As máscaras …Estou sem mim


Privar as pessoas do rosto, da linguagem relacional importantíssima que ele expressa é impedir que a linguagem não verbal, humana e humanizante aconteça – é o que acontece quando usamos máscaras que tapam, que mascaram e que, por isso, desprotegem.


“A saúde mental nasce da e na relação” refere muitas vezes Coimbra de Matos. A qualidade da relação primária (mãe/pai – bebé) é fundamental para o desenvolvimento saudável e harmonioso e as relações posteriores, cada vez mas diversificadas, vão também sendo um factor imprescindível de desenvolvimento, de construção da identidade, de se saber ser, da única forma que um ser humano sabe ser –  na relação com os outros. E essa relação saudável e promotora de desenvolvimento acontece com a pessoa inteira, de corpo e alma inteiros. Sonegar uma parte da pessoa na relação é impedir que a pessoa se desenvolva na sua plenitude, já que uma parte de si foi retirada, tornando-a incompleta, ausente. Facilmente compreendemos que, se uma equipa de futebol for jogar com uma perna dobrada pelo joelho, ou seja, a pé-coxinho, o que deveria acontecer não acontece: o jogador deixa de ser um jogador completo, não só não dá o seu melhor como fica impedido de desenvolver as suas capacidades como jogador de futebol naquele jogo, a equipa fica impedida de interagir como habitualmente, já que esta limitação traz outra dinâmica e o jogo ficaria vazio de sentido; não será, com certeza, um jogo de futebol. Privar as pessoas de uma parte de si, é impedir que elas sejam inteiras e que se possam desenvolver de forma saudável, na relação consigo próprias e com o outro. Privar as pessoas do rosto, da linguagem relacional importantíssima que ele expressa é impedir que a linguagem não verbal, humana e humanizante aconteça – é o que acontece quando usamos máscaras que tapam, que mascaram e que, por isso, desprotegem.

No vínculo que uma criança estabelece nas suas relações, o rosto desempenha um papel fundamental no reconhecimento do outro, outro esse que se lê e interpreta no rosto inteiro, se sente nos gestos, na quentura do abraço, do acolhimento. À medida que vai crescendo, a criança vai tendo relações cada vez mais diversificadas e vai aprendendo a conhecer-se nessas relações e a conhecer o outro e as suas necessidades, diferenças, especificidades, aprende a ser e a crescer num mundo onde há pessoas, que se ligam, que a reconhecem, que a acolhem que lhe sorriem ou que choram, que mostram felicidade, alegria, aprovação ou receio. Mostram tudo isto com elas inteiras – com o rosto, o abraço, com a mão, com o olhar, com a proximidade, com tudo o que sabemos que é ser-se pessoa. As crianças e jovens constroem a sua identidade nas relações com o outro e essas relações precisam de ser verdadeiras e inteiras e expressivas na sua plenitude, próximas e completas no sentir. O sorriso de aprovação, ou de alegria pela presença do amigo, o espanto pela descoberta que a colega fez, o sinal de tristeza que pede companhia à hora de almoço, a proximidade física do abraço que fala de protecção, são expressões de humanidade que não podem nem devem apagar-se.

E também os adultos… Todas as pessoas precisam de relações plenas e inteiras, próximas, do abraço, do apoio…e da camaradagem e da amizade, expressas em sorrisos rasgados, em apertos de mão, em gestos que permanecem.

Apagar ou sonegar partes do corpo e da alma de uma pessoa é amputar, é retirar saúde; impedir que a pessoa tenha as condições necessárias ao seu desenvolvimento pleno, saudável, é retirar-lhe partes da sua história presente e futura. O amor, onde germina e acontece a vida  – sã – tem rosto e corpo e alma e é inteiro.

Maria João Saraiva  

Psicanalista

As máscaras …Estou sem mim


Privar as pessoas do rosto, da linguagem relacional importantíssima que ele expressa é impedir que a linguagem não verbal, humana e humanizante aconteça – é o que acontece quando usamos máscaras que tapam, que mascaram e que, por isso, desprotegem.


“A saúde mental nasce da e na relação” refere muitas vezes Coimbra de Matos. A qualidade da relação primária (mãe/pai – bebé) é fundamental para o desenvolvimento saudável e harmonioso e as relações posteriores, cada vez mas diversificadas, vão também sendo um factor imprescindível de desenvolvimento, de construção da identidade, de se saber ser, da única forma que um ser humano sabe ser –  na relação com os outros. E essa relação saudável e promotora de desenvolvimento acontece com a pessoa inteira, de corpo e alma inteiros. Sonegar uma parte da pessoa na relação é impedir que a pessoa se desenvolva na sua plenitude, já que uma parte de si foi retirada, tornando-a incompleta, ausente. Facilmente compreendemos que, se uma equipa de futebol for jogar com uma perna dobrada pelo joelho, ou seja, a pé-coxinho, o que deveria acontecer não acontece: o jogador deixa de ser um jogador completo, não só não dá o seu melhor como fica impedido de desenvolver as suas capacidades como jogador de futebol naquele jogo, a equipa fica impedida de interagir como habitualmente, já que esta limitação traz outra dinâmica e o jogo ficaria vazio de sentido; não será, com certeza, um jogo de futebol. Privar as pessoas de uma parte de si, é impedir que elas sejam inteiras e que se possam desenvolver de forma saudável, na relação consigo próprias e com o outro. Privar as pessoas do rosto, da linguagem relacional importantíssima que ele expressa é impedir que a linguagem não verbal, humana e humanizante aconteça – é o que acontece quando usamos máscaras que tapam, que mascaram e que, por isso, desprotegem.

No vínculo que uma criança estabelece nas suas relações, o rosto desempenha um papel fundamental no reconhecimento do outro, outro esse que se lê e interpreta no rosto inteiro, se sente nos gestos, na quentura do abraço, do acolhimento. À medida que vai crescendo, a criança vai tendo relações cada vez mais diversificadas e vai aprendendo a conhecer-se nessas relações e a conhecer o outro e as suas necessidades, diferenças, especificidades, aprende a ser e a crescer num mundo onde há pessoas, que se ligam, que a reconhecem, que a acolhem que lhe sorriem ou que choram, que mostram felicidade, alegria, aprovação ou receio. Mostram tudo isto com elas inteiras – com o rosto, o abraço, com a mão, com o olhar, com a proximidade, com tudo o que sabemos que é ser-se pessoa. As crianças e jovens constroem a sua identidade nas relações com o outro e essas relações precisam de ser verdadeiras e inteiras e expressivas na sua plenitude, próximas e completas no sentir. O sorriso de aprovação, ou de alegria pela presença do amigo, o espanto pela descoberta que a colega fez, o sinal de tristeza que pede companhia à hora de almoço, a proximidade física do abraço que fala de protecção, são expressões de humanidade que não podem nem devem apagar-se.

E também os adultos… Todas as pessoas precisam de relações plenas e inteiras, próximas, do abraço, do apoio…e da camaradagem e da amizade, expressas em sorrisos rasgados, em apertos de mão, em gestos que permanecem.

Apagar ou sonegar partes do corpo e da alma de uma pessoa é amputar, é retirar saúde; impedir que a pessoa tenha as condições necessárias ao seu desenvolvimento pleno, saudável, é retirar-lhe partes da sua história presente e futura. O amor, onde germina e acontece a vida  – sã – tem rosto e corpo e alma e é inteiro.

Maria João Saraiva  

Psicanalista