Escrevo sobre o regresso de Passos Coelho dias depois de este se ter ido embora porque é uma das leituras possíveis do seu discurso no último congresso do PSD. Passos saiu, mas também nunca disse que não voltava. E isto, vindo de um ex-primeiro-ministro que não escondeu essa condição, é muito.
Estou certo que, a esta hora, o leitor já me apelidou de passista, “coisa” que não sou, pois nunca fiz parte de listas partidárias nem ocupei cargos e funções ou assumi sequer qualquer papel nas políticas que Passos Coelho conduziu. Sou apenas um cidadão que escreve e tem uma opinião sobre o que se passou nos últimos anos e vai acontecer nos próximos. O meu interesse é o da mera pessoa que quer viver melhor num país melhor. Pode ser raro, mas ainda existe.
No seu discurso de despedida, Passos Coelho recordou a quase bancarrota em que o PS deixou o país, apontou o dedo aos seus responsáveis que voltaram ao governo como se não fosse nada com eles, alertou para a propaganda da geringonça, que é tão difícil de desmontar, e referiu a importância da coligação com o CDS, porque só com o CDS a direita regressa ao governo, com políticas reformistas. Por fim, despediu-se recordando aos que estavam no congresso, Rui Rio incluído, que ele era, sempre seria, um ex-primeiro-ministro que venceu as eleições e que só não continuou porque as suas reformas foram demasiado ousadas para a extrema-esquerda e este PS poderem tolerá-las.
Quando a crise regressar – e vai regressar porque o crescimento económico resulta das políticas do governo PSD/CDS que não estão a ser aprofundadas e duma conjuntura internacional que não vai perdurar -, Passos Coelho será a figura para que todos olharão. Será muito difícil a um dirigente do PSD, sem provas dadas no governo nem vitórias eleitorais equiparadas às de Passos Coelho, resistir à vontade deste de regressar à política.
A força de atração de um político com o percurso como o de Passos Coelho impossibilitará o futuro de Rui Rio ou de qualquer outro que surja. Enquanto a economia continuar a ajudar este PS, enquanto a extrema-esquerda hipocritamente se contentar com a desqualificação laboral a que se assiste, o PSD será a oposição respeitosa – Belém apelidá-la-á de responsável -, mas logo que o vento mude, a credibilidade de quem pactuou com os “donos disto tudo” será nula. Passos saiu para não se agastar e, quando for preciso, regressa.
Advogado
Escreve à quinta-feira