Paschal Donohoe: o novo senhor do Eurogrupo

Paschal Donohoe: o novo senhor do Eurogrupo


Foi o autor do ‘milagre irlandês’ e apesar de ser o candidato com menos experiência em Bruxelas, Donohoe foi escolhido para suceder a Centeno, numa altura difícil para a economia europeia.


Todos os indicadores apontavam para que a sucessora de Mário Centeno no Eurogrupo fosse a espanhola Nadia Calviño mas o frente-a-frente com Paschal Donohoe trouxe a vitória ao irlandês. Ministro das Finanças desde 2017, Paschal Donohoe entra no Eurogrupo numa altura difícil para a economia europeia na sequência da pandemia de covid-19.

Tal como Mário Centeno em Portugal, também Donohoe foi protagonista do primeiro excedente orçamental da Irlanda desde a profunda crise financeira de 2008, lembra André Pires, analista da corretora XTB, acrescentando que o novo presidente do Eurogrupo chega «de um partido chamado Fine Gae (Partido Popular Europeu), um partido de centro-direita peculiar que, embora defenda o federalismo europeu, ao mesmo tempo, não apoia a reunificação da Irlanda».

E é exatamente pela «fantástica» recuperação económica que Francisco Alves, analista da Infinox, considera que o ministro das Finanças irlandês é uma boa opção para o lugar de Centeno: «Penso que tem as características necessárias para liderar o Eurogrupo. Depois de um grande trabalho como ministro na recuperação da economia irlandesa desde a crise de 2008, Donohoe está à altura do cargo que foi eleito», disse ao SOL.

Aos 45 anos, Paschal Donohoe toma posse esta semana e já definiu alguns dos seus objetivos para os próximos dois anos e meio. Numa publicação no Twitter, o irlandês explica aquilo que definiu ser a sua prioridade imediata enquanto presidente do Eurogrupo: «A minha prioridade imediata, enquanto presidente, será traçar um caminho comum para a construção da recuperação europeia, fortalecer a economia da zona euro e promover um crescimento sustentável e inclusivo para os Estados-Membros e seus cidadãos», garantiu. E mostrou ainda a vontade de começar a trabalhar: «Estou profundamente honrado por ter sido eleito novo presidente do Eurogrupo. Estou desejoso de trabalhar com todos os meus colegas do Eurogrupo nos anos que se seguem, para assegurar uma recuperação justa e inclusiva para todos, enfrentando os desafios pela frente com determinação», prometeu.

 

Como será o futuro?

Dos três candidatos – Nadia Calviño, vice-presidente do Governo espanhol e Pierre Gramegna, ministro das Finanças luxemburguês também estiveram na corrida – Paschal Donohoe é o que tem menos experiência em Bruxelas. Ainda assim, neste momento todos os olhares estão virados para si e as expectativas para que faça um bom trabalho nos próximos anos são boas.

Um dos exemplos é Paolo Gentiloni, comissário europeu da Economia, que disse acreditar que o irlandês «tem o que é preciso» para liderar o Eurogrupo «em tempos de desafios sem precedentes».

Apesar de assumir que o ministro das Finanças irlandês assume funções numa altura difícil, Paolo Gentiloni considera que conseguirá alcançar os objetivos. «Sei, Paschal, que tens o que é preciso para forjar um consenso forte e traçar um caminho ambicioso», disse logo depois da eleição, acrescentando que pode contar com a Comissão Europeia como «um parceiro fiável».

De saída do Eurogrupo para dar lugar ao seu sucessor, também Mário Centeno felicitou a eleição de Donohoe e considera que o Eurogrupo fica «em boas mãos».

Ao SOL, André Pires lembra que esta eleição «acontece num contexto de devastação económica devido à pandemia, com os governos da União Europeia a disputarem cada qual a sua fatia dos 750 mil milhões de euros em pós-crise, enquanto se discutem as regras de empréstimos e dívida dentro da zona de moeda única».

E por isso não tem dúvidas de quais serão os próximos desafios do ‘Ronaldo das Finanças’ irlandês: «O desafio mais imediato do novo presidente do Eurogrupo será o de traçar um plano comum aos países membros para a recuperação económica do pós-covid».

O analista da XTB lembra as palavras no novo presidente do Eurogrupo ao garantir estar focado não só em resolver o assunto imediato mas em pensar a longo prazo numa economia mais resiliente a novos impactos. «O seu antecessor português mostrou-se agradado com a escolha do novo presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro», recorda também. Por isso, a expectativa quanto aos próximos anos é grande: «Será com interesse que os investidores seguirão os passos do novo líder do Eurogrupo, para detectarem alguma mudança de estilo e/ou estratégia no grupo».

Recorde-se que Donohoe assume oficialmente funções esta segunda-feira, 13 de julho, um dia depois de terminar o mandato de Mário Centeno. Paschal Donohoe ficará aos comandos do Eurogrupo durante os próximos dois anos e meio.