O filão da morte de Van Gogh ainda não se esgotou: é hoje leiloada em Paris a arma supostamente utilizada pelo pintor para tirar a sua própria vida, no verão de 1890. Os peritos estimam arrecadar entre 40 e 60 mil euros pelo objeto – valor calculado com base na “celebridade do artista, a probabilidade de se tratar da arma do suicídio e o interesse que sentimos que pode despertar”, disse um responsável da AuctionArt, a leiloeira por detrás da operação, citado pelo New York Post.
O leilão agendado para hoje reacendeu o debate em torno da morte do artista holandês – há uma tese difundida por investigadores norte-americanos em 2011 que defende que Van Gogh não se terá suicidado, e que terá sido baleado acidentalmente. Mas, segundo a linha de investigação apontada pela leiloeira, esta que é conhecida como a “arma mais famosa da história da arte” – um revólver Lefaucheux de 7 mm de calibre – terá mesmo sido a arma por detrás do suicídio do pintor, aos 37 anos. E para lá do feito infame, a história do revólver é, por si só, curiosa.
Perdida no campo A arma foi encontrada na década de 60 por um agricultor, nos campos por detrás da igreja da localidade de Auvers-sur-Oise, no sul de França, onde o pintor terá disparado sobre si próprio no peito, no dia 27 de julho de 1890. O tiro do revólver – emprestado pelo dono da pousada onde se tinha alojado nos últimos tempos – não o matou de imediato. Van Gogh voltou muito ferido para a pousada, onde acabou por morrer a 29 de julho.
Depois de ser encontrado, o revólver foi entregue pelo agricultor aos pais do atual dono, continua a leiloeira. Foram então realizadas inúmeras perícias ao revólver e os resultados foram suficientemente convincentes para que o insuspeito Van Gogh Museum de Amesterdão reconhecesse que se tratava efetivamente do revólver usado pelo pintor, um dos mais notáveis subsidiários do movimento impressionista, para pôr fim à sua vida. O objeto foi exibido pelo museu em 2016, sendo uma das peças-chave da exposição À beira da loucura, centrada no dramático último ano e meio de vida do pintor, marcado por uma profunda depressão. Na mesma exposição foram ainda apresentados outros documentos inéditos, como um desenho de Félix Rey que dava conta de que Van Gogh tinha cortado a totalidade da orelha esquerda – e não apenas o lóbulo – ou uma petição assinada pelos seus vizinhos em Arles (na Provença francesa) reivindicando que o artista fosse internato num asilo.
Mas porque acreditam os especialistas que estamos perante a arma do suicídio? Para lá de ter sido encontrada no local correto, o calibre da arma era compatível com “a bala descrita pelo dr. Gachet” – um médico retratado pelo artista e que operou, sem sucesso, Van Gogh no seu leito de morte. Segundo os testes forenses, a arma terá sido disparada “pouco antes de cair” e terá ficado enterrada “entre 50 e 80 anos”. Além disso, o “limitado” poder de fogo do Lefaucheux era compatível com o ferimento que vitimou o artista, mas não lhe provocou morte imediata.
Quem arrebatar hoje o revólver só poderá contar definitivamente com a peça na sua coleção em fevereiro de 2020, já que, entre outubro deste ano e essa data, a arma será uma das peças da exposição Making Van Gogh A German Love Story, patente no Städel Museum de Frankfurt.