Fernando Medina foi dos primeiros responsáveis políticos portugueses a manifestar disponibilidade (da Câmara de Lisboa) para receber refugiados afegãos. Fê-lo numa altura em que António Costa e Augusto Santos Silva estavam de férias e em que a primeira-ministra em regime de substituição, Mariana Vieira da Silva, nem uma palavra dedicou à crise humanitária e política que se vive no Afeganistão e que abala a Europa e o Mundo. Dá-se a coincidência de o presidente da Câmara de Lisboa ser o mesmo que ainda há tão pouco tempo veio publicamente pedir desculpa pelo facto de a instituição a cuja presidência se recandidata ter partilhado dados de ativistas asilados em Portugal com as embaixadas e governos dos respetivos países, que não primam por ter regimes democráticos nem serem zelosos cumpridores dos direitos humanos. Apesar desse pedido de desculpas, Fernando Medina remeteu toda a responsabilidade para os serviços camarários, propôs a demissão do responsável pela proteção de dados da CML, que veio a ser aprovada pela Assembleia Municipal, e anunciou a mudança de procedimentos por forma a tão clamorosa e grave falha não voltar a repetir-se. Ora, é precisamente com este cenário ainda tão presente que a direção do Bloco de Esquerda veio convocar a comunicação social para uma ação de campanha com a participação da coordenadora do partido, Catarina Martins, e da candidata à Câmara de Lisboa, Beatriz Gomes Dias, num centro de acolhimento de refugiados afegãos. E, na nota enviada às redações, vá de indicar a morada do dito centro de refugiados. Como é óbvio, os vários locais pelos quais foram distribuídas as dezenas de refugiados afegãos são sigilosos, em nome da sua proteção e segurança – como o Governo bem fez questão de sublinhar. Tal como a RTP noticiou, a autorização para esta ação de campanha da coordenadora e da candidata do BE foi dada pelo vereador que representa o mesmo partido na CML. Perante isto, o presidente da Câmara de Lisboa prestou declarações à RTP, não censurando o comportamento do BE, da sua dirigente máxima, da sua candidata e do seu vereador, mas apresentando uma extraordinária nova versão dos factos: “Não irão fazer uma ação de campanha, irão fazer uma visita ao local, sem serem acompanhados por comunicação social e o que entenderem fazer fora desse local farão”. Não é extraordinário? Normal é que não é!
Os refugiados podem confiar em Lisboa?
Dá-se a coincidência de o presidente da Câmara de Lisboa ser o mesmo que ainda há tão pouco tempo veio publicamente pedir desculpa pelo facto de a instituição a cuja presidência se recandidata ter partilhado dados de ativistas asilados em Portugal com as embaixadas e governos dos respetivos países