Qualificação sim, exibição assim-assim


Com duas vitórias nos últimos dois jogos, a seleção portuguesa qualificou-se para a fase final do Euro 2020. No primeiro jogo, contra a Lituânia, fez uma boa exibição, mas o adversário era muito fraco; no segundo, contra um adversário mais forte, vacilou – e o resultado de 2-0 é lisonjeiro.


Fernando Santos é um treinador de que é difícil falar, pois quando se vê jogar a seleção há sempre dois sentimentos misturados: por um lado, vai ganhando jogos, somando qualificações para as fases finais e ganhando até provas; por outro, o futebol que joga não empolga, não entusiasma, não tem chama nem alegria.

Ora, com jogadores de ótima qualidade que jogam em grandes equipas da Europa, com “o melhor do mundo” no onze, como Santos está sempre a dizer, parecia haver condições para a seleção jogar um futebol bastante mais atrativo.

Mas como criticar um treinador que vai obtendo resultados? Será justo?

O mesmo pode dizer-se hoje de Ronaldo. Temos de ser objetivos e admitir que Ronaldo tem jogado muito pouco. Falha passes, perde bolas, marca mal os livres, até falha golos fáceis.

Mas como criticar um jogador que em dois jogos faz quatro golos?

Pode dizer-se que um foi de penálti, outro foi em cima da linha (numa bola que ia a entrar sem a sua interferência), pode dizer-se tudo. Mas a verdade é que Ronaldo marca mais que qualquer outro e isso quer dizer alguma coisa.

De qualquer modo, isso não justifica o estatuto de “reizinho” que está a assumir. Fernando Santos, durante o jogo com a Lituânia, perguntou-lhe várias vezes se queria sair – e ele é que decidia. E isto porque, num jogo da Juventus, Ronaldo reagira mal a ser substituído, abandonando o estádio antes de o jogo acabar, desrespeitando os colegas e o clube. Para mostrar que era diferente do treinador da Juve, Santos não quis fazer o mesmo. Quis que fosse Ronaldo a decidir o momento de ser substituído. Mas não pode ser. É perigoso numa seleção haver situações de privilégio.

Isto também se constata na marcação de livres diretos. É sempre Ronaldo a marcar. Por que carga de água? Até porque já não me lembro da última vez que Ronaldo marcou um golo de livre na seleção. Não seria mais correto ceder de vez em quando a marcação de um livre a outro? Note-se que há na seleção outros exímios marcadores de livres diretos, como Rúben Neves, Bruno Fernandes ou Raphael Guerreiro. Fica a ideia de que, em certas situações, um destes poderia fazer melhor do que Ronaldo.

Mas enfim. A seleção ganhou e tudo está bem quando acaba bem. Fernando Santos, mesmo com o seu futebol mastigado, lá vai ganhando. E quando assim é…

Já Ronaldo devia refrear o seu estatuto de estrela – e ceder o palco, aqui e ali, a um companheiro de equipa.


Qualificação sim, exibição assim-assim


Com duas vitórias nos últimos dois jogos, a seleção portuguesa qualificou-se para a fase final do Euro 2020. No primeiro jogo, contra a Lituânia, fez uma boa exibição, mas o adversário era muito fraco; no segundo, contra um adversário mais forte, vacilou – e o resultado de 2-0 é lisonjeiro.


Fernando Santos é um treinador de que é difícil falar, pois quando se vê jogar a seleção há sempre dois sentimentos misturados: por um lado, vai ganhando jogos, somando qualificações para as fases finais e ganhando até provas; por outro, o futebol que joga não empolga, não entusiasma, não tem chama nem alegria.

Ora, com jogadores de ótima qualidade que jogam em grandes equipas da Europa, com “o melhor do mundo” no onze, como Santos está sempre a dizer, parecia haver condições para a seleção jogar um futebol bastante mais atrativo.

Mas como criticar um treinador que vai obtendo resultados? Será justo?

O mesmo pode dizer-se hoje de Ronaldo. Temos de ser objetivos e admitir que Ronaldo tem jogado muito pouco. Falha passes, perde bolas, marca mal os livres, até falha golos fáceis.

Mas como criticar um jogador que em dois jogos faz quatro golos?

Pode dizer-se que um foi de penálti, outro foi em cima da linha (numa bola que ia a entrar sem a sua interferência), pode dizer-se tudo. Mas a verdade é que Ronaldo marca mais que qualquer outro e isso quer dizer alguma coisa.

De qualquer modo, isso não justifica o estatuto de “reizinho” que está a assumir. Fernando Santos, durante o jogo com a Lituânia, perguntou-lhe várias vezes se queria sair – e ele é que decidia. E isto porque, num jogo da Juventus, Ronaldo reagira mal a ser substituído, abandonando o estádio antes de o jogo acabar, desrespeitando os colegas e o clube. Para mostrar que era diferente do treinador da Juve, Santos não quis fazer o mesmo. Quis que fosse Ronaldo a decidir o momento de ser substituído. Mas não pode ser. É perigoso numa seleção haver situações de privilégio.

Isto também se constata na marcação de livres diretos. É sempre Ronaldo a marcar. Por que carga de água? Até porque já não me lembro da última vez que Ronaldo marcou um golo de livre na seleção. Não seria mais correto ceder de vez em quando a marcação de um livre a outro? Note-se que há na seleção outros exímios marcadores de livres diretos, como Rúben Neves, Bruno Fernandes ou Raphael Guerreiro. Fica a ideia de que, em certas situações, um destes poderia fazer melhor do que Ronaldo.

Mas enfim. A seleção ganhou e tudo está bem quando acaba bem. Fernando Santos, mesmo com o seu futebol mastigado, lá vai ganhando. E quando assim é…

Já Ronaldo devia refrear o seu estatuto de estrela – e ceder o palco, aqui e ali, a um companheiro de equipa.