A cobardia dos jornalistas


As imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.


NO ÚLTIMO DOMINGO, o FC Porto empatou com o Belenenses no Jamor. No fim do jogo, interpelado sobre se tinha sido agredido por Sérgio Conceição, o treinador do Belenenses afirmou: “Não confirmo nem desminto”. E mais não disse, adiantando que estava ali para falar sobre o jogo.

No dia seguinte, a SIC transmitiu imagens captadas no intervalo da partida, em que o treinador do Belenenses gritava ter levado “um soco”. E repetia várias vezes a palavra “soco”, com ar indignado, chamando “boi” ao agressor.

Sérgio Conceição, nas declarações feitas no fim do jogo, não se referiu ao incidente.

O CASO ERA GRAVÍSSIMO, e logo surgiram de rumores de que teria havido um pacto entre Belenenses e FC Porto para “abafar” o caso. A hipótese fazia sentido, pois o presidente do Belenenses, Rui Pedro Soares, é adepto confesso do clube nortenho.

E, tudo somado, a questão não oferecia dúvidas. Toda a gente sabe – e os jornalistas por maioria de razão – o que significa a expressão “não confirmo nem desminto”: significa confirmação. E as imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.

E, se dúvidas houvesse, elas seriam dissipadas na 4ª feira, quando um funcionário do Porto proibiu o treinador de falar do caso numa conferência de imprensa.

POIS BEM: NÃO HOUVE um único jornalista desportivo, que eu visse, que tenha tido a coragem de dizer preto no branco: é evidente que houve uma agressão e que os clubes estão a tentar esconder o que se passou.

Nem um.

Mais: houve um (que eu vi) a dizer que era tudo mentira, porque uma “fonte próxima do treinador” dissera não ter havido qualquer soco. Ou seja, uma fonte anónima valia mais do que as imagens que todos tínhamos visto do treinador do Belenenses a queixar-se, do seu “não confirmo nem desminto” e da proibição feita pelo FC Porto ao seu treinador para falar do episódio.

ESTE CASO É CHOCANTE. Claro que a agressão é grave. Gravíssima. Mas mais grave para mim é o silêncio dos jornalistas, a cobardia dos jornalistas, a falta de coragem dos jornalistas.

Na política, isto não seria possível. Haveria logo quem relatasse a verdade, quem a pusesse a nu. Mas no futebol há uma promiscuidade doentia entre jornalistas e clubes, que os leva a esconder os factos. E sobretudo quando se trata do FC Porto e do Benfica, além de promiscuidade, há também medo – medo de represálias, medo de serem colocados na “lista negra” dos clubes. Aliás, as expressões faciais de alguns jornalistas, quando interpelados sobre os acontecimentos, diziam tudo: pareciam comprometidos, quase envergonhados da sua falta de coragem para falar.

A cobardia dos jornalistas


As imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.


NO ÚLTIMO DOMINGO, o FC Porto empatou com o Belenenses no Jamor. No fim do jogo, interpelado sobre se tinha sido agredido por Sérgio Conceição, o treinador do Belenenses afirmou: “Não confirmo nem desminto”. E mais não disse, adiantando que estava ali para falar sobre o jogo.

No dia seguinte, a SIC transmitiu imagens captadas no intervalo da partida, em que o treinador do Belenenses gritava ter levado “um soco”. E repetia várias vezes a palavra “soco”, com ar indignado, chamando “boi” ao agressor.

Sérgio Conceição, nas declarações feitas no fim do jogo, não se referiu ao incidente.

O CASO ERA GRAVÍSSIMO, e logo surgiram de rumores de que teria havido um pacto entre Belenenses e FC Porto para “abafar” o caso. A hipótese fazia sentido, pois o presidente do Belenenses, Rui Pedro Soares, é adepto confesso do clube nortenho.

E, tudo somado, a questão não oferecia dúvidas. Toda a gente sabe – e os jornalistas por maioria de razão – o que significa a expressão “não confirmo nem desminto”: significa confirmação. E as imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.

E, se dúvidas houvesse, elas seriam dissipadas na 4ª feira, quando um funcionário do Porto proibiu o treinador de falar do caso numa conferência de imprensa.

POIS BEM: NÃO HOUVE um único jornalista desportivo, que eu visse, que tenha tido a coragem de dizer preto no branco: é evidente que houve uma agressão e que os clubes estão a tentar esconder o que se passou.

Nem um.

Mais: houve um (que eu vi) a dizer que era tudo mentira, porque uma “fonte próxima do treinador” dissera não ter havido qualquer soco. Ou seja, uma fonte anónima valia mais do que as imagens que todos tínhamos visto do treinador do Belenenses a queixar-se, do seu “não confirmo nem desminto” e da proibição feita pelo FC Porto ao seu treinador para falar do episódio.

ESTE CASO É CHOCANTE. Claro que a agressão é grave. Gravíssima. Mas mais grave para mim é o silêncio dos jornalistas, a cobardia dos jornalistas, a falta de coragem dos jornalistas.

Na política, isto não seria possível. Haveria logo quem relatasse a verdade, quem a pusesse a nu. Mas no futebol há uma promiscuidade doentia entre jornalistas e clubes, que os leva a esconder os factos. E sobretudo quando se trata do FC Porto e do Benfica, além de promiscuidade, há também medo – medo de represálias, medo de serem colocados na “lista negra” dos clubes. Aliás, as expressões faciais de alguns jornalistas, quando interpelados sobre os acontecimentos, diziam tudo: pareciam comprometidos, quase envergonhados da sua falta de coragem para falar.