O azeite sempre esteve presente na mesa dos portugueses, utilizado desde tempos imemoriais como um dos principais ingredientes culinários. O mesmo acontece com a azeitona, que pode ser usada como aperitivo ou para acompanhar os mais diversos pratos. Mas existe um largo trabalho antes de este ingrediente tão saboroso chegar à mesa e aos pratos.
O estudo intitulado Alentejo: A Liderar a Olivicultura Moderna Internacional, hoje apresentado em Beja, na vi edição das Jornadas Olivum, demonstra o estado atual da olivicultura no panorama nacional e internacional.
Atualmente, em Portugal existem mais de 361 mil hectares de olival e quase toda a área é usada para o azeite: mais de 352 mil hectares. Apesar de o valor ter crescido nos últimos anos, ainda é relativamente inferior quando comparado com o ano de 2000, altura em que a área correspondia a mais de 367 mil hectares, revela o estudo coordenado pela Consulai, consultora especializada no setor agroalimentar, e por Juan Vilar – Consultores Estratégicos.
Um dos fatores que demonstraram um enorme crescimento entre os anos de 2000 e 2018 foi a produtividade da azeitona, que quadruplicou em apenas 18 anos. Assim, atualmente, a produtividade média deste fruto da oliveira é de duas toneladas de azeitona por hectare, quando em 2000 era apenas de 0,5 toneladas de azeitona por hectare.
Já a produção, revela o estudo, apresenta um crescimento de 2,5%. Concentrando apenas as campanhas de safra – período em que se faz a apanha da azeitona –, em 2017, Portugal atingiu uma produção de 858 413 toneladas, um valor muito superior ao de 2006: mais de 362 mil toneladas.
Também o tipo de olival tem sofrido alterações ao longo dos últimos anos. Em 1999, apenas 2% do total de olival era moderno, um valor que representa atualmente 63%. “Durante os últimos 20 anos, o olival português passou por uma profunda transformação: de um olival tradicional e não competitivo passou-se para um olival moderno e eficiente, com todos os benefícios diretos e indiretos que isso gera”, revela o documento.
Os autores do estudo acrescentam que, com o crescimento que é esperado neste setor, nos próximos dez anos “Portugal será a maior referência na olivicultura moderna e eficiente do mundo, e possivelmente o sétimo maior em superfície”, sendo também o terceiro maior no que diz respeito à produção mundial de azeite, “o que não surpreende pelo facto de o país já contar com duas empresas que são referências internacionais na produção de azeitona e no embalamento de azeite”.
Uma outra particularidade referida no estudo é que o país é um dos primeiros lugares do mundo onde se inicia a campanha de azeitona, “oferecendo ao mercado os primeiros azeites de campanha de elevada qualidade”.
exportações vs. emprego Considerando a fileira do azeite, englobando a produção de azeitona para azeite e a produção do próprio azeite e considerando ainda os últimos três anos, obteve-se um volume de negócios superior a 620 milhões de euros. Os números são animadores, uma vez que significam um valor 2,5 vezes superior ao volume de negócios do triénio 2010 a 2012 e cerca de 9% do valor da produção agrícola nacional.
Também as exportações têm crescido “de forma muito marcada nos últimos anos”. Em 2017 foi atingido um valor de quase 500 milhões de euros, um número superior ao de 2005 em cerca de 420 milhões. Estes valores colocam Portugal como o quinto maior exportador mundial de azeite. “Além disso, temos de forma consistente, nos últimos cinco anos, sido capazes de manter níveis de exportação perto das 132 mil toneladas de azeite”, referem os autores do estudo.
Para o saldo da balança do complexo agroalimentar nacional, o setor do azeite contribui “de forma muito positiva” com 144 405 milhões de euros.
O setor do azeite representa, segundo o documento, mais de sete milhões de dias de trabalho em cada campanha, o equivalente ao trabalho de cerca de 32 mil pessoas a tempo inteiro, apesar de existirem tarefas sazonais. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o emprego neste setor está distribuído pela olivicultura (79%), produção de azeite (12%), comercialização (7%) e ainda refinação (2%).
Olival alentejano está mais produtivo O estudo revela ainda que o olival alentejano tem evoluído ao longo dos anos: passou de 172 mil hectares em 2007 para 188 500 no ano passado, num crescimento de 10%.
O estudo descreve os valores: há 20 anos, o olival moderno representava seis mil hectares. Atualmente, representa 82% do total da área de olival, com acrescento de novas áreas de regadio, principalmente de Alqueva, e transformação de olivais tradicionais em modernos – uma mudança que colocou o Alentejo como a região do país com representação de produção de azeitona a nível nacional de mais de 75% no ano passado.
Na zona do Alqueva, há 20 anos já existiam cerca de 40 mil hectares de olival. Contudo, a maior parte dessa área foi transformada em olival moderno. “Do ponto de vista económico, assistimos a uma verdadeira revolução: em poucos anos, a cadeia de valor de azeite passou a valer cerca de 450 milhões de euros, sobretudo devido a melhorias na eficiência, gestão, profissionalização e otimização da cultura e dos processos. Esta maior geração de riqueza teve efeitos sociais muito positivos, contribuindo para a fixação de pessoas”, concluem os autores do estudo.
Segundo os dados do Banco de Portugal, citados no estudo, o número de empresas do setor agrícola na região alentejana registou um aumento de 68%. Já no que diz respeito ao olival, tem sido esta a cultura que mais tem atraído investimento externo, com especial destaque para o Alqueva. “Os espanhóis foram os principais impulsionadores da primeira fase de expansão dos olivais modernos na região”, uma vez que trouxeram grandes conhecimentos aos agricultores nacionais. Mas depois da expansão, o investimento passou a ser liderado por empresários portugueses. “No conjunto do investimento agrícola do Alentejo, que já corresponde a 655,7 milhões de euros, o olival representa 64,39% do total do investimento apresentado no Alentejo”.
O estudo fala ainda da gestão do solo e refere que, em termos ambientais, a gestão do solo nos olivais, a não mobilização, a utilização de coberturas vegetais e a incorporação de resíduos de poda “demonstram que são práticas mitigadoras e inclusivas de uma estratégia que pode melhorar as propriedades do solo, diminuir as emissões de CO2 e aumentar a capacidade do solo para armazenar carbono”.
Atualmente, os mais de 55 mil hectares ocupados pelo olival do Alqueva representam 1,75% do total do território alentejano e 15,27% da área total de olival nacional.