“Não são ‘Grândolas’ cantadas lá fora por subsidiodependentes que nos vão fazer parar esta marcha”

“Não são ‘Grândolas’ cantadas lá fora por subsidiodependentes que nos vão fazer parar esta marcha”


O líder do Chega foi recebido, em Serpa, por manifestantes maioritariamente de etnia cigana e com cartazes antifascistas.


A linha de pensamento que André Ventura, dirigente do Chega, segue em relação à etnia cigana não é desconhecida da população portuguesa. Em entrevista, ao Nascer do Sol, em dezembro de 2018, explicou que "a verdade é que os estudos que tínhamos disponíveis mostravam que só 15% da população de etnia cigana vive de rendimentos do seu trabalho. A questão que nos colocamos é de que é que vivem os outros. Depois, se formos ver o subsídio em termos de habitação, ou seja, a atribuição de casas, há também um número exponencial de membros de etnia cigana que vivem em casas dadas pelo Estado. Quando conjugamos isto com o número de casamentos em idade não permitida por lei, ou o número de membros na prisão, percebemos que há aqui um problema". Assim, este domingo, confrontado com os manifestantes – maioritariamente de etnia cigana e que envergavam cartazes antifascistas -, em Serpa, antes do comício inaugural do período oficial de campanha, no Cineteatro da localidade alentejana, ladeado por seguranças, Ventura gritou "Vão trabalhar, trabalhar!". 

“Beja foi [o distrito] escolhido para ser o início da caminhada presidencial pela razão que temos insistido: há um país em que metade trabalha para outros não fazerem nada”, afirmou, lamentando “privilégios e regalias injustificados nos últimos 45 anos”. Por um lado, o líder do partido que é associado à extrema-direita referiu que a sua corrida à Presidência constitui "a maior ameaça ao sistema", segundo informações veiculadas pela agência Lusa. “Não são ‘Grândolas’ cantadas lá fora por subsidiodependentes que nos vão fazer parar esta marcha. Perderam os debates todos e agora querem ganhar na rua”, declarou, referindo-se aos "comunistas e socialistas".

Por outro lado, criticou Marcelo Rebelo de Sousa, afirmando que o mesmo "andou com o Governo ao colo" e acrescentando igualmente que o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, falhou na criação de medidas de “apoio a quem precisa neste contexto de pandemia” e de grave crise económica. “Estamos fartos de ser sempre os mesmos a pagar e a trabalhar”, disse, realçando que muitos dos manifestantes haviam chegado ao local “de “Mercedes e BMW ou em carrinhas do PCP”. Ventura não deixou de lançar farpas ao Governo pela criação de um grupo de trabalho de combate ao racismo e a nomeação para o mesmo do ex-militante do BE Mamadou Ba.

"Isso já será uma vitória porque destruímos a esquerda", mencionou o político, referindo-se à hipótese de a candidata bloquista Marisa Matias desistir em favor da concorrente socialista Ana Gomes. Enquanto discursava, surgiu um esqueleto atrás do dirigente, na boca de cena do anfiteatro, sendo que fonte oficial da candidatura disse à agência Lusa que tinha sido "um boicote", uma vez que o espaço cultural é gerido pela autarquia, liderada pela CDU (PCP e "Os Verdes").