As memórias da nossa infância sempre nos recordam do que os mais velhos nos diziam. Lembro-me perfeitamente da história do “quando fores mais velho vais perceber” ou “quando chegares à minha idade vais dar valor a outras coisas”. Logicamente que nessa idade damos pouco valor a este tipo de frases, achamos que tudo vai ser eterno e não acreditamos sequer na possibilidade de pensarmos de outra forma. É tudo feito com emoção e impulsividade, e queremos lá saber de como vai ser quando chegarmos mais à frente. Aliás, a maior parte das vezes achamos toda aquela conversa uma verdadeira seca, que eles não nos entendem, que são retrógrados e que nós nunca mas mesmo nunca iremos deixar de gostar do que gostamos e de fazer certo tipo de coisas de uma determinada forma.
Nada mais errado, embora seja natural pensarmos assim. A verdade é que à medida que vamos crescendo vamos dando valor a outras situações, vamos modificando o nosso modus operandi, reagindo de forma diferente e, acima de tudo, selecionando aquilo que se faz. Uma vez que se tem maior noção do tempo e da finitude da vida tenta-se escolher, optar e não perder tempo com o que pouco importa ou não acrescenta assim tanto. Essa é a maravilhosa essência de quem convive bem com o passar dos anos e vai dando valor a cada estágio da sua construção. Aproveitar o que de melhor nos oferece cada idade, tendo a capacidade para degustar de outra forma, selecionando com gosto aprimorado.
Eu sinto cada vez mais isso na pele. Trabalhei durante anos à noite e quem me dissesse que um dia iria preferir o dia, que não aguentaria as maratonas de festas ou que veria as coisas de outra forma era alvo de desconfiança máxima. Pois bem, na verdade, muito mudou. Para dar um exemplo, hoje em dia dá-me um prazer enorme acordar a um domingo às nove da manhã sem sono e cheio de vontade de sair à rua e aproveitar. As noitadas são substituídas pelos bons almoços e pelos fins de tarde passados com quem mais gosto. Não se elimina tudo, mas altera-se a forma como se faz. Os dias tornam-se mais produtivos e acabam por ficar maiores. Aproveita-se mais aquilo que há para aproveitar e encaixam-se objetivos para que caiba tudo o que queremos fazer. Comer bem, estarmos com aqueles que valem realmente a pena, viajar e dedicarmo-nos ao que gostamos de fazer, procurando os pequenos prazeres no mais simples que a vida tem para nos oferecer.
Essa é a razão para dar cada vez mais valor à praia, aos mergulhos no mar, aos sabores, às emoções e aos sentimentos. Somos menos do mundo e mais dos nossos. É por isso que apostamos no que outrora pareceria tão pouco emocionante ou tão sensaborão. Acordar ao domingo às nove da manhã assume, por isso, o exemplo perfeito do que se tornou tão especial e que era antigamente tão superficial. As diversas sensações do que o dia tem para nos oferecer e a assunção da qualidade em detrimento da quantidade. Já não vamos a todas nem ao que não nos apetece, tornamo-nos mais exigentes. Essa é a grande magia da alteração do nosso comportamento em função do crescimento, irmo-nos moldando sem imposições ou uma obrigatoriedade de ser assim ou assado. Marimbarmo-nos para o que os outros pensam. Sermos mais nós próprios e fazermos as nossas próprias modas. Fazer da experiência a razão para acertarmos mais vezes com mais histórias para contar…