O novo ano que agora se inicia será o último do mandato do Presidente da República e, por isso, será também o ano da decisão de continuar ou não no exercício da presidência.
Parece óbvio que se Marcelo Rebelo de Sousa decidir recandidatar-se, significa que vai ser Presidente da República por mais cinco anos.
A presidência de Marcelo significou uma clara rutura com o estilo dos anteriores presidentes, coincidindo com um período político novo na história da jovem democracia portuguesa – o governo PS com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do PCP – que o Presidente da República soube gerir com mestria.
O que esperar, então do último ano do primeiro mandato de Marcelo?
A mensagem de ano novo parece clara no que respeita aos objetivos políticos do Presidente e, sobretudo, naquilo que exige ao Governo.
Marcelo falou de um “Governo forte e dialogante”, ao mesmo tempo que se referiu à necessidade de uma “oposição forte e alternativa”. Como se sabe, algo que não existiu nos últimos anos.
Colocou a tónica na confiança que o Executivo deve fazer por merecer, no combate à corrupção, na necessidade de maior apoio às forças armadas e às forças de segurança.
Marcelo deixou claro que vai estar atento, numa altura em que o Governo parece mais fragilizado no que respeita à garantia de apoio dos parceiros da anterior legislatura, ao mesmo tempo que, do lado da oposição, quer PSD quer CDS estão mais preocupados com a sua situação interna, com disputa de lideranças.
Onde Marcelo se tem mostrado particularmente intransigente é no combate às desigualdades gritantes da sociedade portuguesa, fazendo questão de estar ao lado dos sem-abrigo, dos mais desfavorecidos, culminando neste fim do ano com a visita à ilha do Corvo, o pedaço mais recôndito de Portugal, onde nitidamente transformou a questão da distância quilométrica numa metáfora.
Na verdade, Marcelo, com a sua política de proximidade, tão criticada por diversos analistas, quer mostrar que, mais do que a distância quilométrica, é a distância social que pode e deve ser encurtada e que é uma obrigação deste Governo – de qualquer governo – elegê-la como a sua principal prioridade.
António Costa tem sorte em ter como Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que tem exercido o seu mandato exemplarmente.
Mas o primeiro-ministro deve estar atento e saber interpretar a mensagem do Corvo.
Jornalista