Por que esbraceja Trump?


A política irresponsável de Trump está a criar um maior regionalismo e complementaridade entre os países asiáticos.


Para o Filipe Pinhal

A Ásia é, de longe, o continente mais povoado do mundo. Antes da pandemia, era a certeza de um mundo com mais mil milhões de novos consumidores nesta década. Como se refletiria (ou refletirá) essa realidade neste novo século que se apresenta como ‘o século asiático’? E como se refletirá nela a intervenção esquizofrénica da errante e mentirosa presidência de Trump?

Os asiáticos vão colocar os seus interesses em primeiro lugar. Veem que os EUA e a China estão a caminhar para uma separação. A ‘Parceria Económica Regional Abrangente’ vai eliminar muita da pressão entre os países asiáticos e aumentar as exportações entre eles.

A guerra comercial desastrada e desastrosa para o mundo, desencadeada por um universalmente irresponsável Donald Trump, está a criar um maior regionalismo, uma maior integração ou complementaridade entre os países asiáticos. E a determinar a aceleração de um novo e mais pacífico equilíbrio no planeta. Deus escreve direito por linhas tortas.

Por outro lado, também a Europa está mais ativa na Ásia. Têm-se multiplicado os acordos de comércio livre entre os europeus e os países asiáticos. Hoje, os países da UE comercializam mais com a China e com toda a Ásia do que com os EUA. Por ano, 1, 6 biliões de dólares, que poderiam crescer para os 2 ou 2,5 biliões. Pelo contrário o comércio dos EUA com a Europa e a Ásia irá provavelmente estagnar ou mesmo entrar em declínio.   

No quadro geopolítico, os Estados Unidos também deixaram de estar na liderança de uma ordem de segurança coerente, rígida e hierárquica na Ásia. O Japão permanece um sólido aliado, mas a Coreia do Sul, por exemplo, tem-se adaptado aos interesses da China.

E como sentem os outros países asiáticos esta ascensão da China? Estão a resistir ou a acomodar-se à nova realidade?

Todos os 14 vizinhos da China a têm receado. Com todos tem havido alguma divergência de fronteiras. Mas todos partilham a geografia nesta mega região asiática e é inevitável concertarem-se. O certo é que já estão a colaborar com os chineses para melhorarem as suas exportações.

Mas o mais interessante — e nunca claramente enfatizado — é que a China está a tentar acomodar-se aos vizinhos. Está a aprender que tem de se entender com os vizinhos se quer ter sucesso nos seus objetivos.

A Ásia que se configura não é, portanto, dominada unilateralmente por uma China hegemónica, nem por uma intervenção imperial dos EUA, estando antes a restaurar a realidade multipolar que vigorou durante séculos.

Mas como pode liderar a construção desta imperativa e desejável nova realidade mundial, colaborar na construção desse novo equilíbrio planetário, contribuir para harmonizar os interesses e enfrentar as ameaças globais um Presidente que governa a dividir os cidadãos do seu país, um Presidente de metade da América e dos americanos?

A reeleição – possível – de Trump é a grande ameaça ao destino que tem de ser o do mundo.

 

Fonte: GPS, Washington Post/CNN


Por que esbraceja Trump?


A política irresponsável de Trump está a criar um maior regionalismo e complementaridade entre os países asiáticos.


Para o Filipe Pinhal

A Ásia é, de longe, o continente mais povoado do mundo. Antes da pandemia, era a certeza de um mundo com mais mil milhões de novos consumidores nesta década. Como se refletiria (ou refletirá) essa realidade neste novo século que se apresenta como ‘o século asiático’? E como se refletirá nela a intervenção esquizofrénica da errante e mentirosa presidência de Trump?

Os asiáticos vão colocar os seus interesses em primeiro lugar. Veem que os EUA e a China estão a caminhar para uma separação. A ‘Parceria Económica Regional Abrangente’ vai eliminar muita da pressão entre os países asiáticos e aumentar as exportações entre eles.

A guerra comercial desastrada e desastrosa para o mundo, desencadeada por um universalmente irresponsável Donald Trump, está a criar um maior regionalismo, uma maior integração ou complementaridade entre os países asiáticos. E a determinar a aceleração de um novo e mais pacífico equilíbrio no planeta. Deus escreve direito por linhas tortas.

Por outro lado, também a Europa está mais ativa na Ásia. Têm-se multiplicado os acordos de comércio livre entre os europeus e os países asiáticos. Hoje, os países da UE comercializam mais com a China e com toda a Ásia do que com os EUA. Por ano, 1, 6 biliões de dólares, que poderiam crescer para os 2 ou 2,5 biliões. Pelo contrário o comércio dos EUA com a Europa e a Ásia irá provavelmente estagnar ou mesmo entrar em declínio.   

No quadro geopolítico, os Estados Unidos também deixaram de estar na liderança de uma ordem de segurança coerente, rígida e hierárquica na Ásia. O Japão permanece um sólido aliado, mas a Coreia do Sul, por exemplo, tem-se adaptado aos interesses da China.

E como sentem os outros países asiáticos esta ascensão da China? Estão a resistir ou a acomodar-se à nova realidade?

Todos os 14 vizinhos da China a têm receado. Com todos tem havido alguma divergência de fronteiras. Mas todos partilham a geografia nesta mega região asiática e é inevitável concertarem-se. O certo é que já estão a colaborar com os chineses para melhorarem as suas exportações.

Mas o mais interessante — e nunca claramente enfatizado — é que a China está a tentar acomodar-se aos vizinhos. Está a aprender que tem de se entender com os vizinhos se quer ter sucesso nos seus objetivos.

A Ásia que se configura não é, portanto, dominada unilateralmente por uma China hegemónica, nem por uma intervenção imperial dos EUA, estando antes a restaurar a realidade multipolar que vigorou durante séculos.

Mas como pode liderar a construção desta imperativa e desejável nova realidade mundial, colaborar na construção desse novo equilíbrio planetário, contribuir para harmonizar os interesses e enfrentar as ameaças globais um Presidente que governa a dividir os cidadãos do seu país, um Presidente de metade da América e dos americanos?

A reeleição – possível – de Trump é a grande ameaça ao destino que tem de ser o do mundo.

 

Fonte: GPS, Washington Post/CNN