O Presidente, os eucaliptos e o regresso aos autos de fé


O técnico superior da então Autoridade Florestal encarregado de fazer a “leitura florestal” do projecto de diploma detectando tão estranha inclusão, comunicou-a à sua hierarquia…e a proposta de revisão do DL 565/99 transformou-se a partir daí num caso político e mediático


– O DL 565/99 de 21 de Dezembro (que lista as espécies animais e vegetais introduzidas – vulgo exóticas – em Portugal e as regras para novas introduções) foi preparado, publicado e recebido pelos diferentes stakeholders do sector florestal (é só sobre este que me pronuncio) como um documento político (afinal é um Decreto-Lei…) alicerçado em judiciosas (e precursoras, na altura) considerações técnicas;

– Continha em si fragilidades inevitáveis (como a de tentar construir listas exaustivas de exóticas e de colocar no mesmo Anexo – embora com um “i” ao lado das primeiras – as espécies invasoras e as não invasoras, de ter um infindável anexo de centenas ou milhares de nomes latinos, etc.) mas era, acima de tudo, uma abordagem “honesta” e sectariamente “desinfectada”;

– Em 2009, sem qualquer consulta ou discussão pública prévias, mesmo no seio da Administração Pública, começou a circular pelos Ministérios, com vista a recolher o OK para subir a Conselho de Secretários de Estado (!), um projecto de DL destinado a substituir aquele, redigido no então ICNB – Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, com o mesmo formato do anterior (anexos finais com milhares de nomes científicos da fauna e da flora);

– O então presidente do Organismo, como qualquer dirigente responsável no exercício das suas funções, leu o projecto de DL e confiou que os milhares (?) de nomes científicos da fauna e da flora constantes das listas anexas, nomeadamente a das espécies invasoras, correspondiam à melhor ciência disponível e tinham obtido o consenso dos especialistas na matéria (já que nada de controverso lhe foi assinalado);

– Acontece que “alguém” (nunca se cuidou de saber quem) colocara naquele “labirinto” de nomes latinos (julgo que eram três ou quatro colunas por página… de muitas páginas) o eucalipto mais comum em Portugal, na lista das espécies invasoras (que o corpo do diploma explicava como erradicar…);

– O técnico superior da então Autoridade Florestal encarregado de fazer a “leitura florestal” do projecto de diploma detectando tão estranha inclusão, comunicou-a à sua hierarquia…e a proposta de revisão do DL 565/99 transformou-se a partir daí num caso político e mediático…;

– Mais de uma dezenas de Professores do ISA – Instituto Superior de Agronomia (onde não estavam todos, obviamente, mas onde figuravam os de melhor ranking internacional em matéria de Silvicultura e Fisiologia Vegetal) subscreveu uma tomada de posição pública denunciando a enormidade do disparate (e a falta de bases científicas para tal inclusão) e o projecto de DL foi recolhido por iniciativa da própria tutela do ICNB;

– Os jornalistas foram então “convenientemente informados” (muito provavelmente pelos autores da inserção capciosa) que a indústria da celulose tinha conseguido bloquear o projecto de DL que colocava o eucalipto como espécie invasora a erradicar (tese que um conhecido “sábio” militante anti-eucalipto viria a recordar oportunisticamente quase dez anos depois num jornal diário);

– Tudo isto pareceu ter sido possível porque na série de livros sobre a Floresta, editada pelo Público em 2007 e coordenada pelo Prof Sande Silva, pela primeira vez, surgiu a “acusação” (sem provas) que o Eucalyptus globulus era “invasor”;

– Esta “tese” – que suscitou, como se disse, reacção imediata no meio académico – limitou-se afinal a dar eco a um projecto financiado pela FCT (liderado pela Profª Helena Freitas da Universidade de Coimbra) através do qual foi criado um site chamado Invaders onde foi colocado o nome do Eucalyptus globulus;

– Acontece que nesse site estava expressamente declarado que a colocação de algumas espécies (flora) nesta lista – não referia quais – resultava da “convicção dos autores e não de quaisquer trabalhos ou provas científicas”. Pode parecer mentira mas é mesmo verdade e eu guardei um print dessa “pérola”…

