Espanha. Sánchez falha investidura e atira as culpas a Iglesias

Espanha. Sánchez falha investidura e atira as culpas a Iglesias


O PSOE tem até 23 de setembro para evitar que Espanha vá a eleições antecipadas. Nem a aproximação de última hora de Iglesias salvou o dia


Pedro Sánchez perdeu novamente a votação da sua investidura como primeiro-ministro espanhol, esta quinta-feira. Conseguiu 124 votos a favor – o mesmo número que conseguiu esta terça-feira -, praticamente todos do seu partido, havendo ainda 155 votos contra e 67 abstenções. Sánchez tem até 23 de setembro para conseguir uma maioria que lhe dê um novo mandato – de modo a evitar que em novembro se repitam as eleições de 28 de abril.

Parece cada vez mais certo  que haverá eleições antecipadas, sobretudo face à total rutura das negociações com os seus potenciais parceiros do Unidas Podemos, de Pablo Iglesias. O Unidas Podemos ainda tentou uma aproximação de última hora, renunciando à pasta do Trabalho caso lhes fossem cedidas “as competências das políticas ativas do emprego” – ou seja, a pasta do Trabalho mas sem a segurança social, algo que os socialistas recusaram e que mostrou o quão central foi o tema nas negociações. O partido de Iglesias quer “subir o salário mínimo interprofissional e revogar a reforma laboral do Partido Popular (PP)”, que flexibilizou os laços contratuais entre trabalhadores e empregadores, segundo o documento apresentado.

O Unidas Podemos acabou por se abster, impedindo Sánchez de obter maioria. “Nunca houve problemas de programa que impedissem o acordo”, afirmou o líder do PSOE, acrescentando que “o problema foram os ministérios”. “De que serve uma esquerda que perde inclusivamente quando ganha?”, perguntou Sánchez a Iglesias. “Vai impedir que haja um Governo progressista?” 

Já Iglesias acusou o PSOE de querer negociar um acordo de Governo em 48 horas quando não o fez nos 80 dias até à investidura. “Acha que nestes meses falou connosco com o respeito com que se fala com parceiros de Governo? Merecemos respeito”, salientou Iglesias, que se mostrou disposto a ultrapassar a “humilhação” do veto dos socialistas a que o seu nome fizesse parte do novo Governo. Depois da votação, Sánchez assegurou: “Escolho proteger Espanha”.

Déjà-vu “Esta é a segunda vez que vocês vão impedir a um Governo de esquerda em Espanha”, acusou a porta-voz dos socialistas no Congresso de Deputados, Adriana Lastra, no encerramento da sessão. Referia-se ao rescaldo das eleições legislativas de dezembro de 2015, que tiveram de ser repetidas em 2016.

 Na altura, o PSOE e o partido de Iglesias também foram incapazes de chegar a um acordo, após os barões socialistas exigirem que os seus potenciais parceiros renunciassem a um referendo à autodeterminação da Catalunha – que Iglesias assegurava ser “imprescindível”. Mas, em 2019, essa questão nem se colocou, com Iglesias a afirmar: “Não vamos fazer das nossas posições uma linha vermelha”.

O resto do hemiciclo À margem do duelo entre Sánchez e Iglesias, as restantes forças políticos não coibiram de criticar o processo. “Tinha um mandato do Rei, sr. Sánchez, e fracassou”, lançou o líder dos Ciudadanos, Albert Rivera. “A sua investidura é a história de um grande fracasso”, notou Pablo Casado, líder do PP, que criticou as negociações no Twitter: “Espanha precisa de um primeiro-ministro, não de um comerciante”.

Do lado dos independentistas catalães, Gabriel Rufián, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) – que admitiu abster-se para permitir um acordo entre o Unidas Podemos e o PSOE “a troco de nada” -, lamentou: “Vamos arrepender-nos, toda a esquerda”. A possibilidade de os independentistas apoiarem Sánchez – como fizeram para que este se tornasse primeiro-ministro em 2018 – parecia remota à partida, devido à polarização causada pelo julgamento dos líderes catalães.