Em tudo o que foi dito e escrito sobre o ambiente eleitoral e sobre o desfecho das eleições brasileiras, fossem quais fossem as tendências e as mensagens “independentes” dos “analistas”, ressaltou o facto de a corrupção e a cleptocracia do partido no poder nos últimos anos ter “atirado”, literalmente, 55 milhões de eleitores de todas as origens, classes e convicções (sabe-se lá com que receio para muitos) para os braços de um presidente sebastiânico, cuja boçal linguagem actual e comportamento democrático futuro lhes suscitam, por ora, legítimos receios.
Nunca ninguém disse ou escreveu que a corrupção, a batota e o roubo eram fenómenos novos ou desconhecidos naquele País mas ficou bem claro que se tinha ultrapassado (para a maioria) a fronteira da decência e do suportável.
Pois foi nesse mesmo dia 28 de Outubro de 2018, ironia das ironias, que os mídia portugueses (nacionais e regionais, públicos e privados) – os mesmos que estão na linha da frente contra as “fake news” – se fizeram eco do anúncio do autarca de Oliveira do Hospital que dizia “vamos fazer um esforço financeiro enorme (1 milhão de euros) para que os donos dos terrenos, infestados por milhões de eucaliptos nascidos espontaneamente na sequência dos fogos de Outubro de 2017 se sintam motivados para remover esta espécie exótica…” (cito a ANOP, perdão, a LUSA).
Mais diziam as “notícias” (contei dezenas de ”repetições”, sem dúvidas, perguntas ou contraditório, por esse imprensa nacional fora…) que a autarquia iria “doar espécies da flora primitiva para substituir os pequenos eucaliptos que crescem descontroladamente “!!!!
Ficou pois o País a saber que o autarca de Oliveira do Hospital vai gastar o dinheiro de todos nós (porque, julgo, não será o dele e que o da Autarquia é dos munícipes e de todos os contribuintes) para arrancar plântulas de eucaliptos em eucaliptais ardidos – que sempre nasceram e que sempre a Natureza ou os donos das propriedades retiraram sem custos colectivos – para “eliminar os eucaliptos “ (é este o título apocalíptico do defunto DN, por exemplo) e, julga ele, ganhar as próximas eleições.
Como todos os Autarcas desejam (legitimamente, aliás) ganhar as próximas eleições, é natural que os líderes dos 307 restantes Concelhos decidam igualmente “fazer um esforço financeiro enorme” para arrancar o que não é preciso… com o dinheiro dos portugueses.
O apelo para “mais dinheiro por tão boa causa” é tanto mais oportuno quanto o Orçamento de Estado está a ser cozinhado e o Bloco de Esquerda e Companhia (nesta matéria) também entendem que este tema – e este aproveitamento da ignorância de alguns “bem colocados” – dá votos.
Talvez, depois da antes ensaiada e já garantida taxa de protecção civil, seja criada (mais) uma nova taxa de “salvação da flora primitiva”, “de “extermínio das espécies capitalistas” ou de “solução final para os eucaliptos” que deve passar sem dificuldade no Parlamento, já que o Primeiro-Ministro entendeu necessário aceitar a inclusão do extermínio dos eucaliptos no Pacto que deu origem ao Programa do actual Governo (está lá claro, para quem saiba ler politiquês), que o Ministro da Agricultura se dispôs (talvez contra a sua íntima convicção…) a propor peças legislativas nesse sentido e que até o cosmopolita Presidente da República se prestou a mostrar “como se faz”…
Para dar alguma seriedade à peça trágica que se vai representando, a Lusa noticia ainda que os funcionários do Gabinete Técnico Florestal de Oliveira do Hospital (cuja existência todos os portugueses vão pagando, nos combustíveis, através de uma taxa que era destinada a viabilizar, economicamente, os produtores florestais pelas práticas ambientalmente desejáveis que hoje lhes são financeiramente incomportáveis) – supostamente “técnicos” – avisam que “se os jovens eucaliptos não forem arrancados com urgência, a sua eliminação só será possível com corte ou herbicida, com prejuízos à natureza e ao homem”…
Ou seja: Um chorrilho de mentiras, de disparates e de meias verdades está a servir para montar uma gigantesca operação (mais uma) de roubo aos portugueses que produzem diariamente riqueza através do seu trabalho !!!
Onde está a Ordem dos “técnicos” que dizem/escrevem estas coisas? Onde está a Academia que, supostamente, lhes deu o “canudo”? Onde estão os partidos que defendem uma linguagem de verdade? (e isto nada tem a ver com querermos mais ou menos eucaliptos em Portugal) Onde estão as centenas de milhares (repito: centenas de milhares) de portugueses que vivem de e para o “cluster” silvo-industrial do eucalipto? Dos produtores florestais aos prestadores de serviços de preparação do terreno e da exploração florestal; dos transportadores às pequenas empresas e oficinas de comercialização e manutenção dos equipamentos florestais; das simples bombas de gasolina do interior aos viveiristas; das industrias papeleiras aos sindicados dos respectivos trabalhadores; dos ilustres investigadores com bolsas públicas aos especializados centros privados de investigação da indústria transformadora, etc..
Talvez quase todos tenham receio de afrontar hoje o “politicamente correcto” mas não esqueçamos que o povo eleitor (do urbano ao rural, independentemente do seu grau de literacia e do seu grau de envolvimento com o Sector Florestal) não esquece a “conta corrente” de aldrabices, tropelias e roubos de que tem sido vítima (e não me refiro apenas ao actual governo e acompanhantes)… e que um qualquer Trump, Chavez, Macron ou populista de ocasião como Bolsonaro, está por perto, pronto a utilizar uma linguagem boçal e um duvidoso comportamento democrático que o levará ao poder, neste caso particular com a preciosa ajuda, entre outras, dos autarcas das Oliveiras do Hospital deste País que nessa altura chorarão lágrimas de crocodilo.
Lisboa, 31 de Outubro de 2018