Ergueu-se no ar, e nessa fração de segundo que levou o erguer-se no ar e ficar por lá, como que planando sobre o vazio, tudo aconteceu: desde o vento a bater-lhe no corpo, cabeça, dorso e pernas e pés, ao sol que lhe aqueceu as costas, fazia por mergulhar virado para o sol, à água que lhe tocou primeiro nas pontas dos dedos das mãos, ou terão sido as pontas dos dedos das mãos a tocar primeiro na água?, e depois nos braços, entrando de seguida pela cabeça e pelo peito, costas, e pelas pernas, encharcando-as, os pés ainda secos, e depois também molhados, o corpo todo, inteiro, dentro de água, um pequeno splash, a espuma que pouco se viu, os dedos das mãos a tocarem agora no fundo do mar, areia macia que parece ouro em pó a mover–se com o passar, o simples passar do corpo de quem mergulha, o corpo que se dobrou num golpe de rins quando se encontrava ainda no ar e que se dobra novamente debaixo de água, que se ergue e que sobe; expira, vê a luz por cima da água, sai lá de dentro cá para fora, inspira, a água que escorre no rosto, os olhos que se abrem, o vento que corre, parecia ter parado mas corre, continuou a correr, sempre correu. Dez anos mais novo. Quem salta regressa assim: dez anos mais novo num mergulho de cabeça no mar que demora uma fração de segundo.
Advogado
Escreve à quinta-feira