Os funcionários da empresa britânica de recrutamento KCJ Training and Employment Solutions vão passar a ter mais quatro dias de férias por ano no caso de não fumarem durante o horário de trabalho. A ideia é compensar os trabalhadores que não fumam em vez de penalizar os que fumam. “Não quero discriminar ninguém. É uma questão de justiça. Se as pessoas quiserem fazer intervalos para fumar, que façam, sem problema. Não digo para pararem”, revelou o diretor da empresa, Don Bryden, à BBC, assumindo-se ele próprio como fumador.
E fez as contas: os trabalhadores que param para fumar fazem três intervalos de dez minutos por dia, o equivalente a 15 dias de trabalho por ano, com base num dia de trabalho de oito horas. “Se cortarmos essa margem por 1/3 e forem apenas dez minutos de intervalo para fumar por dia, são quase cinco dias de trabalho num ano”, afirmou. Além disso, considera que este benefício pode funcionar como incentivo para que muitos deixem de fumar. No entanto, consciente de que dificilmente isso se faz de um dia para o outro, Bryden ressalva que “se o fizerem em 12 meses, terão também os quatro dias de férias extra”.
A medida é vista com bom olhos por Fernando Neves de Almeida, managing partner da Boyden Portugal, ao considerar que essas empresas estão a valorizar as pessoas sempre que dão tempo de lazer e que isso poderá contribuir para aumentar a produtividade. “Para empresas rentáveis e saudáveis, esta é uma solução mais importante do que se aumentarem o salário mas, para isso, os ordenados já têm de ser satisfatórios”, garante ao i. O responsável diz mesmo que “um trabalhador que receba o ordenado mínimo estará mais interessado em receber um aumento do que em ter mais um dia de férias ou menos um dia de trabalho”. E lembra que a própria Boyden dá as sextas-feiras à tarde aos seus trabalhadores.
O certo é que este não é um caso isolado. Uma empresa japonesa, em 2017, passou a oferecer aos funcionários que não fumam seis dias de férias adicionais por ano, depois de estes terem começado a reclamar que trabalhavam mais tempo do que os colegas que faziam vários pequenos intervalos por dia para fumar. E, na altura, explicou a medida: “Espero encorajar os funcionários a deixarem de fumar através de incentivos, ao invés de penalizações ou coerção”, disse o CEO da Piala Inc.
No final desse ano, cerca de 30 funcionários em 120 tiveram direito aos dias adicionais.
Outros benefícios Mas as regalias dadas pelas empresas aos seus trabalhadores não ficam por aqui. Há quem tenha vindo a adotar uma semana de trabalho de apenas quatro dias, concedendo uma folga extra aos trabalhadores. Um desses casos é a Microsoft, que no Japão introduziu no verão um programa chamado “Work Life Choice Challenge” e que passava por encerrar os escritórios todas as sextas-feiras no mês de agosto. Além do tempo de trabalho que foi reduzido, também diminuíram as horas passadas em reuniões e a responder a emails. Os resultados traduziram-se num aumento da produtividade de 40% relativamente ao mesmo período do ano anterior, revelou a CNN.
Com esta iniciativa, a gigante tecnológica pretendia que os funcionários “trabalhassem pouco tempo, descansassem e aprendessem bem”, por forma a aumentar a produtividade e criatividade dos seus trabalhadores, num país que enfrenta uma cultura de excesso de trabalho que, em vários casos, se tornou fatal.
Esta redução das horas de trabalho também já foi testada noutros países. Um desses casos é a Suécia que, em 2015, reduziu o horário de trabalho para seis horas por dia, o que se refletiu em trabalhadores mais saudáveis, felizes e produtivos.
Também algumas empresas alemãs estão a apostar na oferta de melhores condições de trabalho. No entanto, isso aplica-se no caso de falta de trabalhadores para certas posições. Os setores com emprego mais qualificado, nomeadamente as empresas tecnológicas e de engenharia, são as que estão a enfrentar mais dificuldades para contratar. Recentemente, cerca de 130 mil trabalhadores da Deutsche Bahn, empresa pública de transportes, tiveram a possibilidade de escolha entre mais seis dias de folga, um aumento salarial de 2,6% ou a passagem do número de horas semanais de 39 para 38. Este caso ocorre numa empresa com um número de horas de trabalho bem acima da média alemã. Situação diferente é a dos milhões de trabalhadores ligados à metalurgia, que têm agora uma semana de 28 horas de trabalho, após esforços do sindicato que representa o setor. Outro exemplo é a Deutsche Telekom, cujos colaboradores têm agora mais 14 dias livres no ano.
Recentemente surgiram rumores de que a Finlândia iria propor uma semana de trabalho de quatro dias com oito horas ou de cinco dias, mas com seis horas de trabalho por dia. Esta foi, de facto, uma ideia referida pela agora primeira-ministra Sanna Marin, há cinco meses, num debate informal do seu partido, mas poderá nem sequer avançar.
Com pouco peso Em Portugal, os horários de trabalho mais reduzidos vão surgindo em algumas empresas, mas a medida tem pouco relevo. A retalhista de papel Navigator reduziu o horário de trabalho de 40 para 39 horas semanais em abril do ano passado, mas o objetivo é chegar às 38 horas semanais durante este ano. Já na startup de recrutamento Humaniacs só se trabalha quatro dias por semana.
A verdade é que as empresas multinacionais presentes em Portugal apostam mais neste tipo de benefícios. Um desses casos é a Cisco, que oferece a cada equipa uma espécie de “fundo de diversão”, ou seja, um orçamento trimestral para gastar em celebrações.
Já a Salesforce, empresa de software de análise, aposta na entrega de “mimos” aos consultores que estão fora do escritório. Também a Mind Source oferece um cartão de colaborador que dá descontos e benefícios em várias áreas, como cultura ou hotéis e viagens.
Mas os casos não ficam por aqui. A Farfetch, com vista a aumentar o bem-estar dos seus colaboradores, lançou o Boomerang, um programa que permite tirar uma licença sabática e continuar a receber o habitual vencimento.