José Mourinho: do sublime… ao despedimento


Acontece que quando alguém está na mó de cima, a margem de tolerância para com as suas falhas parece não ter fim. Mas quando está na mó de baixo manifestações de arrogância tornam-se difíceis de engolir


O anúncio ontem do despedimento de José Mourinho do cargo de treinador do Manchester United suscitou as reações mais díspares. A maioria dos seus pares sublinhou que não é por causa desta demissão que Mourinho deixa de ser um grande treinador – se não mesmo o maior. Mas também houve quem não escondesse a sua satisfação com o desfecho.

A verdade é que o estilo do treinador setubalense não agrada a todos. Mourinho tem uma autoconfiança que roça frequentemente a arrogância. Vejamos o caso da conferência de imprensa de 27 de agosto deste ano. Depois da mais pesada derrota em casa da sua carreira, o treinador virou-se para os jornalistas com três dedos levantados e perguntou: “Sabem o que isto significa?”. Bastante irritado, ele próprio deu a resposta: “Significa que perdemos 3-0. Mas também significa três Premierships. Ganhei mais Premierships sozinho do que os outros 19 treinadores juntos”.

Acontece que quando alguém está na mó de cima, a margem de tolerância para com as suas falhas parece não ter fim. Mas quando está na mó de baixo manifestações de arrogância como esta tornam-se difíceis de engolir.

E há outro problema no discurso de Mourinho: a falta de coerência. Quando ganha, o treinador arrecada os louros. Por exemplo, ao falar com os jornalistas na tal conferência de imprensa, referiu os três campeonatos de Inglaterra como se fossem conquistas pessoais, sem sequer mencionar as equipas ou os jogadores.

No entanto, quando perde é frequente atirar as culpas para cima dos atletas. Ainda recentemente disse numa entrevista que faltava “caráter” a alguns dos seus talentos do Manchester United. Em que ficamos? A responsabilidade das vitórias é do treinador e a das derrotas dos jogadores?

Napoleão disse um dia que “Do sublime ao ridículo vai apenas um passo”. Apesar dos paralelos entre o percurso (e talvez até a personalidade) de Mourinho e do general francês, seria injusto aplicar esse adjetivo ao treinador português. Mas uma coisa é certa, depois das enormes conquistas, a única coisa sublime para Mourinho neste momento é a indemnização a que vai ter direito. 26 milhões de euros – nada mau para quem acaba de ser despedido por não corresponder ao esperado.