– A partir daí a confusão instalou-se e no Guia de Campo da Universidade de Coimbra (citando o site Invaders) o eucalipto passou a figurar com a designação de “potencial invasor”, tendo como base a lista do dito site;

– A cereja em cima do bolo para estes “novos Inquisidores” (ainda não sonhavam com o simulacro de auto-de fé recentemente protagonizado pelo Presidente da República!) surgiu quando o Prof David M. Richardson – uma espécie de Papa nestas matérias – escreveu num seu paper que o E.globulus era/tinha sido “apontado em Portugal como invasor” (citando como fonte, obviamente, o acima referido Guia de Campo);

– A partir daí os militantes nacionais anti-eucalipto usaram esta “prova maior” de que o E. globulus era, de facto, invasor…porque estava escrito numa publicação do Prof Richardson !!!! (e não cuidaram nunca de dizer onde ele fora buscar isso…);

– Foi aquilo a que, na pseudociência, se chama de “técnica da citação circular”. Ou seja: Eu digo que “talvez seja”. O sábio sério e preferencialmente estrangeiro que não me conhece, diz que “há quem diga que talvez seja”. Logo, digo eu, “até o sábio sério diz que é”….

 – O assunto passou pois a ser tratado nas piores franjas da “política” e da “ciência”;

– Depois da denúncia desta “citação circular” alguns activistas da “biologia política” anti-eucalipto com mais pudor científico, preferiram reposicionar-se numa atitude ambivalente, dizendo que o eucalipto era “potencialmente invasor” e que “são precisos mais estudos”, aproveitando para acrescentar que o conceito de “invasor” não era assim tão depreciativo e preocupante, chegando mesmo a ouvir-se – pasme-se – numa reunião informal na Academia das Ciências que “invasora, é toda a exótica que regenera” (sic)!

– Numa coisa esses críticos têm razão: o termo “invader” na terminologia científica e na língua inglesa não está associado, como entre nós, ao conceito de “praga” nem à realidade física de uma grande ou maciça ocupação do território (como parece ser o casus belis do eucalipto entre nós);

– Por tudo isto surgiram – bem depois das “certezas” de 2007… – diversas propostas para efectuar mais estudos sobre o tema. Uma das primeiras incluía o convite do Prof Sande Silva à então Portucel Soporcel para se associar e co-financiar um projecto a submeter por ele e pela sua equipa à FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (depois de esta lhe ter chumbado uma anterior tentativa que carecia de parcerias privadas);

– A Administração daquela empresa declinou aquele convite porque, também ela, estava a considerar parcerias com o ISA e com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disponibilizando para tal o seu património e a sua logística;

– As Professoras Otília Correia e Cristina Máguas – nomes muito destacados, nacional e internacionalmente, no estudo e conhecimento das invasoras lenhosas – mostraram-se interessadas no tema e assim surgiu um projecto de quatro anos, co-financiado pela FCT e pela hoje Navigator, no âmbito do programa de “Doutoramentos em Ambiente de Empresa” da FCT;

– Esse doutoramento ficou concluído em 2016 – já depois de ter saído clara e inequívoca regulamentação da União Europeia sobre “espécies invasoras” – e deu origem a vários papers publicados nas revistas científicas de referência;

– A defesa dessa tese foi feita perante um júri “insuspeito” onde aceitaram figurar o “famoso” e atrás citado Prof David Richardson, o Prof Sande Silva, a Prof Helena Freitas e o Prof. Paulo Fernandes, entre outros,… e a Doutoranda foi aprovada por unanimidade e com distinção;

– Acontece que nesse doutoramento (que comparava a intensidade e o sucesso da regeneração natural por semente do eucalipto e do pinheiro bravo) ficou clara – como se fosse necessária – i)a definição inequívoca de “espécie invasora”(*) (que nada tem a ver com o sentido que lhe dão os mediáticos militantes anti-eucalipto), ii) que a regeneração natural por semente do pinheiro bravo era/é bastante mais abundante, duradoura e de maior alcance espacial que a do eucalipto (cuja larga maioria das plântulas – sob as copas – não sobrevive) e – muito importante – iii) que a falta de gestão de ambas as espécies (cultivadas) deveria ser contrariada e penalizada, de forma a evitar efeitos físicos (fogos e sobrelotação dos povoamentos pré-existentes), biológicos (pragas e doenças) e económicos (perda de rendibilidade) técnica e socialmente indesejáveis;

