e os 20 mil euros. No entanto, na maioria dos casos, a verba é disponibilizada em tranches: a primeira no início do primeiro ano e a segunda, no montante complementar, no início do segundo ano, se as condições de evolução do negócio o justificarem. No caso do Microinvest, o financiamento é feito através de tranches: 50% + 25% + 25%, mas 
a libertação de cada tranche está sujeita à apresentação de comprovativos das despesas anteriores. E caso o negócio seja fechado antes do final da amortização, o candidato terá de reembolsar os encargos suportados pelo IEFP. Há também penalizações com as moras: o não cumprimento do pagamento de uma prestação fará com que o empréstimo vença de imediato, estando o candidato sujeito às devidas penalizações e à perda dos benefícios do programa Microinvest.

Que tipo de negócio? Todos os tipos de negócio são admissíveis, desde que se verifique que podem ter êxito com o financiamento disponível e que o exercício da respetiva atividade não contrarie os princípios pelos quais se rege o microcrédito.

Cinco passos para criar um negócio

Definir a ideia
Nesta fase, o investimento do empreendedor não se contabiliza em euros, mas em tempo despendido na conceção da ideia. No momento de estruturar a ideia de negócio, o empreendedor deve considerar vários pontos: experiência profissional, perfil do consumidor, oportunidade de negócio e a existência ou não de projetos empresariais semelhantes.

Testar a ideia
Só faz sentido criar uma empresa se o mercado necessitar do produto ou do serviço que quer oferecer. Esta é a altura em que vai começar a verificar se a sua ideia tem potencial e é nesta fase que deve começar a procurar informação sobre aquilo de que vai necessitar para concretizar o seu projeto.

Elaborar o plano de negócios
Vai ter de passar para o papel todas as ideias. É o momento de discutir estratégias e definir prioridades. Esta é uma das etapas fundamentais para o sucesso da empresa.

Obter capital 
Há várias opções, mas é preciso uma estimativa realista das necessidades de capital para o arranque do negócio. A partir daqui será mais fácil definir onde deverá dirigir-se para conseguir esse financiamento.

Iniciar a atividade
Se sobreviveu a todas estas fases, é chegado o momento de iniciar a atividade. Não se esqueça de verificar se todos os pormenores estão operacionais para receber o cliente – das instalações aos recursos humanos e às estruturas de comunicação.

 

Franchising. Negócios testados a vários preços

Apostar numa atividade já testada e com provas de sucesso é uma das mais-valias de investir no franchising – ou seja, permite a quem tem pouca ou nenhuma experiência empresarial abrir um negócio com menos risco e maior probabilidade de ser bem-sucedido, porque beneficia de estar inserido numa rede de apoio e formação por parte da estrutura do franchisador e da notoriedade de uma marca já existente. Mas também exige custos acrescidos, já que é obrigado a pagar contrapartidas financeiras (direito de entrada, royalties, etc.).

De acordo com o Instituto de Informação em Franchising (IIF), a modalidade é vista cada vez mais como uma solução de autoemprego pelos portugueses. Para tal tem contribuído o aumento de negócios de baixo investimento, mas também o próprio formato de franquia que, ao assentar em conceitos já testados no mercado, oferece maior segurança a quem quer criar o seu negócio.

E até 24 de setembro, a APF – Associação Portuguesa de Franchising vai realizar uma semana dedicada ao mundo do franchising, lançando um conjunto de webinars diários com vários temas sobre o setor com acesso 100% online e gratuito.

Oferta variada Há negócios para todos os gostos e preços. De acordo com o instituto, é possível iniciar uma atividade com valores baixos, sobretudo no setor dos serviços, em que muitas vezes não há a obrigatoriedade de ter um espaço específico para o negócio, podendo funcionar-se a partir de casa ou num espaço de coworking. No entanto, apesar de o investimento inicial ser baixo, é importante que o empresário assegure, pelo menos, mais de 30% do valor inicial para que possa ter algum fundo de maneio.

De acordo com os dados disponibilizados pelo IIF, para investir na mediação imobiliária necessita entre 25 mil e 250 mil euros – depende da marca que escolher. Já para investir no Intermarché, por exemplo, precisa de aplicar 200 mil euros; para a DETAILS (moda e acessórios), são 20 mil euros. Mas se optar pela restauração, os valores sobem. Tanto o Burger Ranch como o McDonald’s requerem mais de 250 mil euros. 

O IIF aconselha o potencial franchisado a analisar em que fase de crescimento se encontra o franchisador e, depois de selecionar a marca, a assinar um pré-contrato antes do definitivo. “Desta forma consegue ter acesso aos manuais operacionais. Contudo, tal implica não divulgar nenhuma das informações a terceiros”, conclui.