Angela Merkel pode não sobreviver a mais uma crise política dentro do seu governo. Em causa, o seu ministro do Interior, Horst Seehofer, que exige que a Alemanha recuse a entrada aos migrantes já registados noutros Estados da União Europeia. Seehofer é o líder da CSU, partido correspondente à CDU na Baviera e seu tradicional aliado natural no governo federal, pelo que as suas exigências poderão ser fatais para Merkel. A chanceler procura agora uma solução à escala europeia, não escondendo que depende mais da União Europeia que dos partidos alemães.
Não deixa de ser irónico que a mulher que salvou o euro (pelo menos até à próxima crise, que talvez já não seja só monetária), que foi acusada de frieza e calculismo possa cair devido à resposta humana que evidenciou na crise dos refugiados que tem assolado a Europa.
Mas é precisamente este facto que deveria fazer pensar todos os que, sem qualquer rigor e isenção, acusaram Merkel de ser o que não era apenas porque não partilhavam das suas opiniões económicas. A chanceler alemã é um dos dois pilares da União Europeia que restam (o outro é Emmanuel Macron). Sem a UE, os países europeus ficarão entregues a políticos demagogos e extremistas que acusarão tudo e todos, menos eles, dos males do mundo. A crise da austeridade será uma brincadeira de crianças até porque não haverá moeda única para controlar a inflação.
A queda da UE, ou a sua transformação noutra coisa qualquer que deixe de ser o que é, é o sonho das forças políticas mais extremistas. Catarina Martins, Jerónimo de Sousa, Marine Le Pen, Jeremy Corbyn, Pablo Iglesias, Alexis Tsipras ou Alexander Gauland não se diferenciam na oposição a Merkel nem se diferenciam no que pretendem da UE. Muitos dos eleitores que criticaram Merkel fizeram-no sem saber porquê e sem se preocuparem com as consequências. Serão os primeiros a sentir saudades da chanceler alemã. O arrependimento virá depois. E, como é habitual, demasiado tarde.
Advogado
Escreve à quinta-feira