– Ou seja, mais um trabalho científico que reforçou a necessidade absoluta (de há muito repetida) de existir uma política florestal responsável e efectiva em Portugal, nomeadamente com base neste e noutros trabalhos a desenvolver;

-Em nenhum caso, literatura ou pedagogia (aqui ou no estrangeiro) se viu ou sugeriu que um Presidente da República avançasse com uma turba mediática sobre um qualquer terreno (privado? com autorização do dono?) arrancando plantas ou plântulas com escassa esperança de vida e nenhuma perigosidade, sem uma explicação (pedagógica e não populista, como foi o acto em si) à população que o elegeu e às centenas de milhares de portugueses que são donos de eucaliptos;

– O que fica subjacente a mais este lamentável “episódio florestal” do Presidente da República (para pouca sorte dele – e nossa – não foi o primeiro nem o segundo…) é que afinal os autos de fé aos eucaliptos (arrancando-os a eito, especialmente quando as raízes o permitirem, isto é, mesmo no caso de recentes plantações ordenadas ou, pura e simplesmente, deitando-lhes fogo, coisa em que por cá se pratica com frequência) têm o beneplácito da veneranda figura do mais alto magistrado da Nação (em quem votei, aliás) que encorajou expressamente os portugueses a fazerem como ele…

Triste sina a nossa…hoje os eucaliptos, porque sim…amanhã outra qualquer coisa que o populismo “exija”… e tudo porque, pura e simplesmente, as pessoas em causa se recusam a sujeitar-se ao contraditório de boa fé.

                                                                     Lisboa, 18 de Outubro de 2018

 

(*) Definição de espécie invasora: Uma espécie invasora é aquela que regenera natural e abundantemente e com sucesso (quanto à taxa de sobrevivência das plântulas germinadas) em paragens distantes dos limites geográficos do seu povoamento de origem, gerando condições nos habitats envolventes que tornam inviáveis (muitas vezes de forma irreversível) a manutenção da biodiversidade existente nos habitats anteriores.

O Presidente, os eucaliptos e o regresso aos autos de fé


O técnico superior da então Autoridade Florestal encarregado de fazer a “leitura florestal” do projecto de diploma detectando tão estranha inclusão, comunicou-a à sua hierarquia…e a proposta de revisão do DL 565/99 transformou-se a partir daí num caso político e mediático


– O DL 565/99 de 21 de Dezembro (que lista as espécies animais e vegetais introduzidas – vulgo exóticas – em Portugal e as regras para novas introduções) foi preparado, publicado e recebido pelos diferentes stakeholders do sector florestal (é só sobre este que me pronuncio) como um documento político (afinal é um Decreto-Lei…) alicerçado em judiciosas (e precursoras, na altura) considerações técnicas;

– Continha em si fragilidades inevitáveis (como a de tentar construir listas exaustivas de exóticas e de colocar no mesmo Anexo – embora com um “i” ao lado das primeiras – as espécies invasoras e as não invasoras, de ter um infindável anexo de centenas ou milhares de nomes latinos, etc.) mas era, acima de tudo, uma abordagem “honesta” e sectariamente “desinfectada”;

– Em 2009, sem qualquer consulta ou discussão pública prévias, mesmo no seio da Administração Pública, começou a circular pelos Ministérios, com vista a recolher o OK para subir a Conselho de Secretários de Estado (!), um projecto de DL destinado a substituir aquele, redigido no então ICNB – Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, com o mesmo formato do anterior (anexos finais com milhares de nomes científicos da fauna e da flora);

– O então presidente do Organismo, como qualquer dirigente responsável no exercício das suas funções, leu o projecto de DL e confiou que os milhares (?) de nomes científicos da fauna e da flora constantes das listas anexas, nomeadamente a das espécies invasoras, correspondiam à melhor ciência disponível e tinham obtido o consenso dos especialistas na matéria (já que nada de controverso lhe foi assinalado);

– Acontece que “alguém” (nunca se cuidou de saber quem) colocara naquele “labirinto” de nomes latinos (julgo que eram três ou quatro colunas por página… de muitas páginas) o eucalipto mais comum em Portugal, na lista das espécies invasoras (que o corpo do diploma explicava como erradicar…);

