Pedrógão. Autarca afirma que não houve “ilegalidade nenhuma” na reconstrução das casas

Pedrógão. Autarca afirma que não houve “ilegalidade nenhuma” na reconstrução das casas


Em dia de reunião extraordinária da assembleia municipal, Valdemar Alves rejeitou responsabilidades apontadas à autarquia no processo de recuperação de casas


Depois das denúncias de fraude na atribuição dos subsídios destinados à recuperação das casas destruídas pelo incêndio de Pedrógão Grande, a autarquia decidiu realizar ontem uma reunião extraordinária da assembleia municipal, ao final da tarde, para analisar a aplicação dos fundos. Na reunião, o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, reiterou que “não foi reconstruída nenhuma casa que não tivesse ardido” e que “todas as primeiras habitações afetadas ou estão já reconstruídas ou em fase final de reconstrução”. E descartou toda e qualquer responsabilidade na demora das empreitadas: “Não tem o município nenhuma, sublinho, nenhuma responsabilidade por atrasos na execução das obras.”

Numa reunião com casa cheia, realizada no auditório da Casa Municipal da Cultura, Valdemar Alves deixou a garantia de que o Fundo Revita – criado pelo governo para apoiar as populações afetadas pelos incêndios de junho de 2017 e que recebeu donativos em dinheiro, bens e prestação de serviços de 61 entidades – “não deu dinheiro diretamente a ninguém para reconstruir as suas casas”: “Todas as quantias foram libertadas à exata medida em que iam sendo executadas as obras.” O autarca assegurou ainda que “sempre que estavam em causa verbas do Fundo Revita, o contrato para a reabilitação/reconstrução das habitações era feito entre as famílias e as empresas construtoras”.

Aos jornalistas, antes do início da sessão pública, Valdemar Alves disse não haver “ilegalidade nenhuma no processo” nem na forma como o conduziu. O autarca assumiu, ainda assim, a possibilidade de terem existido algumas irregularidades “na entrega ou não de um documento ou problemas com o número de contribuinte”, defendendo que “não é por aí que se vai às fraudes e essas coisas”. 

“Não houve desvios nenhuns nem podia haver, porque a câmara não é detentora de fundos nenhuns para a reconstrução das casas”, continuou, explicando que a autarquia apoiava “a logística”.

Questionado sobre o processo de validação, o autarca de Pedrógão Grande qualificou as notícias que têm vindo a público como “falsas, completamente falsas”. Segundo Valdemar Alves, as casas cuja reconstrução foi financiada pelo Fundo Revita são “de primeira habitação”. 

“Agora vêm às câmaras de televisão e dizem: ‘Aquela era de segunda.’ Entregou os documentos em como era de primeira habitação, declaração a garantir que era habitação permanente e, a partir daí, as casas que foram requeridas para reconstrução são, para mim, de primeira habitação.”

Durante a tarde, num comunicado enviado às redações, a autarquia informou que Valdemar Alves iria assinar a “Petição contra a fraude nos apoios a Pedrógão Grande”, lançada pelo movimento Democracia 21, que anunciou uma ação de recolha de assinaturas em Pedrógão Grande à hora da reunião.

A manifestação de cidadãos anunciada no Facebook com o objetivo de “exigir a demissão do executivo camarário face às evidências de compadrio e de desrespeito pelas mais vulneráveis e indefesas vítimas dos incêndios”, com hora marcada também para o período em que decorria a reunião, não chegou a realizar-se.

Ao fim de mais de três horas de reunião persistiram dúvidas e foi notório, entre os presentes, um sentimento de descontentamento. Os deputados, por sua vez, pediram um esclarecimento da situação, algo que está agora nas mãos do Ministério Público.