Foi triste


O Flamengo não merecia a derrota.


NÃO COSTUMO MANIFESTAR nesta coluna estados de alma em relação aos resultados dos jogos. Procuro analisar o futebol com independência, distanciamento e objetividade. Mas não resisto a dizer o seguinte: foi triste, no último minuto da final do Mundial de clubes, ver um avançado do Flamengo falhar escandalosamente um golo que empataria o jogo e levaria a decisão para penáltis.

Não é que o Liverpool não tenha merecido a vitória: mereceu. Mas o Flamengo não merecia a derrota. Durante 120 minutos bateu-se de igual para igual com a melhor equipa do mundo. Sabendo que não dispunha das mesmas armas, conseguiu adormecê-la, enleá-la e, durante várias fases do jogo, até dominá-la.

NUM JOGO EM QUE, à partida, o Liverpool era amplamente favorito, o Flamengo conseguiu manter a dúvida sobre o vencedor até ao último minuto do prolongamento. Foi notável!

Para mim, não foi uma completa surpresa. Lembrava-me da performance das equipas de Jorge Jesus contra grandes equipas do futebol mundial. Recordava, no seu tempo do Benfica, o modo como eliminou a Juventus e o jogo contra o Chelsea numa final da Liga Europa. Recordava, no seu tempo do Sporting, um jogo em Madrid contra o Real em que esteve a vencer até aos 89 minutos, e ainda jogos contra a mesma Juventus em que se bateu de igual para igual.

Contra grandes adversários, as equipas de Jesus, mesmo com armas muito inferiores, nunca foram humilhadas. E assim aconteceu mais uma vez. Em nenhum momento do jogo o Flamengo se remeteu à defesa, nunca perdeu o sentido da baliza contrária, dignificou o clube. 

MAS NESTES MOMENTOS interessa sobretudo olhar para o futuro. E, quanto a isso, penso o seguinte: seria muito desagradável, depois do que fez no Rio de Janeiro, Jorge Jesus vir embora. Depois de ter restituído a esperança ao grande clube brasileiro, recolocando-o na alta roda do futebol mundial, não seria bonito dizer: “Ciao, já mostrei como se faz, agora vou pregar para outra freguesia”. 

Sendo isto indiscutível, há outro dado a ponderar: o primeiro ano de Jesus nas equipas que treina costuma ser muito bom, mas o segundo costuma ser muito mau. Assim aconteceu no Benfica – onde foi campeão no primeiro ano, mas depois esteve três anos sem ganhar – e no Sporting – onde não foi campeão no primeiro ano por uma unha negra, mas depois caiu. 

ORA, JESUS JÁ NÃO É NOVO. Se tivesse menos dez anos, eu diria: fique no Flamengo, consolide o trabalho, deixe-se estar por mais quatro ou cinco anos, não tenha pressa. Mas, tendo em conta os seus 65 anos, isto já não será possível. E, assim, pergunto: deverá continuar no Brasil, arriscando uma segunda época má, ou tentar dar a volta a um grande clube europeu, caso surja essa oportunidade? 

O dilema não é fácil.

Foi triste


O Flamengo não merecia a derrota.


NÃO COSTUMO MANIFESTAR nesta coluna estados de alma em relação aos resultados dos jogos. Procuro analisar o futebol com independência, distanciamento e objetividade. Mas não resisto a dizer o seguinte: foi triste, no último minuto da final do Mundial de clubes, ver um avançado do Flamengo falhar escandalosamente um golo que empataria o jogo e levaria a decisão para penáltis.

Não é que o Liverpool não tenha merecido a vitória: mereceu. Mas o Flamengo não merecia a derrota. Durante 120 minutos bateu-se de igual para igual com a melhor equipa do mundo. Sabendo que não dispunha das mesmas armas, conseguiu adormecê-la, enleá-la e, durante várias fases do jogo, até dominá-la.

NUM JOGO EM QUE, à partida, o Liverpool era amplamente favorito, o Flamengo conseguiu manter a dúvida sobre o vencedor até ao último minuto do prolongamento. Foi notável!

Para mim, não foi uma completa surpresa. Lembrava-me da performance das equipas de Jorge Jesus contra grandes equipas do futebol mundial. Recordava, no seu tempo do Benfica, o modo como eliminou a Juventus e o jogo contra o Chelsea numa final da Liga Europa. Recordava, no seu tempo do Sporting, um jogo em Madrid contra o Real em que esteve a vencer até aos 89 minutos, e ainda jogos contra a mesma Juventus em que se bateu de igual para igual.

Contra grandes adversários, as equipas de Jesus, mesmo com armas muito inferiores, nunca foram humilhadas. E assim aconteceu mais uma vez. Em nenhum momento do jogo o Flamengo se remeteu à defesa, nunca perdeu o sentido da baliza contrária, dignificou o clube. 

MAS NESTES MOMENTOS interessa sobretudo olhar para o futuro. E, quanto a isso, penso o seguinte: seria muito desagradável, depois do que fez no Rio de Janeiro, Jorge Jesus vir embora. Depois de ter restituído a esperança ao grande clube brasileiro, recolocando-o na alta roda do futebol mundial, não seria bonito dizer: “Ciao, já mostrei como se faz, agora vou pregar para outra freguesia”. 

Sendo isto indiscutível, há outro dado a ponderar: o primeiro ano de Jesus nas equipas que treina costuma ser muito bom, mas o segundo costuma ser muito mau. Assim aconteceu no Benfica – onde foi campeão no primeiro ano, mas depois esteve três anos sem ganhar – e no Sporting – onde não foi campeão no primeiro ano por uma unha negra, mas depois caiu. 

ORA, JESUS JÁ NÃO É NOVO. Se tivesse menos dez anos, eu diria: fique no Flamengo, consolide o trabalho, deixe-se estar por mais quatro ou cinco anos, não tenha pressa. Mas, tendo em conta os seus 65 anos, isto já não será possível. E, assim, pergunto: deverá continuar no Brasil, arriscando uma segunda época má, ou tentar dar a volta a um grande clube europeu, caso surja essa oportunidade? 

O dilema não é fácil.