– O técnico superior da então Autoridade Florestal encarregado de fazer a “leitura florestal” do projecto de diploma detectando tão estranha inclusão, comunicou-a à sua hierarquia…e a proposta de revisão do DL 565/99 transformou-se a partir daí num caso político e mediático…;

– Mais de uma dezenas de Professores do ISA – Instituto Superior de Agronomia (onde não estavam todos, obviamente, mas onde figuravam os de melhor ranking internacional em matéria de Silvicultura e Fisiologia Vegetal) subscreveu uma tomada de posição pública denunciando a enormidade do disparate (e a falta de bases científicas para tal inclusão) e o projecto de DL foi recolhido por iniciativa da própria tutela do ICNB;

– Os jornalistas foram então “convenientemente informados” (muito provavelmente pelos autores da inserção capciosa) que a indústria da celulose tinha conseguido bloquear o projecto de DL que colocava o eucalipto como espécie invasora a erradicar (tese que um conhecido “sábio” militante anti-eucalipto viria a recordar oportunisticamente quase dez anos depois num jornal diário);

– Tudo isto pareceu ter sido possível porque na série de livros sobre a Floresta, editada pelo Público em 2007 e coordenada pelo Prof Sande Silva, pela primeira vez, surgiu a “acusação” (sem provas) que o Eucalyptus globulus era “invasor”;

– Esta “tese” – que suscitou, como se disse, reacção imediata no meio académico – limitou-se afinal a dar eco a um projecto financiado pela FCT (liderado pela Profª Helena Freitas da Universidade de Coimbra) através do qual foi criado um site chamado Invaders onde foi colocado o nome do Eucalyptus globulus;

– Acontece que nesse site estava expressamente declarado que a colocação de algumas espécies (flora) nesta lista – não referia quais – resultava da “convicção dos autores e não de quaisquer trabalhos ou provas científicas”. Pode parecer mentira mas é mesmo verdade e eu guardei um print dessa “pérola”…

– A partir daí a confusão instalou-se e no Guia de Campo da Universidade de Coimbra (citando o site Invaders) o eucalipto passou a figurar com a designação de “potencial invasor”, tendo como base a lista do dito site;

– A cereja em cima do bolo para estes “novos Inquisidores” (ainda não sonhavam com o simulacro de auto-de fé recentemente protagonizado pelo Presidente da República!) surgiu quando o Prof David M. Richardson – uma espécie de Papa nestas matérias – escreveu num seu paper que o E.globulus era/tinha sido “apontado em Portugal como invasor” (citando como fonte, obviamente, o acima referido Guia de Campo);

– A partir daí os militantes nacionais anti-eucalipto usaram esta “prova maior” de que o E. globulus era, de facto, invasor…porque estava escrito numa publicação do Prof Richardson !!!! (e não cuidaram nunca de dizer onde ele fora buscar isso…);

– Foi aquilo a que, na pseudociência, se chama de “técnica da citação circular”. Ou seja: Eu digo que “talvez seja”. O sábio sério e preferencialmente estrangeiro que não me conhece, diz que “há quem diga que talvez seja”. Logo, digo eu, “até o sábio sério diz que é”….

 – O assunto passou pois a ser tratado nas piores franjas da “política” e da “ciência”;

– Depois da denúncia desta “citação circular” alguns activistas da “biologia política” anti-eucalipto com mais pudor científico, preferiram reposicionar-se numa atitude ambivalente, dizendo que o eucalipto era “potencialmente invasor” e que “são precisos mais estudos”, aproveitando para acrescentar que o conceito de “invasor” não era assim tão depreciativo e preocupante, chegando mesmo a ouvir-se – pasme-se – numa reunião informal na Academia das Ciências que “invasora, é toda a exótica que regenera” (sic)!

