Shakespeare e Assequins


ALMATY – Daquele filme um bocado xaroposo chamado Shakespeare in Love, guardo uma imagem cheia de sol. O sol chama-se Gwineth Paltrow, lança raios de um brilho intenso de devolver a vista a um amblíope, e exclama lá do topo inacessível da sua juventude escandalosamente eterna: “This is not a new day. This is a…


ALMATY – Daquele filme um bocado xaroposo chamado Shakespeare in Love, guardo uma imagem cheia de sol. O sol chama-se Gwineth Paltrow, lança raios de um brilho intenso de devolver a vista a um amblíope, e exclama lá do topo inacessível da sua juventude escandalosamente eterna: “This is not a new day. This is a new world!”

Vejo-a e revejo-a. E Torga, na sua imensa sabedoria, tinha razão: “Um homem nasce quantas vezes a ternura feminina quer”.

Há quem duvide que Shakespeare tenha existido. Outros, mais irónicos, dizem que não só nunca existiu como todas as suas peças foram escritas por um tipo que, por acaso, também se chamava Willliam Shakespeare.

Não dou para esse peditório. Mas tal como estou absolutamente certo do facto de o Vidal, de Aguada-de-Cima, ter vendido leitões para a Rainha de Inglaterra, sei de certeza profunda que Shakespeare, tenha existido ou não, nunca passou por Assequins, aquela terra na qual, na segunda-feira a seguir à Páscoa, se trepa ao pau de sebo e fica na estrada que vai na peugada das curvas do Caramulo. E sei-o porque ninguém iria perder tempo com Romeus e Julietas se conhecesse uma história de amor como a do Antero Bolacha e a Graça Batata, algo que só poderia passar-se em Águeda, esse lugar infinito do realismo-mágico que se perde em mais de 300 anos de solidão.

Pode não ter sido um amor impossível, contrariado, dramático, e nem estou a ver o Antero, que é bombeiro, trepar à varanda de casa dos Batatas agarrado a umas trepadeiras. Usaria, certamente, uma escada extensível.

No tempo de Shakespeare, ou de outro por ele, Straford-upon-Avon deveria ser tão entusiasmante como Vale do Grou a partir das oito da noite. William de lá escreveu o mundo inteiro. Com excepção de Assequins, onde os Bolachas e os Batatas metiam Capuletos e Montéquios numa das chancas do Rebocho. Eu prefiro andar pelo mundo e escrever sobre Assequins. Questão de gostos…


Shakespeare e Assequins


ALMATY – Daquele filme um bocado xaroposo chamado Shakespeare in Love, guardo uma imagem cheia de sol. O sol chama-se Gwineth Paltrow, lança raios de um brilho intenso de devolver a vista a um amblíope, e exclama lá do topo inacessível da sua juventude escandalosamente eterna: “This is not a new day. This is a…


ALMATY – Daquele filme um bocado xaroposo chamado Shakespeare in Love, guardo uma imagem cheia de sol. O sol chama-se Gwineth Paltrow, lança raios de um brilho intenso de devolver a vista a um amblíope, e exclama lá do topo inacessível da sua juventude escandalosamente eterna: “This is not a new day. This is a new world!”

Vejo-a e revejo-a. E Torga, na sua imensa sabedoria, tinha razão: “Um homem nasce quantas vezes a ternura feminina quer”.

Há quem duvide que Shakespeare tenha existido. Outros, mais irónicos, dizem que não só nunca existiu como todas as suas peças foram escritas por um tipo que, por acaso, também se chamava Willliam Shakespeare.

Não dou para esse peditório. Mas tal como estou absolutamente certo do facto de o Vidal, de Aguada-de-Cima, ter vendido leitões para a Rainha de Inglaterra, sei de certeza profunda que Shakespeare, tenha existido ou não, nunca passou por Assequins, aquela terra na qual, na segunda-feira a seguir à Páscoa, se trepa ao pau de sebo e fica na estrada que vai na peugada das curvas do Caramulo. E sei-o porque ninguém iria perder tempo com Romeus e Julietas se conhecesse uma história de amor como a do Antero Bolacha e a Graça Batata, algo que só poderia passar-se em Águeda, esse lugar infinito do realismo-mágico que se perde em mais de 300 anos de solidão.

Pode não ter sido um amor impossível, contrariado, dramático, e nem estou a ver o Antero, que é bombeiro, trepar à varanda de casa dos Batatas agarrado a umas trepadeiras. Usaria, certamente, uma escada extensível.

No tempo de Shakespeare, ou de outro por ele, Straford-upon-Avon deveria ser tão entusiasmante como Vale do Grou a partir das oito da noite. William de lá escreveu o mundo inteiro. Com excepção de Assequins, onde os Bolachas e os Batatas metiam Capuletos e Montéquios numa das chancas do Rebocho. Eu prefiro andar pelo mundo e escrever sobre Assequins. Questão de gostos…