Perspetivas para as redes de 5ª geração dos telemóveis

Perspetivas para as redes de 5ª geração dos telemóveis


A 5ª geração implementa nas redes de telecomunicações algo que é conhecido nos computadores hoje em dia: ter dois sistemas operativos a correr num mesmo equipamento, como é caso de utilizadores que possuem um Apple Mac (com o macOS) e instalam também o Windows


O desenvolvimento da 5ª geração (5G) de comunicações móveis está em velocidade de cruzeiro, sendo realista esperar que as primeiras redes comerciais sejam disponibilizadas a partir de 2020. Muitos dos novos desenvolvimentos ocorrerão ao nível da rede, ou seja, não serão diretamente percetíveis pelos utilizadores, embora as suas consequências o sejam. Por outras palavras, para que o utilizador tenha acesso a comunicações “mais evoluídas”, a maneira como a informação é processada e transportada tem que ser modificada, devido a limitações na atual 4ª geração. Essa evolução passa pela transmissão de dados com velocidade maior e atraso menor, e pela inclusão de dezenas de dispositivos na sua rede pessoal, entre outras. Três tecnologias são essenciais para permitir que esta evolução se concretize: virtualização, “nuvemização”, e canais adaptativos.

A virtualização das redes permite que um operador de telecomunicação partilhe a sua rede, e a infraestrutura que a suporta, com outras empresas. Basicamente, esta tecnologia implementa nas redes de telecomunicações algo que é conhecido nos computadores hoje em dia: ter dois sistemas operativos a correr num mesmo equipamento, como é caso de utilizadores que possuem um Apple Mac (com o macOS) e instalam também o Windows. A virtualização possibilita assim que um operador de telecomunicações possa alugar capacidade da sua rede a outras empresas que desejem fornecer serviços de telecomunicações específicos, sem possuir rede própria. Como exemplo, pode referir-se uma empresa de distribuição de energia elétrica (para transmitir as leituras de consumos em tempo real), ou uma empresa de jogos (para possibilitar jogos interativos entre utilizadores em locais diferentes de modo ainda “mais instantâneo”).

A “nuvemização” (confesso que não sei traduzir de modo melhor o termo inglês de “cloudification”) tem também origem nos computadores (“cloud computing”). Neste caso, a estrutura da rede é modificada para que muitas das funções de processamento e transporte da informação e de gestão da rede sejam realizadas em centros de dados (similares aos usados pela Google), que podem ser centrais ou distribuídos. É portanto o equivalente ao que os utilizadores conhecem com a colocação de ficheiros em servidores na “nuvem”, para partilha ou armazenamento de informação. Com a “nuvemização”, os operadores de telecomunicações poderão ter redes mais eficientes em termos de custos de instalação e manutenção, e ainda fornecer serviços de armazenamento de informação que conduzem a velocidades de transmissão maior e atrasos menores.

Os canais correspondem à entidade base da rede que transporta a informação entre o telemóvel e a rede; o canal base significa que um utilizador está a usar um canal de dimensão fixa e com uma certa duração, mesmo que a transmissão da sua informação termine antes de terminar essa duração, o que é pouco eficiente. Ter canais adaptativos (o que já existe atualmente, mas com menos eficiência) significa que a rede pode adaptar a dimensão e a duração do canal ao tipo de informação. O canal vai distinguir de modo muito eficiente uma chamada de voz da visualização de um vídeo (que ocupa mais recursos) ao ajustar a sua dimensão em tempo real, em vez de usar dimensões grandes para todos os serviços (o que constitui um desperdício para os serviços que não necessitam de tantos recursos). Adicionalmente, a duração do canal base vai ser estabelecida com intervalos de tempo mais pequenos: atualmente a duração é de 1 milissegundo, pretendendo baixar-se para 0,1 milissegundo; o primeiro pode parecer já muito pouco, mas na transmissão de dados quando se fala de velocidades de Gigabit por segundo, essa duração é crucial.

Sei que o texto hoje é “demasiado tecnológico”, mas espero que permita perceber melhor algumas das tecnologias que se avizinham com o 5G, para podermos fazer maravilhas com os telemóveis.

Instituto Superior Técnico, miguelprazeres@tecnico.ulisboa.pt