– Numa coisa esses críticos têm razão: o termo “invader” na terminologia científica e na língua inglesa não está associado, como entre nós, ao conceito de “praga” nem à realidade física de uma grande ou maciça ocupação do território (como parece ser o casus belis do eucalipto entre nós);

– Por tudo isto surgiram – bem depois das “certezas” de 2007… – diversas propostas para efectuar mais estudos sobre o tema. Uma das primeiras incluía o convite do Prof Sande Silva à então Portucel Soporcel para se associar e co-financiar um projecto a submeter por ele e pela sua equipa à FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (depois de esta lhe ter chumbado uma anterior tentativa que carecia de parcerias privadas);

– A Administração daquela empresa declinou aquele convite porque, também ela, estava a considerar parcerias com o ISA e com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disponibilizando para tal o seu património e a sua logística;

– As Professoras Otília Correia e Cristina Máguas – nomes muito destacados, nacional e internacionalmente, no estudo e conhecimento das invasoras lenhosas – mostraram-se interessadas no tema e assim surgiu um projecto de quatro anos, co-financiado pela FCT e pela hoje Navigator, no âmbito do programa de “Doutoramentos em Ambiente de Empresa” da FCT;

– Esse doutoramento ficou concluído em 2016 – já depois de ter saído clara e inequívoca regulamentação da União Europeia sobre “espécies invasoras” – e deu origem a vários papers publicados nas revistas científicas de referência;

– A defesa dessa tese foi feita perante um júri “insuspeito” onde aceitaram figurar o “famoso” e atrás citado Prof David Richardson, o Prof Sande Silva, a Prof Helena Freitas e o Prof. Paulo Fernandes, entre outros,… e a Doutoranda foi aprovada por unanimidade e com distinção;

– Acontece que nesse doutoramento (que comparava a intensidade e o sucesso da regeneração natural por semente do eucalipto e do pinheiro bravo) ficou clara – como se fosse necessária – i)a definição inequívoca de “espécie invasora”(*) (que nada tem a ver com o sentido que lhe dão os mediáticos militantes anti-eucalipto), ii) que a regeneração natural por semente do pinheiro bravo era/é bastante mais abundante, duradoura e de maior alcance espacial que a do eucalipto (cuja larga maioria das plântulas – sob as copas – não sobrevive) e – muito importante – iii) que a falta de gestão de ambas as espécies (cultivadas) deveria ser contrariada e penalizada, de forma a evitar efeitos físicos (fogos e sobrelotação dos povoamentos pré-existentes), biológicos (pragas e doenças) e económicos (perda de rendibilidade) técnica e socialmente indesejáveis;

– Ou seja, mais um trabalho científico que reforçou a necessidade absoluta (de há muito repetida) de existir uma política florestal responsável e efectiva em Portugal, nomeadamente com base neste e noutros trabalhos a desenvolver;

-Em nenhum caso, literatura ou pedagogia (aqui ou no estrangeiro) se viu ou sugeriu que um Presidente da República avançasse com uma turba mediática sobre um qualquer terreno (privado? com autorização do dono?) arrancando plantas ou plântulas com escassa esperança de vida e nenhuma perigosidade, sem uma explicação (pedagógica e não populista, como foi o acto em si) à população que o elegeu e às centenas de milhares de portugueses que são donos de eucaliptos;

– O que fica subjacente a mais este lamentável “episódio florestal” do Presidente da República (para pouca sorte dele – e nossa – não foi o primeiro nem o segundo…) é que afinal os autos de fé aos eucaliptos (arrancando-os a eito, especialmente quando as raízes o permitirem, isto é, mesmo no caso de recentes plantações ordenadas ou, pura e simplesmente, deitando-lhes fogo, coisa em que por cá se pratica com frequência) têm o beneplácito da veneranda figura do mais alto magistrado da Nação (em quem votei, aliás) que encorajou expressamente os portugueses a fazerem como ele…

Triste sina a nossa…hoje os eucaliptos, porque sim…amanhã outra qualquer coisa que o populismo “exija”… e tudo porque, pura e simplesmente, as pessoas em causa se recusam a sujeitar-se ao contraditório de boa fé.

                                                                     Lisboa, 18 de Outubro de 2018

 

(*) Definição de espécie invasora: Uma espécie invasora é aquela que regenera natural e abundantemente e com sucesso (quanto à taxa de sobrevivência das plântulas germinadas) em paragens distantes dos limites geográficos do seu povoamento de origem, gerando condições nos habitats envolventes que tornam inviáveis (muitas vezes de forma irreversível) a manutenção da biodiversidade existente nos habitats anteriores.