O Magnífico (?) Reitor

O Magnífico (?) Reitor


O Magnífico Reitor Amílcar Falcão teve seguramente um dos seus minutos de glória mediática mas, julgo, fez mais mal que bem, neste seu exercício de populismo.


Julgava eu que uma Universidade era uma instituição de topo de todas as Escolas Superiores que a compõem, ensinando diferentes ramos do saber e desenvolvendo a apetência e a capacidade dos seus docentes e discentes para aprenderem, pensarem e investigarem, a sós ou em grupo, para poderem ser úteis à comunidade onde se integram (ou se venham a integrar).

Depois da estranha e mediática afirmação do Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Amílcar Falcão que, a partir de Janeiro de 2020 a carne de vaca vai ser banida das “suas” cantinas universitárias, aquela minha convicção sofreu um forte abalo, tanto mais que o Magnifico Reitor afirmou depois aos meios de comunicação social que a sua intenção fora colocar no seu discurso de abertura do ano lectivo, algo de impactante que lembrasse aos alunos que “vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”.

Mais afirmou o Magnífico Reitor “que, até 2030, vai tornar a Universidade de Coimbra na primeira universidade portuguesa neutra em carbono”.

Não conheço pessoalmente a magnífica personagem – que respeito – mas interrogo-me sobre se o Magnífico Reitor e o seu corpo docente cuidaram:

1 – De explicar cientificamente aos alunos, primeiro, e aos portugueses (incluindo os senhores jornalistas) depois, o que é isso da “neutralidade carbónica” e como se calcula;

2 – De explicar quantificada e cientificamente por que razão é que as vacas são determinantes para colocar um travão na “emergência climática” e, sendo-o, porque é que os sapatos, os cintos, os botões e outras peles ou utensílios feitos a partir dos vacuns, não serão igualmente interditos na Universidade de Coimbra;

3 – De explicar, com o rigor científico possível, qual a quota-parte da actividade humana (quase 8 mil milhões de pessoas), qual a quota-parte das vacas (1,35 mil milhões de cabeças) e qual a quota-parte das, há muito conhecidas, variações de actividade solar (nível, tipo e intensidade das radiações), enquanto contributos de peso para as ditas Alterações Climáticas;

4 – De explicar porque não estão já pintados de branco todos os edifícios, telhados, viaturas, arruamentos e outros espaços públicos da Universidade de Coimbra, como contributo (exemplar mas, se calhar, não negligenciável) para reflectir para a atmosfera parte da radiação solar neles recebida, de forma a contribuir para o abaixamento da temperatura média do globo, como ficou decidido na Conferência de Paris, em 2015;

5 – Se, por hipótese muito provável (à luz das declarações posteriores do Magnífico Reitor), se tratou do anúncio de uma medida “panfletária”, destinada a incutir respeito e reflexão sobre tão importante tema, porque é que igual medida não foi (ou não vai ser) igualmente adoptada no sentido de reduzir a (aparentemente incontrolável) taxa de natalidade no Mundo ou não avançou ao mesmo tempo com a “proibição” nas, cantinas universitárias, do consumo de carne de porco (quase mil milhões deles…), para suscitar igualmente interesse e reflexão sobre os respectivos efluentes, sobre os limitados recursos do Planeta face ao aumento da população mundial e sobre a necessidade de chamar a atenção para o (interminável) drama do Médio Oriente, onde duas religiões (onde o consumo de carne de porco foi banido) estão na base de um conflito permanente que ameaça exceder largamente os seus primitivos espaços e objectivos geográficos?

O Magnífico Reitor Amílcar Falcão teve seguramente um dos seus minutos de glória mediática mas, julgo, fez mais mal que bem, neste seu exercício de populismo.

É que cabe à Universidade (de Coimbra e às outras) suscitar debates e estudos (abertos ao contraditório) sobre o tema das Alterações Climáticas (eu sei que é difícil ou quase impossível obter nos financiadores habituais o apoio para qualquer projecto de I&D que não dê à partida por adquirida a responsabilidade do Homem, como seu principal causador…) e estimular os seus docentes e discentes a gerarem conhecimento útil sobre elas e como, realmente, as mitigar.

Não cabe ao seu Magnífico (como é de direito e da educação chamar-lhe) Reitor copiar, as conclusões do “toda a gente sabe que” (ver o entusiasmo instantâneo do PAN), antes importa que o tema não se transforme numa nova Religião, com os seus dogmas indiscutíveis e com os seus iluminados e radicais inquisidores… que já os há por aí espreitando.

 

Eng.º Agrónomo. Antigo Presidente do Conselho de Escola do Instituto Superior de Agronomia.