Um ano normal até março, virado do avesso a partir daí e dominado pela pandemia. Com os primeiros casos de covid-19 confirmados no país a 2 de março, 304 dias de 2020 foram a viver a pandemia, que seria declarada formalmente pela Organização Mundial de Saúde a 11 março. Portugal passou nesta última semana do ano a barreira dos 400 mil casos confirmados, quase todos nesta segunda vaga da pandemia. Registaram-se perto de 7 mil mortes, a maioria também nesta segunda vaga de casos que se intensificou por toda a Europa a partir de outubro.
Os primeiros dois meses Foi no Norte que foram confirmados os primeiros dois casos de covid-19, um ligado a Itália e outro a Espanha. Surgiram depois de semanas de casos suspeitos a dar negativo e quando a epidemia na China parecia serenar – enquanto foram reportados esses dados pela DGS, Portugal registou apenas um caso importado da China. Estava a rebentar na Europa e Portugal acabou por confirmar o vírus mais tarde do que outros países europeus. Quando foi declarado o primeiro estado de emergência a 17 de março, tinha havido uma morte por covid-19 no país. Muitos portugueses já estavam em casa e as escolas fecharam dias antes. No pico da primeira vaga, no início de abril, os hospitais do SNS tiveram 1302 doentes internados com covid-19, 271 em cuidados intensivos. A curva baixou e no início do desconfinamento, a 4 de maio, Portugal tinha registado 25 524 casos de covid-19 e 1063 mortes associadas à infeção pelo novo vírus. Faziam-se na altura menos testes do que agora: em abril, foram cerca de 80 mil testes realizados, quando em novembro superaram um milhão.
Depois do desconfinamento e dos primeiros meses da epidemia com epicentro da região Norte, e um aumento exponencial de casos associado a uma variante italiana que a equipa do Instituto Ricardo Jorge concluiu que terá sido travado por medidas como a cerca sanitária em Ovar, foi em Lisboa que soaram os alarmes na retoma da economia, ainda com as escolas fechadas. 19 freguesias da área metropolitana de Lisboa mantiveram-se em estado de calamidade com medidas mais apertadas. Ao contrário do que aconteceu noutros países europeus, os bares e discotecas nunca abriram mas o país foi de férias.
A rentrée Foi em setembro que os casos começaram de novo a subir, em particular na região Norte, onde o RT – o indicador que calcula a taxa de transmissão do vírus e dá uma indicação da velocidade da epidemia – estava acima de 1, logo a apontar para uma tendência crescente de casos, desde o início de agosto (agora está abaixo de 1 há 30 dias consecutivos, assinala o último relatório disponibilizado pelo INSA). Em setembro foram diagnosticados 18 153 casos de covid-19 no país, mais do dobro do mês de agosto. Em outubro dispararam: 67 mil. A 14 de outubro, o Governo decretou o estado de calamidade e no início do novembro foi declarado o novo estado de emergência, mais suave que o primeiro. Apesar de a maioria dos casos surgirem na população com menos de 50 anos, semana a semana aumentaram os idosos infetados, que chegaram a ser mais de 4 mil durante várias semanas. Até ao início do desconfinamento, a 4 de maio, foram diagnosticados no país 6233 idosos com 70 anos ou mais. Em novembro foram diagnosticados 19500. Novembro revelou-se o negro da pandemia no país, com 156 121 casos confirmados e 2033 mortes. Até ao novo crescimento exponencial de casos na rentrée, abril tinha sido o mês com mais mortes, 820. Este mês os casos baixaram mas os óbitos já superaram o mês passado, com os dados fechados até segunda-feira, morreram já em dezembro 2174 pessoas no país.
A nível global, 2020 termina com um número recorde de mortes por todas as causas no país, onde se incluem os óbitos por covid-19 mas sem que a mortalidade por covid-19 represente todo o acréscimo da mortalidade – a codificação das causas de morte começou mais cedo este ano mas vai decorrer ao longo de 2021. Morreram mais de 122 mil pessoas no país ao longo do ano, quando até aqui 2018 tinha sido o ano com mais óbitos desde que há registos: 113 mil.
Meses difíceis pela frente Agora com as primeiras vacinas da covid-19 disponíveis, o ano começa com a perspetiva de que os primeiros meses continuarão a ser duros e sem margem para alívio de medidas. Especialistas ouvidos pelo i ao longo das últimas semanas apontam para um aumento de casos nas primeiras semanas de janeiro. Para Manuel Carmo Gomes, os números atuais, em duas semanas com feriados, poderão mesmo estar subestimados. A perspetiva é que no fim do primeiro trimestre, com os grupos mais vulneráveis vacinados, comece a notar-se uma diminuição nos casos a necessitar internamento. Por agora, a pressão nos hospitais continua elevada, com muito mais doentes internados do que no pico da primeira vaga.
Para 2021 fica também o saldo de consultas e cirurgias a recuperar no SNS, que depois de anos a aumentar a atividade acabou por reduzi-la enquanto respondia à pandemia. Dados do Portal da Transparência do SNS, que o i analisou, mostram que até ao final de novembro foram feitas 447 572 cirurgias programadas nos hospitais públicos, menos 112 mil do que nos mesmos 11 meses de 2019.