José Vila, o pintor e coproprietário do conhecido restaurante – tasca, dirá ele – Vila Lisa, na Mexilhoeira Grande, Portimão, inaugura amanhã uma exposição no Medusis Club, em Almancil. A mostra terá a duração de apenas uma semana, conta o pintor ao i, e será uma espécie de “retrospetiva”.
Para tal, Vila selecionou cerca de 25 quadros da sua autoria – que já tinha pintado anteriormente – para levar até ao Medusis. “Não tenho pintado nos últimos tempos”, explica ao telefone [tem--se debatido com uma doença]. “Por isso, escolhi uns quadros mais antigos e outros mais novos que, de alguma forma, contassem o meu percurso. É então uma retrospetiva.”
Os quadros estarão à venda. “Até eu estou à venda, o preço é que é mais caro”, diz a rir o pintor que se tornou já um símbolo da região. A última exposição do algarvio tinha acontecido em Lisboa, no ateliê de Leonel Moura.
O momento será, como dita o próprio, antecedido de um almoço subordinado ao tema “coisas da terra e do mar”. A inauguração está marcada para as 16h00 e a festa de abertura ao público vai ser feita ao som de cante alentejano. “Estão todos convidados”, remata.
Parte da obra de Vila pode ainda ser vista no restaurante na Mexilhoeira Grande que é uma das referências da cozinha tipicamente algarvia. Mas muito antes de pôr mãos na massa e tornar o Vila Lisa um destino de referência – desde os anos 80, o espaço reunia e reúne uma legião de devotos comensais entre os quais, por exemplo, Mário Soares, James Gandolfini, Robert De Niro ou Serge Gainsbourg -, a pintura já fazia parte da sua vida.
O quadro da vida José Vila pinta desde que se conhece como gente e desde o tempo em que o Algarve era um reduto intocado, feito de praias quase desertas e de gente longe de conhecer a abundância. Nem sabe como arranjava os pincéis ou tintas. “Só sei que os tinha. Sempre me desenvencilhei e sempre fui muito explosivo, acho que a vida é feita para se viver, não é para se estar acomodado”, contou ao “Sol” numa entrevista publicada em 2016. Quando começou, vendia quadros para sobreviver e beber copos. “A cada rifa [para sortear um quadro] que vendia pagava uma rodada à malta que estava no António José, na Luz de Tavira.”
Chegou a estar inscrito na Escola de Belas-Artes de Lisboa, mas foi recrutado para cumprir o serviço militar na Guiné – o único sítio onde não pintou. “Lá não havia hipótese.”
De volta a Portugal instala-se em Lisboa – primeiro no Restelo, depois em Sintra – e trabalha numa empresa ligada ao Ministério da Educação, voltando à pintura como hobby. É também nessa altura que se inscreve no Ar.Co. Desses tempos recorda uma vida em que os dias e as noites se pegavam, passados em sítios icónicos em Lisboa como o Café Montecarlo. “E a minha vida aí foi com intelectuais, como o Manuel da Fonseca. Convivi muito com o Ary, no Parque Mayer e no Gelo, por aí”, recordou.
Foi no início dos anos 80 que desafiou o amigo Lisa a abrirem na aldeia de ambos, a Mexilhoeira Grande, uma “casa para se comer bem”, com verdadeira comida algarvia. A história da parceria entre os dois é contada por Lisa: “Numa bela manhã de verão na Meia Praia, para aí em julho, aparece-me o Vila com um colchão repimpa debaixo do braço, daqueles colchões antigos que se levavam para a praia. Disse-me que ia almoçar, mas que estava chateado porque os restaurantes só tinham comida da escola hoteleira. Isto foi em 80. Perguntei-lhe qual era o problema. Ele responde-me que eu tinha uma casa na Mexilhoeira vazia e que podíamos abrir uma casa de comidas. Naquele dia fui dar um mergulho, mas não pensei mais no assunto. Só que meteu-se-lhe aquilo na cabeça e acho que eu ainda nem tinha acabado o mergulho e já estavam os pedreiros a partir a casa.”
O Vila Lisa já vai a caminho das quatro décadas e a fórmula mantém-se. Assim como a amizade entre os dois – ontem, foi Lisa a ajudar o amigo a terminar a montagem da exposição em Almancil.