A vandalização do Padrão dos Descobrimentos, em Belém, pode ter sido uma estupidez. Mas não façamos dela uma tragédia. Em primeiro lugar, trata-se de um monumento bastante recente, não especialmente bonito, cuja pedra (ainda para mais a da base) aguenta bem a limpeza. Além disso, a Câmara Municipal de Lisboa dispõe felizmente de “assessoria jurídica em procedimento de contratação para aquisição de serviços de remoção de grafiti” paga a peso de ouro, que pelos vistos funciona na perfeição, pois ontem mesmo os grafiti que ‘enfeitavam’ o monumento já estavam a ser retirados.
Mas, mesmo não sendo este incidente muito mais do que isso, deve ser tratado com eficácia e dureza. É evidente que depois da polémica em torno dos Descobrimentos e da sua exaltação pelo Estado Novo, o Padrão se tornou um alvo muito apetecível para os desmiolados que reivindicam a reescrita da História à luz dos seus próprios preconceitos.
Se a moda dos grafiti pega – como têm pegado certas teorias – podemos ter problemas a sério, pois quase não há monumento que não possa ser associado, de uma forma ou de outra, ao colonialismo ou a um qualquer regime político execrado por certos setores. E alguns desses monumentos (estou a pensar no Mosteiro dos Jerónimos, ou na Torre de Belém, ali ao lado) são muito mais antigos, mais bonitos, historicamente relevantes e vulneráveis do que o Padrão dos Descobrimentos.
Ribeiro e Castro, do CDS, propôs um sistema de videovigilância do património histórico. Parece ser uma medida razoável. Se um jogo de futebol tem dezenas de câmaras apontadas e juízes a acompanhar cada lance ao pormenor, por maioria de razão poderia haver ‘videoárbitros’ para os monumentos.
Mas é preciso fazer mais. Enquanto houver incendiários apostados em conquistar protagonismo e dividendos políticos à custa de denegrir o nosso passado, o problema vai repetir-se. E o pior é que muitas vezes esses incendiários contam com apoio e cobertura oficial.