“Estão a contribuir para a economia portuguesa”. O recado de Marcelo às “vozes contra os imigrantes”

“Estão a contribuir para a economia portuguesa”. O recado de Marcelo às “vozes contra os imigrantes”


Chefe de Estado comentou a situação vivida especificamente em Odemira e defende que é preciso saber “o que há de ilegal e eventualmente criminoso” no concelho.


O Presidente da República pede que se tirem “lições” sobre o caso de Odemira, onde foram impostas duas cercas sanitárias em São Teotónio e Longueira/Almograve, face ao crescente número de infeções por covid-19, associado sobretudo à população migrante que trabalha no setor agrícola.

À margem de uma visita a uma escola no Porto, no âmbito do Dia Mundial da Língua Portuguesa, Marcelo criticou as “vozes contra os imigrantes” e lembrou que estes “estão a contribuir para a economia portuguesa”.

O chefe de Estado diz que o caso de Odemira começou “por ser, aos olhos dos portugueses, um caso sanitário que exigia medidas mais graves”. Depois, “foi-se descobrindo que havia realidades sociais por baixo desse caso sanitário”.

“Vale a pena desde já começar a refletir sobre algumas lições de Odemira. A primeira lição é a importância dos imigrantes para a economia e a sociedade portuguesa”, começou por dizer. “De vez em quando ouvimos umas vozes muito contra os imigrantes; ora o que se veio a descobrir — e já sabíamos — é que há milhares e milhares de imigrantes que estão a contribuir para a economia portuguesa”, sejam eles legais ou clandestinos, acrescentou.

Para o Presidente, o caso em questão levanta alguns alertas sobre as condições de trabalho em algumas explorações agrícolas e que saber “o que há de ilegal e eventualmente criminoso” em Odemira.

“Pode haver mais clandestinos do que pensávamos, nessa realidade subterrânea”, disse, defendendo que é preciso apurar “o que há de ilegal e se eventualmente haverá qualquer coisa de criminoso”.

“Não é apenas explorar a mão-de-obra, é tratá-la em termos humanos, com a dignidade que vem na Constituição, para os portugueses e os que vivem em Portugal”, sublinhou.

Sobre a polémica em torno da requisição civil do empreendimento Zmar, Marcelo disse que é preciso manter a “preocupação com a saúde pública” ao mesmo tempo que é respeitada “a situação de entidades, pessoas ou famílias que porventura habitem a área que ou vem a ser requisitada ou objeto de acordo”.

“Para haver uma evolução positiva, é preciso conseguir quebrar as cadeias de contágio”, defendeu. “É muito bonito dizer-se que imigrantes não, e depois descobrir-se que imigrantes sim, quando dão jeito para trabalhar a fazer o que os portugueses não fazem, mas já não dão jeito para terem os direitos que lhes deviam corresponder”, acrescentou.

O Presidente lembrou que a pandemia “pôs a nu fragilidades sociais” e que “devemos ter os olhos abertos e sermos lúcidos para o que há de menos bom em Portugal”, alertou.

“Tenho dito muitas vezes que o principal problema pós pandemia nem é a reconstrução económica, é a reconstrução social. Temos dois milhões de pobres e esquecemo-nos disso”, frisou.